Você sabia que as doenças cardíacas são a principal causa de morte e de distúrbios, tanto no Brasil quanto no mundo, atingindo um terço da população? De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, a cada 90 segundos, uma pessoa morre por doença cardiovascular no país, totalizando 46 óbitos por hora. Por ano, são 400 mil vítimas no Brasil. Entretanto, um percentual expressivo dessas mortes poderia ser evitado com a mudança de comportamentos considerados de risco, como o uso do tabaco, o abuso do álcool, a escolha por dietas não saudáveis, a obesidade e a falta de atividade física.
O que são as doenças cardiovasculares?
Conforme a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças cardiovasculares são um grupo de enfermidades, que podem ser subdivididas em várias outras, entre elas:
- Doença coronariana: afeta os vasos sanguíneos que irrigam o músculo cardíaco;
- Doença cerebrovascular: atinge os vasos sanguíneos que irrigam o cérebro;
- Doença arterial periférica: acomete os vasos sanguíneos que irrigam os membros superiores e inferiores;
- Doença cardíaca reumática: provoca danos no músculo do coração e válvulas cardíacas devido à febre reumática, causada por bactérias estreptocócicas;
- Cardiopatia congênita: são malformações na estrutura do coração existentes desde o momento do nascimento;
- Trombose venosa profunda e embolia pulmonar: são coágulos sanguíneos nas veias das pernas, que podem se desalojar e se mover para o coração e pulmões.
Doenças cardíacas
Como preveni-las? E quais são os fatores de risco?
De acordo com a Dra. Carisi Polanczyk, chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento, é preciso avaliar dois aspectos, pois existe a chamada “prevenção primordial”, que prevê evitar que os fatores de risco para o desenvolvimento das doenças cardíacas se instalem, e a “prevenção primária”, na qual podemos controlar os fatores de risco e evitar que a doença se manifeste, como um infarto do miocárdio ou um acidente vascular cerebral, por exemplo.
Quais são os maiores fatores de risco para o desenvolvimento da doença cardíaca?
Segundo a Dra. Carisi, os fatores de risco de maior importância para o desenvolvimento da doença cardíaca são:
Adicionalmente, podemos mencionar: obesidade, alimentação não saudável, doenças inflamatórias e renais crônicas, ingesta excessiva de álcool, padrão de sono ruim, poluição, falta de atividade física, entre outros.
Como evitar os fatores de risco para as doenças cardíacas?
Segundo a médica, para evitar estes fatores de risco é importante não fumar ou não ser exposto a este risco, preferencialmente na infância e adolescência. “Por este motivo, existe a preocupação com o ‘vape’ (ou cigarro eletrônico) que é outra forma de ingerir nicotina e derivados que também parece estar relacionada com a doença cardíaca”, adverte.
Quem tem maior chance de desenvolver pressão alta?
Já em relação à hipertensão arterial, a chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento garante que, além da predisposição genética, o estilo de vida predispõe ao aumento da pressão arterial, ao longo da vida. “Usualmente, a hipertensão essencial ou primária se estabelece entre os 40 e 50 anos de idade”, esclarece.
A Dra. Carisi observa, ainda, que têm maior chance de desenvolver pressão alta quem tem hábitos de vida não saudáveis. Portanto, é preciso evitar:
- O sedentarismo, que é referente a falta de prática de atividades físicas;
- A obesidade ou o aumento significativo de peso;
- A má alimentação, com a ingestão de grande quantidade de sal nas refeições, ou alimentos processados, tendo como referência consumo ideal de ~5gr/sal por dia;
- O alcoolismo, com o consumo excessivo de álcool.
E o que influencia no surgimento do diabetes mellitus?
O diabetes mellitus (ou tipo 2), que é o mais comum na população, também possui um componente familiar genético. Esta doença está relacionada com o aumento de adiposidade ou gordura visceral no corpo e, igualmente, costuma se desenvolver mais tardiamente, ao longo da vida, estando ligada ao aumento da resistência do organismo à insulina.
“Estes casos também acontecem depois dos 30 ou 40 anos de idade. Geralmente, os pacientes começam com um estágio, dependendo da obesidade ou do peso da pessoa e, ao longo do tempo, vai aparecendo nos seus exames a insulina mais alta. Depois, o paciente começa a necessitar de mais insulina intrínseca para a glicose entrar dentro da célula e esta começa a se tornar mais elevada. E é justamente neste período de aumento de hiperinsulinemia, glicose ainda limítrofe, que podemos atuar para prevenir o desenvolvimento do diabetes mellitus”, afirma a especialista.
Quais são os principais fatores que previnem o diabetes mellitus?
Para driblar o desenvolvimento do diabetes mellitus, a cardiologista recomenda:
- Manter o controle de peso, com Índice de Massa Corporal (IMC) de 25 a 27, no máximo (sendo o ideal ainda mais baixo);
- Realizar a prática de atividades físicas;
- Evitar carboidratos e açúcares;
- Diminuir ou controlar a ingesta de álcool.
Como evitar a dislipidemia?
Por sua vez, a prevenção primordial da dislipidemia também está vinculada a padrões alimentares. Assim, para driblá-la é necessário:
- Reduzir a ingesta de alimentos à base de origem animal, como carnes (principalmente gordas);
- Evitar frituras e produtos industrializados, com quantidades maiores de gordura saturada e gordura trans;
- Preferir alimentos de origem vegetal, frescos, com uma ingesta de 5-6 porções de frutas, verduras e saladas ao dia.
Chance de mudar
Quais são as recomendações para quem ainda não tem doenças cardíacas, apesar de ter os fatores de risco?
Para quem tem todos ou algum desses fatores de risco, mas, felizmente, ainda não possui as doenças do coração estabelecidas (ou seja, não teve infarto ou AVC e não tem insuficiência cardíaca), a recomendação da Dra. Carisi Polanczyk é para que mantenha a saúde controlada:
- A pressão arterial alvo necessita estar abaixo de 130 por 80 mmHg;
- Não deve fumar ou fazer uso de derivados da nicotina;
- Precisa ter um nível de colesterol-LDL baixo (quanto mais baixo melhor e essa ação deve começar cedo na vida).
Dicas valiosas
Dez mandamentos para uma saúde plena
Para finalizar, a Dra. Carisi Polanczyk sugere “Dez Mandamentos” aos nossos leitores, baseada em campanhas anteriores em prol do coração:
1º) É preciso entender que não estamos falando só em “saúde do coração”, mas de uma saúde plena, possibilitando uma maior longevidade com qualidade. Isto porque, os fatores de risco que estão relacionados aos problemas cardíacos também estão relacionados a outras questões de saúde (como pulmonares e neurológicas) e a chance de desenvolver um câncer ou ter problemas hepáticos ou renais. Então, é todo um sistema envolvido no nosso organismo. Junto a tudo isto, também temos que cuidar da saúde mental.
2º) Não fumar: nada de ingesta de derivados de tabaco.
3º) Manter um consumo moderado, reduzido ou nenhuma ingesta de álcool e outras drogas (como estimulantes), que podem estar relacionados com as doenças do coração.
3º) Controlar a pressão arterial sistêmica.
4º) Controlar os níveis de glicemia.
5º) Evitar o diabetes mellitus e, para quem já possui a doença, procurar mantê-la controlada.
6º) Controlar os níveis de colesterol, especialmente o colesterol LDL, e os triglicerídeos, fazendo com que fiquem dentro dos valores considerados normais (ou mais baixos ainda).
7º) Quem tem excesso, precisa reduzir o peso e mantê-lo em níveis menores, especialmente relacionados à gordura visceral (gordura ou cintura abdominal), que tem uma predisposição maior a doenças cardíacas e metabólicas.
8º) Realizar atividades físicas, com exercícios leves, moderados e mais intensos, levando em consideração a aptidão de cada um, além do que gosta e o que quer fazer para não perder o entusiasmo.
9º) Cuidar do rim. A doença renal com uma doença cardíaca é uma combinação muito deletéria e que potencializa possíveis eventos mais graves.
10) Cuidar do sono e dos amigos. Ter uma boa noite de sono, repousante, parece prevenir o desenvolvimento de várias doenças, não só de aspectos cardiológicos, mas neurológicos também. E um outro elemento importante é a questão da saúde mental. É necessário estarmos bem conosco, termos uma rede de relacionamento, de suporte familiar, social, de amizades que ajudem no dia a dia e, eventualmente, colaborem para que possamos transpor os desafios que acontecem na nossa vida.
Fonte: Dra. Carisi Anne Polanczyk (Cremers 19229) é chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Moinhos de Vento.