A cantora Preta Gil, de 50 anos, foi diagnosticada com câncer colorretal em 2023 e segue em tratamento, falando abertamente sobre a doença com seus fãs e seguidores. Atualmente, chama a atenção que esta enfermidade está acometendo pacientes cada vez mais jovens, na faixa etária da artista. Mas quais são os sintomas do câncer colorretal? Quem tem mais chances de desenvolvê-lo? Como preveni-lo? Para explicar sobre este assunto, o Blog Saúde e Você entrevistou o Dr. Fernando Herz Wolff, chefe do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Moinhos de Vento.
O senhor concorda que o câncer colorretal está acometendo pacientes cada vez mais jovens?
Dr. Fernando Herz Wolff - O envelhecimento é um importante fator de risco para o câncer do intestino grosso e do reto e, a maioria dos casos, segue ocorrendo a partir dos 50 anos de idade. Entretanto, existe, sim, uma tendência em várias partes do mundo de aumento no número de casos em pacientes jovens (abaixo dos 50 anos). E este é o principal motivo pelo qual importantes entidades nacionais e internacionais mudaram as recomendações para a prevenção deste câncer, adiantando a idade de início da colonoscopia dos 50 anos para os 45 anos em caucasianos (brancos) e de 45 para 40 anos em afrodescendentes (negros). Estas idades de início se aplicam às pessoas em geral, ou seja, sem outros fatores ou sinais de alerta que indiquem a necessidade de começar ainda mais cedo.
Fatores genéticos podem contribuir para este cenário?
Dr. Fernando Herz Wolff - Certamente, a genética é decisiva no aparecimento do câncer colorretal em pacientes jovens. Estima-se que cerca de um terço dos casos de câncer colorretal em jovens esteja associado a síndromes genéticas específicas, como, por exemplo, a Síndrome de Lynch e a Polipose Adenomatosa Familiar. Esta proporção é superior àquela dos pacientes acima de 50 anos, porém, ainda permanece uma grande parcela de casos que consideramos aleatórios, ou seja, que ocorrem em indivíduos sem síndromes genéticas identificadas.
A ocorrência de câncer em outro órgão deve ser um sinal de alerta para a avaliação mais detalhada quanto à presença de risco genético aumentado para o câncer colorretal. A ampliação da disponibilidade de painéis genéticos tem permitido que estes indivíduos (com risco aumentado) sejam identificados cada vez mais cedo, e, assim, iniciem antes o rastreamento.
E o que mais pode influenciar para o aparecimento desta doença?
Dr. Fernando Herz Wolff - Algumas condições de saúde e hábitos de vida (ou vícios) estão associados a um aumento de risco, tais como: excesso de peso, diabetes, resistência insulínica, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e alto consumo de carne vermelha e gorduras saturadas. Acredita-se que a esteatose (ou gordura no fígado) - por indicar pessoas com alteração metabólica crônica -, também possa estar associada a um aumento do risco do câncer colorretal.
Além disso, portadores de doenças como Retocolite Ulcerativa e a Colangite Esclerosante Primária estão em risco aumentado e devem realizar um programa especial de prevenção.
Quais são os principais sintomas do câncer colorretal?
Dr. Fernando Herz Wolff - O sintoma que deve ser considerado um alerta em qualquer pessoa é o sangramento anal. Indivíduos com este sinal devem ser avaliados pelo médico. Ainda que a maioria dos casos sejam de doenças comuns e benignas, como as hemorróidas e a fissura anal, qualquer sangramento anal deve ser valorizado e avaliado. Não se deve esperar até um novo sangramento para procurar atendimento, já que podemos estar perdendo uma chance de diagnóstico mais precoce.
Também devem chamar a atenção mudanças no funcionamento do intestino, ou seja, a pessoa tem uma forma de evacuar já conhecida dela mesma, com evacuações diárias ou não, e ela nota que passou a ter evacuações mais ou menos frequentes, sem uma mudança de dieta ou hábitos que justifiquem. De uma hora para outra, o intestino começa a funcionar diferente. Isto deve ser avaliado pelo médico, que vai ver se aquilo é pertinente e se merece uma investigação complementar. Outros sintomas como dor abdominal e distensão abdominal (inchaço na barriga) são sinais menos específicos, mas que, se persistentes, merecem avaliação.
Qual é a importância de investigar uma anemia?
Dr. Fernando Herz Wolff - O surgimento de anemia pode indicar perda de sangue pelo intestino, e, portanto, é um importante sinal de alerta e deve ser investigado. Existem inúmeras causas de sangramento pelo trato digestivo que podem resultar em anemia e também existem outras tantas causas de anemia relacionadas a doenças hematológicas (do sangue), mas o câncer colorretal precisa ser excluído quando a causa suspeita da anemia for a perda pelo trato digestivo.
O que é o exame de colonoscopia? Ele contribui para o diagnóstico precoce?
Dr. Fernando Herz Wolff - A colonoscopia consiste na introdução por via retal de um tubo flexível com uma câmera de alta definição que permite o exame de todo intestino grosso e reto, e, assim, a identificação de lesões que são a origem da quase totalidade dos casos de câncer colorretal. Estas lesões benignas são chamadas pólipos e podem ser semelhantes a uma verruga, cogumelo ou mesmo ser planas. Ao serem identificadas e removidas durante o próprio procedimento de colonoscopia consegue-se evitar a progressão delas para o câncer. A colonoscopia é feita sob sedação, de forma que o paciente não sinta qualquer dor ou desconforto durante o procedimento.
De que forma o Hospital Moinhos pode contribuir com o paciente que tem esta enfermidade?
Dr. Fernando Herz Wolff - O Hospital Moinhos de Vento, além de contar com equipamentos de última geração para realização de colonoscopia, conta com um grupo de profissionais altamente qualificados, capazes de realizar os exames com o tempo e atenção necessários para identificação e tratamento das lesões colorretais.
Além disso, o Hospital adotou há vários anos a discussão multidisciplinar de casos de câncer do trato gastrointestinal. Assim, sem revelar o nome dos pacientes, são discutidos semanalmente em um “board” os casos de câncer colorretal da instituição. Nesta reunião, o grupo formado por oncologistas, cirurgiões oncológicos, gastroenterologistas, coloproctologistas, radioterapeutas, radiologistas, patologistas, entre outros, discutem as melhores condutas, caso a caso.
O Hospital tem à disposição o que há de mais avançado no Brasil e no mundo para tratamento do câncer colorretal. As mesmas medicações, as formas de tratar, as tecnologias cirúrgicas e clínicas que se dispõem em qualquer lugar do mundo, o Moinhos tem para oferecer. Além disso, a equipe médica tem acesso a pesquisas e estudos clínicos internacionais, de forma que, em casos selecionados, quando os tratamentos convencionais não são uma opção satisfatória, podemos recorrer a protocolos e medicações experimentais que podem contribuir com o paciente.
Qual é a mensagem que o senhor gostaria de deixar aos nossos leitores?
Dr. Fernando Herz Wolff - A mensagem que eu gostaria de deixar para os leitores é que, realmente, façam a prevenção do que é possível prevenir. Os hábitos de vida saudáveis devem ser incorporados no nosso dia a dia. Isto vai desde não fumar, controlar o peso, reduzir ou minimizar o consumo de álcool, fazer atividade física e ter um médico a quem possa perguntar: o que eu devo fazer de prevenção na minha idade?
Em relação ao câncer de intestino, já se sabe que toda a população deve fazer colonoscopia. Aos 45 anos (brancos) e aos 40 anos (negros). Está comprovado que ela é capaz de diminuir a ocorrência deste tipo de doença. O primeiro exame, inclusive, é o mais importante, pois vai determinar se a pessoa vai repeti-lo a cada três, cinco, sete ou dez anos.
Destaco que hoje os métodos de preparo e a técnica do exame estão melhores do que já foram no passado. Então, o exame não é nada apavorante, como algumas pessoas temem. Atualmente, o paciente vem com o preparo do intestino feito (ou faz o preparo no próprio Hospital), realiza o exame monitorado todo tempo pelo anestesista e dorme por cerca de 30 a 40 minutos, durante a sua realização. Depois, acorda e, já sentindo-se bem, descansa mais cerca de 30 minutos na sala de recuperação. Ao despertar, recebe algo para beber e comer e, em seguida, já pode sair do Moinhos com a prevenção feita.
Fonte: Dr. Fernando Herz Wolff (CRM-RS 24476) é chefe do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Moinhos de Vento.