A cantora conhecida como Lexa sensibilizou o país ao divulgar a perda de sua filha recém-nascida, Sofia. A bebê faleceu três dias após o nascimento prematuro. A influenciadora carioca, de 30 anos, agora enfrenta as mudanças no seu corpo e emocionais provocadas pelo puerpério e, recentemente, revelou que sentiu dor de cabeça constante e uma dor de estômago muito forte no final da gravidez. A artista precisou ficar hospitalizada por 17 dias, sendo quatro deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O quadro descrito foi pré-eclâmpsia, mas a imprensa chegou a falar em eclâmpsia e Síndrome HELLP. Para compreender estas diferenças, o Blog Saúde e Você entrevistou o chefe do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Edson Vieira da Cunha Filho.
De forma resumida, o que é e quais são os principais sintomas da pré-eclâmpsia?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - Pré-eclâmpsia (PE) é, por definição, quando a paciente apresenta a pressão elevada com níveis maiores ou iguais a 140/90 e perda de proteína na urina e/ou lesão em algum outro órgão alvo, como rins, fígado, cérebro e sistema de coagulação.
O que a pré-eclâmpsia pode ocasionar às mães?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - Em suas complicações mais graves, a PE pode se apresentar como:
- Síndrome HELLP: um acrônimo correspondente a “H” de Hemólise (destruição dos glóbulos vermelhos), “EL” de elevação de enzimas hepáticas (do inglês “Elevated Liver”) e “LP” de diminuição das plaquetas (também do inglês “Low Platelets”). Na Síndrome HELLP os riscos mais iminentes são a hemorragia, devido à falta de fatores de coagulação e a insuficiência hepática, condições que estão atreladas à elevada mortalidade;
- Eclâmpsia, que, por sua vez, corresponde a um estágio onde a paciente apresenta convulsões generalizadas, correspondendo ao comprometimento cerebral da pré-eclâmpsia. Também apresenta alta taxa de mortalidade, tanto materna quanto fetal.
E o que a pré-eclâmpsia pode ocasionar aos bebês?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - É importante ressaltar que, tanto para a mãe quanto para o filho, os quadros de pré-eclâmpsia (com ou sem as suas complicações) estão atrelados à alta mortalidade. E, para o bebê, está associado a elevados graus de prematuridade e a altas taxas de internação e permanência na UTI neonatal. Além disso, sequelas oriundas da própria prematuridade.
Quais são os principais sintomas?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - Todas essas condições podem ser silenciosas e não apresentarem sintomas, por isso é fundamental a verificação da pressão arterial em toda a consulta pré-natal, pois, se alterada, requer atenção imediata e realização de exames laboratoriais complementares para confirmar a doença.
Alguns sintomas inespecíficos podem estar presentes e requerem atenção, como:
- Dor abdominal (na região do abdômen superior à direita) ou na região da boca do estômago;
- Náuseas e vômitos (principalmente após a segunda metade da gestação);
- Dor de cabeça (especialmente na região posterior);
- Alterações visuais, como visão borrada ou identificação de pontos luminosos.
O que fazer caso a gestante perceba a presença destes sintomas?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - Na presença destes sintomas é fundamental a busca de uma avaliação especializada a fim de que seja descartada a presença de pré-eclâmpsia, Síndrome HELLP ou eclâmpsia.
Quais são os principais fatores de risco?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - Os principais fatores de risco, são:
- Obesidade;
- História pessoal de Hipertensão Arterial;
- Histórico de PE em gestação anterior;
- Doença renal crônica;
- Diabetes tipo 1 ou 2;
- Doenças autoimunes, como lúpus ou síndrome antifosfolipídeo;
- Gemelaridade (ou gravidez de gêmeos);
Pré-eclâmpsia, HELLP e eclâmpsia têm cura?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - A cura da PE, HELLP ou eclâmpsia é o parto. Não existe outro tipo de tratamento que não seja a interrupção da gestação.
E, entre elas, qual é a mais grave? E qual é a mais rara de acontecer?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - No Brasil, a incidência de PE é elevada e chega a cerca de 5-6% de todas as gestações. Condição mais rara, a eclâmpsia está presente em, aproximadamente, 2-3% de todas as PE graves. Síndrome HELLP e eclâmpsia podem apresentar concomitância de até 50% e ambas estão atreladas a uma mortalidade materna e fetal elevadas.
Existe alguma forma de preveni-las, preservando a vida e o bem-estar da gestante e do bebê?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - A prevenção se dá através da identificação de fatores de risco e da prescrição de certas medidas para essas pacientes identificadas como de risco elevado. Estas medidas preventivas são:
- Ingesta diária de ácido acetilsalicílico em dose baixa;
- Suplementação oral de cálcio;
- Prática de exercício físico com duração média de 140 minutos semanais.
Quais são as suas recomendações finais sobre este tema?
Dr. Edson Vieira da Cunha Filho - Para a segurança, tanto materna quanto fetal, é fundamental a realização regular do acompanhamento pré-natal, com verificação da pressão arterial e exames de rotina, além da realização de exames específicos de rastreamento de pré-eclâmpsia quando houver suspeição clínica (ou suspeita do médico).
Fonte: Dr. Edson Vieira da Cunha Filho (CRM 27921) é chefe do Serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital Moinhos de Vento.