A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que mais de 50% de todas as medicações são prescritas, dispensadas ou vendidas de forma inadequada. Além disso, metade de todos os pacientes não faz uso dos remédios de forma correta. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), todo medicamento apresenta riscos relacionados ao seu consumo, que deve ser baseado na relação benefício-risco. Ou seja, os benefícios devem superar os riscos associados ao uso do produto. Essa avaliação é realizada a partir de critérios técnico-científicos, de acordo com o paciente e o conhecimento da doença.
Segundo a coordenadora do Serviço de Farmácia do Hospital Moinhos de Vento, Bianca Gubert Borges, tomar medicamentos por conta própria pode parecer uma forma de resolver alguma doença de forma rápida, entretanto, esse ato pode ter consequências nocivas à saúde. “A automedicação pode acarretar o agravamento de doenças prévias, causar reações alérgicas e mascarar sintomas que poderiam auxiliar no diagnóstico correto”, alerta.
Como avaliar estes riscos em meio à maior tragédia climática do Rio Grande do Sul?
“A situação das enchentes no Rio Grande do Sul trouxe à tona o uso profilático de antibióticos para a leptospirose. Quando falamos em antibióticos, os cuidados devem ser redobrados, pois o uso indiscriminado, seja pela escolha do medicamento ou até mesmo pelo tempo de uso, pode contribuir para que outros tratamentos se tornem ineficazes no futuro, gerando impacto na saúde do indivíduo e também na saúde pública”, adverte a coordenadora.
E, mesmo neste cenário, é preciso verificar a validade dos medicamentos?
“Muitas doações de medicamentos foram feitas aos abrigos gaúchos. Muitos deles com prazo de validade bem estreito, o que também pode trazer riscos. O prazo de validade é algo que é determinado após diversos testes em laboratório e serve, justamente, para garantir a disponibilização do medicamento na quantidade certa e no local em que deve agir. Utilizar medicamentos fora do prazo de validade pode ter consequências ruins, seja por toxicidade ou por inefetividade”, garante Bianca Gubert Borges.
Como deve ser feito o descarte?
Conforme a farmacêutica, o descarte deve ser realizado em locais adequados para que o destino final seja realizado com segurança. “Atualmente, diversas farmácias comerciais funcionam como posto de coleta para medicamentos vencidos”, observa.
Como a senhora percebe a automedicação no Brasil? E no RS?
A coordenadora do Serviço de Farmácia do Hospital Moinhos de Vento avalia que o cenário brasileiro e gaúcho não são diferentes do revelado pela OMS. Bianca Gubert Borges analisa que a oferta de itens disponibilizada pela indústria farmacêutica é vasta, a internet disponibiliza informações por vezes incorretas e os balcões de algumas farmácias são convidativos, destoando de um ‘estabelecimento de saúde’.
Está faltando informação aos pacientes?
“Na minha opinião, tudo se resume a comunicação. Os pacientes precisam ser informados, conhecer seus medicamentos e apropriar-se de seus tratamentos, sabendo para que servem as medicações, bem como os impactos do uso inadequado. Eles também devem saber o que é ou não normal sentir quando tomarem os fármacos e terem conhecimento de como descartá-los”, argumenta. “Sugiro que o indivíduo sempre procure a opinião de especialistas, antes de iniciar o uso de qualquer remédio”, recomenda.
Fonte: Bianca Gubert Borges é coordenadora do Serviço de Farmácia do Hospital Moinhos de Vento.