Conforme o Atlas Mundial da Obesidade 2025, aproximadamente um a cada três brasileiros vive com esta doença. E com um agravante: essa porcentagem tende a crescer nos próximos cinco anos. Além disso, cerca da metade da população adulta do país não pratica atividade física na frequência e intensidade recomendadas. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) avalia que o distúrbio mais do que dobrou entre adultos, desde 1990, e quadruplicou entre crianças e adolescentes, de 5 a 19 anos de idade. Em 2022, 43% dos indivíduos em idade adulta estavam acima do peso. Para compreender este cenário, o Blog Saúde Você conversou com a Dra. Diane Moreira do Nascimento, chefe médica do Saúde Plena Moinhos do Hospital Moinhos de Vento.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - Sim. A obesidade, além de ser um fator de risco para outras doenças, é hoje vista como uma enfermidade, causada por fatores genéticos, ambientais e hábitos de vida. Os pilares para a prevenção e para o tratamento da obesidade envolvem cinco princípios fundamentais:
- Alimentação saudável;
- Hidratação adequada;
- Prática de atividade física regular;
- Bons hábitos de sono;
- Manejo do estresse.
Nas últimas décadas, a mudança no padrão de vida da sociedade fez com que as famílias tenham menos:
- Tempo destinado às refeições e ao preparo dos alimentos, gerando um consumo de comidas ultraprocessadas, do tipo fast-food;
- Atividades ao ar livre, em função do crescimento da violência;
- Refeições em família;
- Horas de sono.
Tudo isto gera um aumento exponencial dos problemas de saúde mental, em especial, da ansiedade e da depressão. Ambas, associadas ao aumento do consumo de alimentos altamente palatáveis (como doces, refrigerantes e frituras), também contribuem para o aumento da obesidade.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - Com certeza. A OMS define o sedentarismo como a ausência de, no mínimo, 150 minutos de atividades físicas (de leves a moderadas) por semana. Esta medida é considerada como o ponto de partida necessário para a prevenção do diabetes e de doenças cardiovasculares, como infarto, hipertensão e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Além disso, para a prevenção ou tratamento da obesidade é necessário o equilíbrio (ou um balanço negativo) entre o volume de calorias ingeridas e o gasto obtido a partir da movimentação corporal e da atividade física. A musculação permite a preservação e o ganho de massa muscular, fundamentais especialmente durante o uso de medicamentos para perda de peso, permitindo que esta seja eminentemente composta por gordura corporal.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - O cenário é preocupante por diferentes motivos. Além das doenças já citadas, a obesidade é um fator de risco para muitas neoplasias e está diretamente relacionada à perda da qualidade e da expectativa de vida e com o aumento dos anos vividos com incapacidade; com impactos econômicos para toda a sociedade.
Nos últimos anos, a prática de atividade física ganhou popularidade e passou a fazer parte da rotina de muitas famílias, mas ainda permanece atrelada a custos e à necessidade de um ambiente seguro para a sua prática.
Ademais, ainda existe uma importância cultural e emocional do alimento, frequentemente associado a momentos de encontro com a família e amigos e a comemorações, perpetuando hábitos alimentares associados aos piores desfechos em saúde.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - A reversão do quadro depende da mudança de hábitos e do acesso a tratamentos de saúde. A primeira necessita da adoção de medidas individuais e coletivas, direcionadas à criação de um ambiente propício para bons hábitos. Como exemplos: celebrações apenas com alimentos saudáveis e grupos de corrida e de atividades físicas organizados por instituições.
Outra vertente importante é o acesso dos pacientes obesos (ou com risco de obesidade) a atendimentos de saúde habilitados ao cuidado com excelência técnica, com avaliação médica e nutricional.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - Recomendo:
Dra. Diane Moreira do Nascimento - As mudanças mais importantes e duradouras relacionadas ao tratamento da obesidade envolvem mudanças em direção à adoção de hábitos mais saudáveis de vida. Sabe-se que a incorporação de um novo hábito à rotina pode levar entre 18 e 254 dias, então, a persistência é a principal chave.
Para o início de alguma atividade física, é preciso estipular metas objetivas, de curto prazo, com detalhamento de frequência, tipo de atividade e tempo/momento do dia para a realização. Isto aumenta a concretização do plano. Por exemplo: nas segundas, quartas e sextas-feiras, ao chegar em casa, fazer uma caminhada dando três voltas na quadra.
Com a definição de metas objetivas e factíveis a pessoa aumenta a percepção de autoeficácia, aumentando a chance de incorporação do novo hábito.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - O primeiro passo para o início do tratamento da obesidade é a percepção do paciente acerca do problema e seu comprometimento na resolução, muitas vezes obtidos a partir da sinalização feita pelo profissional da Saúde sobre as situações em que a doença representa um risco à vida, mantendo uma posição empática e livre de preconceitos.
Os médicos e nutricionistas costumam ser os pilares fundamentais neste tratamento, envolvendo endocrinologistas, médicos clínicos e médicos de família e comunidade, cardiologistas ou outras especialidades de acompanhamento longitudinal do paciente. O acompanhamento psicológico e psiquiátrico é fundamental quando o hábito de comer está associado a sintomas de ansiedade (chamado comer emocional) ou quando sinais de ansiedade e depressão contribuem para a manutenção de hábitos de vida menos saudáveis.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - O Hospital Moinhos de Vento dispõe de um Centro de Obesidade, destinado ao tratamento de pacientes com sobrepeso ou obesidade de qualquer grau. O objetivo do Centro é promover um atendimento integrado, contando com médicos endocrinologistas e nutricionistas especialistas em obesidade, oferecendo tratamento não-medicamentoso (com orientações alimentares, de atividade física e de estilo de vida), medicamentoso e com indicação de cirurgia, quando necessário.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - A medicação é frequentemente parte importante do tratamento, tendo evoluído de maneira significativa ao longo dos últimos cinco anos. Hoje, estão disponíveis medicamentos que atingem reduções de peso antes atingíveis apenas com a cirurgia bariátrica. Ozempic, Wegovy, Saxenda e Monjuaro são algumas destas medicações, cuja indicação deve ser feita, obrigatoriamente, em consulta médica.
Os medicamentos atuam sempre como adjuvantes às medidas de reorganização do esquema alimentar e da prática de atividade física regular, sendo indicados, principalmente, quando existem doenças que precisam ser tratadas em conjunto à obesidade (como diabetes, por exemplo) e quando o componente emocional da alimentação é um fator limitante à perda de peso.
Dra. Diane Moreira do Nascimento - A gravidade da obesidade está relacionada a sua interferência no desenvolvimento de diferentes doenças e pelos prejuízos a curto, médio e longo prazo na qualidade de vida dos pacientes. Em resumo, cuidar da saúde envolve alimentar-se de forma saudável e manter-se fisicamente ativo, visando um envelhecimento com mais saúde, autonomia e bem-estar.
Fonte: Dra. Diane Moreira do Nascimento (CREMERS 38751) é chefe médica do Saúde Plena do Hospital Moinhos de Vento.