De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as dores de cabeça recorrentes são um dos distúrbios mais comuns do sistema nervoso, sendo dolorosos e muitas vezes incapacitantes. Apesar das variações regionais, as também chamadas cefaleias são consideradas um problema global, que afeta pessoas de todas as idades, raças, níveis de renda e áreas geográficas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que metade dos adultos tenham sentido os seus sintomas, pelo menos uma vez, no último ano. Já a enxaqueca crônica, que ocorre durante quinze dias ou mais - a cada mês - afeta até 4% deste contingente.

Para esclarecer este assunto, o Blog Saúde e Você conversou com o Dr. Fernando Kowacs, médico neurologista do Hospital Moinhos de Vento. Acompanhe, abaixo:

Qual é a diferença entre a cefaleia, a dor de cabeça e a enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - Cefaleia é, simplesmente, um sinônimo de dor de cabeça. Enquanto que a enxaqueca - também chamada pelos médicos de migrânea - é uma doença neurológica que se caracteriza por crises recorrentes de cefaleia, acompanhadas por uma série de outros sintomas. Então, na enxaqueca nós temos dor de cabeça ou cefaleia. Mas nem toda cefaleia é enxaqueca.

Como é feito o diagnóstico da enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - O diagnóstico da enxaqueca é clínico. Ou seja, o que vai confirmar que um paciente tem enxaqueca é a história das crises e como elas evoluíram ao longo do tempo. Assim, também são observados, além das características da dor de cabeça (que geralmente é latejante, de moderada a forte e que piora quando o indivíduo se movimenta), os chamados fenômenos associados, como:

- Náusea e ocorrência de vômitos;

- A intolerância à luz e aos ruídos

- O incômodo em relação aos cheiros, uma vez que até alguns odores, que normalmente não causariam problemas, passam a ser desagradáveis

A duração das crises de enxaqueca costuma ser de quatro horas a três dias, levando até a incapacidade do indivíduo em relação às suas tarefas cotidianas.

O que pode desencadear estas crises de enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - É importante frisar que as crises de enxaqueca podem ser desencadeadas por alguns eventos, como a privação do sono ou um período prolongado sem se alimentar, além do consumo de bebidas alcoólicas, por exemplo. Entretanto, estes gatilhos dependem da pessoa ter a tendência prévia a desenvolver estas crises. E isto é herdado. A enxaqueca hoje é considerada uma doença neurológica de fundo genético.

Quais são os exames necessários para a confirmação do diagnóstico de enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - Eventualmente, no caso de características que não se enquadrem no quadro típico de enxaqueca ou que iniciem muito tarde (uma vez que a enfermidade costuma começar durante as fases da infância/adolescência ou adolescência/adulto jovem), podem ser necessários exames de imagem, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética, para afastar a possibilidade de outras doenças do sistema nervoso. Todavia, normalmente o diagnóstico é feito sem que sejam necessários estes exames.

O que a Medicina oferece atualmente em termos de tratamento?

Dr. Fernando Kowacs - Hoje, existem vários tratamentos, a iniciar pelos medicamentos utilizados quando as crises acontecem, na tentativa de abortar ou reverter a crise. Normalmente, eles devem ser administrados o quanto antes para que tenham um melhor efeito.

O problema surge quando estes episódios se tornam frequentes e o indivíduo toma estas medicações (que podem ser analgésicos comuns, como anti-inflamatórios, ou medicamentos específicos, chamados de triptanos)  em dez ou mais dias  por mês - neste caso, existe uma tendência à cronificação da dor, com um aumento da frequência das crises.

Isto leva ao segundo tipo de tratamento que é o preventivo. Ou seja, a partir de três a quatro crises moderadas por mês, que atrapalham a rotina do paciente, é preciso pensar em tratar preventivamente a enxaqueca, por meio de medicamentos de uso diário. Mais recentemente, foram lançadas medicações injetáveis, com aplicações mensais, que são bastante eficazes e bem toleradas. Na chamada enxaqueca crônica, quando as  crises ocorrem em quinze ou mais dias por mês, também existe a possibilidade do uso da toxina botulínica. Trata-se do mesmo Botox que é usado para procedimentos estéticos, mas utilizado dentro de um protocolo específico, com eficácia demonstrada neste contexto.

De qualquer maneira, se o paciente apresenta crises de dor de cabeça que atrapalham a sua rotina - e elas estão acontecendo mais de três vezes por mês ou se não melhoram com os analgésicos comuns - isto deve ser um motivo para que procure atendimento com a ideia de fazer um tratamento preventivo e evitar a cronificação do problema. 

Qual é o médico indicado para tratar a enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - Quando é preciso iniciar um tratamento preventivo, o paciente não precisa, necessariamente, procurar por um neurologista. Ele pode fazer o tratamento com o seu clínico ou com seu médico de família. No entanto, quando as crises ocorrem na frequência de quinze ou mais vezes por mês, o neurologista é o especialista indicado. Em algumas situações, o paciente necessitará de atendimento multidisciplinar para o tratamento de problemas que possam estar contribuindo para a piora da enxaqueca, como, por exemplo, condições psiquiátricas ou psicológicas, doenças do sono ou outras.  

Como é o atendimento oferecido no Hospital Moinhos de Vento para o tratamento da enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - O Hospital Moinhos de Vento conta com um Ambulatório de Ensino, onde os pacientes são atendidos por médicos residentes do Programa de Residência Médica em Neurologia, supervisionados por neurologistas experientes na área da cefaleia.

O que pode contribuir para a diminuição das crises de enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - Alguns pacientes com enxaqueca podem ter benefícios com a adoção de uma rotina mais regular de sono e de alimentação, ou seja, evitando a privação de sono e a irregularidade (na qual alguns dias a pessoa dorme muito pouco e, em outros, muito) e, também, evitando o jejum prolongado.

Além disso, caso o paciente identifique alguns fatores que possam desencadear as suas crises, estes devem ser evitados. Também já se sabe que a atividade física regular, tanto a aeróbica quanto a musculação, feita de maneira constante, pode ajudar a diminuir a frequência das crises de enxaqueca, tornando-se um possível tratamento de auxílio, junto com o manejo medicamentoso do quadro.

Quais são as suas recomendações finais sobre a enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - A minha recomendação final seria reforçar a mensagem da campanha da Sociedade Brasileira de Cefaleia, salientando que, se a pessoa tem crises recorrentes de dor de cabeça que estão atrapalhando a sua vida, ela não deve minimizar o problema, tomando apenas medicamentos para tratar as crises, sem se importar em fazer um tratamento preventivo. Isto pode privá-la de tratamentos preventivos eficazes, atualmente disponíveis, e acabar levando a uma cronificação do problema.

Fonte: Dr. Fernando Kowacs (CREMERS 16816 RQE 7871) é médico neurologista, além de ser preceptor do Programa de Residência Médica em Neurologia do Hospital Moinhos de Vento.

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