Recentemente, foi lançado na Netflix o filme “Joy - The Birth of IVF” (O nascimento da FIV - Fertilização In Vitro). Apesar da trilha sonora leve e envolvente, trata-se de um drama baseado em fatos reais. A película narra os desafios de três profissionais arrojados que desenvolveram a FIV entre as décadas de 1960 e 1970.
O objetivo dos pesquisadores era reverter a infertilidade, - que, na época, era considerada uma doença permanente -, contribuindo para o sonho de ampliar a família. E o desfecho original e cinematográfico não poderia ser mais alegre: o nascimento da primeira bebê de proveta do mundo, batizada de Louise Joy Brown, ocorreu em 25 de julho de 1978, entrando para a história contemporânea. Atualmente, estima-se que mais de dez milhões de crianças nasceram por meio da FIV.
Para compreender a evolução da Fertilização In Vitro no mundo e analisar o comportamento e a aceitação da sociedade sobre o tema, o Blog Saúde e Você conversou com a Dra. Isabel de Almeida, coordenadora técnica do Centro de Fertilidade e Reprodução Assistida do Hospital Moinhos de Vento.
Quando começaram os estudos em relação à FIV?
Dra. Isabel de Almeida - Os estudos experimentais na área da FIV, utilizando pequenos mamíferos (como coelhos ou ratos), tiveram início há muito tempo, ainda na década de 30. Entretanto, foram necessários muitos anos de pesquisa até que, em 1978, na Inglaterra, nascesse o primeiro bebê através da FIV, como nos mostra o filme “Joy”. Esse nascimento somente foi possível pelo trabalho, que durou mais de dez anos, de três pesquisadores incansáveis: o biólogo e fisiologista, Robert Edwards, o obstetra e ginecologista, Patrick Steptoe, e a jovem enfermeira e embriologista, Jean Purdy.
Na sua opinião, quais foram as principais dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores daquela época?
Dra. Isabel de Almeida - Os problemas e as dificuldades que estes pesquisadores enfrentaram foram muitos:
- Econômicos, como a falta de financiamento para seu projeto (o que fez com que tivessem que fazer enormes deslocamentos para poderem trabalhar no laboratório);
- Relativos a questões morais e religiosas;
- Técnicos (relacionados à própria infraestrutura e tecnologia).
A senhora percebe a evolução da Fertilização In Vitro no mundo?
Dra. Isabel de Almeida - Sim. Com certeza. Se compararmos a Fertilização In Vitro de 1978 com o que temos hoje, vemos o quanto evoluímos em pouco mais de 40 anos. Para se ter uma ideia, atualmente:
- As medicações estimuladoras da ovulação permitem um controle muito mais adequado do ciclo ovulatório;
- A ecografia transvaginal é utilizada para avaliar o crescimento dos óvulos e também para puncionar os ovários;
- Os meios de cultura, a qualidade das incubadoras, as técnicas de congelamento de embriões e de transferência embrionária também vêm sendo constantemente aprimoradas.
Como era a realidade da FIV em 1978, quando nasceu o primeiro bebê de proveta do mundo?
Dra. Isabel de Almeida - Sem dúvida, a realidade daquele período era bem diferente, pois, é importante lembrar que, em 1978:
- Não havia ecografia transvaginal para controlar o ciclo ovulatório, somente algumas dosagens de hormônios no sangue;
- A punção dos ovários (para retirar os óvulos) requeria um procedimento cirúrgico com anestesia geral;
- As condições de cultivo embrionário no laboratório eram muito precárias, se comparadas às atuais.
Quais são os grandes avanços tecnológicos disponíveis atualmente na área da FIV?
Dra. Isabel de Almeida - Hoje, no laboratório do Centro de Fertilidade e Reprodução Assistida, do Hospital Moinhos de Vento, contamos com incubadoras “time-lapse”, que permitem avaliar os embriões em tempo real, sem que seja necessário retirá-los da incubadora. Isso traz mais segurança ao processo.
As técnicas de fertilização também foram sendo aprimoradas, principalmente com a introdução da “ICSI”, que é um procedimento onde o embriologista introduz um espermatozoide dentro de cada óvulo, possibilitando que homens com infertilidade grave e poucos espermatozoides também possam ter filhos.
Quais foram os maiores benefícios da Fertilização In Vitro?
Dra. Isabel de Almeida - A Fertilização In Vitro possibilitou que casais inférteis pudessem engravidar, mas, também, desenvolveu outras tecnologias, como:
- O congelamento de óvulos e espermatozoides;
- Diagnósticos genéticos em embriões, para avaliação de desordens genéticas e cromossômicas;
- A gestação para casais homoafetivos;
- Gestações independentes com auxílio de bancos de gametas, entre outras possibilidades.
Em resumo, como a senhora avalia o filme sobre a Fertilização In Vitro?
Dra. Isabel de Almeida - O filme “Joy” é um tributo merecido a três pesquisadores que, mesmo enfrentando enormes sacrifícios e desafios, conseguiram mudar a história da infertilidade no mundo e trazer esperança para milhares de pessoas com dificuldades para gestar.
Hoje, já são mais de dez milhões de bebês nascidos desde a Louise Brown, em 1978, e há muito o que pesquisar. Ainda há muito espaço para evoluirmos e melhorarmos nossos resultados e as nossas taxas de gestação.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 17% da população global enfrenta algum problema de fertilidade e, dentre as principais causas, estão os fatores tubários, a quantidade e a qualidade dos espermatozoides, os fatores hormonais, a endometriose e a idade materna avançada.
Quer saber mais sobre o assunto? Agende uma consulta com a equipe do Centro de Fertilidade e Reprodução Assistida do Hospital Moinhos de Vento, pelos telefones: (51) 3314-3434 ou (51) 3537-8476 e (51) 99896-3090. O endereço fica na Rua Tiradentes, número 333, Bloco B, 5° andar, em Porto Alegre (RS).
Fonte: A Dra. Isabel de Almeida (CRM 16091) é coordenadora técnica do Centro de Fertilidade e Reprodução Assistida e coordena o projeto “Valorize a sua Fertilidade”.