Em meio ao atual contexto de pandemia, o isolamento adotado como medida preventiva ao coronavírus torna-se novo ponto de reflexão quanto a seus possíveis impactos para as crianças. A situação vem se estendendo por mais tempo do que muitas pessoas imaginavam. Desta forma, se amplia o desafio de manter uma rotina saudável e a necessidade de buscar alternativas para o dia a dia da criança. Para contribuir com essas e outras questões, conversamos com o Dr. João Ronaldo Mafalda Kauzer, Chefe da Pediatria do Hospital Moinhos de Vento.

Importância da socialização para a criança pré-escolar

Quando as crianças atingem a idade pré-escolar, a partir de 3 ou 4 anos, a convivência com outras crianças, dessa mesma faixa etária, começa a se tornar mais importante. A escola é um dos principais locais que possibilitam essa interação, ajuda a conhecer pessoas, aprender coisas novas e a brincar. Embora haja debates sobre uma possível liberação do retorno das aulas, mesmo que ainda sem prazo definido, a questão é bastante delicada. “Como essa liberação vai ser conduzida? Como serão mantidas medidas de distanciamento dentro de uma sala de aula? Como serão mantidos os cuidados de uma criança de 4 ou 5 anos de idade, precisando usar máscara facial por período integral? Nunca passamos por uma pandemia de uma forma tão globalizada. Então, temos que entender qual será o melhor momento para essa retomada. Ainda não temos a resposta”, afirma.

Isolamento ainda é a melhor proteção antes da vacina

Para o pediatra, a forma mais segura para que haja uma retomada da vida sem isolamento, dentro do contexto epidemiológico, será quando tivermos uma vacina contra a Covid-19. Antes disso, é preciso avaliar com cuidado maneiras de reduzir os impactos do isolamento com segurança. “Apesar de dados históricos mostrarem que pandemias costumam durar longos períodos, pela inexperiência de vivermos algo assim, nem as famílias e nem mesmo profissionais da área da saúde pensaram que a pandemia pudesse evoluir nesta proporção de tamanho e duração. Dessa forma, observando Porto Alegre, percebemos que o isolamento já não acontece mais da forma como foi preconizado no início”, destaca. O especialista complementa que não é proibitivo às pessoas saírem de casa com os seus filhos, só é preciso buscar alternativas seguras de trazer novidades para o dia a dia da família. Um exemplo, é passear de carro, buscar uma área mais isolada e jogar bola ou praticar outras atividades e brincadeiras ao ar livre.

Cuidados com os hábitos diários

A mudança na rotina não pode ser um pretexto para justificar problemas na alimentação das crianças. Seguir o cronograma das refeições é essencial, além de dar preferência por comidas saudáveis e indicadas para cada faixa etária. “Se não, corremos o risco de trocar uma doença por outra. Sair da Covid-19 e entrar na obesidade infantil, que é bastante preocupante e pode ter associação com diabetes ou aumento de colesterol e triglicerídeos”, pondera. Outra questão que os pais devem observar é o tempo que as crianças, principalmente menores de 10 anos, ficam expostas às telas, seja celulares, tablets ou televisão. O ideal é estabelecer um horário específico para o uso consciente e adequado dos aparelhos.

Lado positivo do isolamento: vivência de momentos únicos com a família

Apesar de todas as dificuldades que uma pandemia traz, é possível perceber um ponto positivo para convívio das famílias: “Nunca os filhos tiveram os pais tão presentes na sua vida como agora e isso faz muita diferença na nossa construção. Rotinas simples, como tomar café da manhã ou almoçar com os pais, ver o filho engatinhar pela primeira vez, ensinar a andar de bicicleta, eram coisas mais difíceis de serem presenciadas devido à rotina de trabalho e compromissos do mundo pré-pandemia, mas que trazem um bem inestimável para o núcleo familiar como um todo”, explica. Essa aproximação dos responsáveis com os filhos pode até contrabalançar, em parte, o fato das crianças não estarem convivendo com os amigos, professores e demais membros da família. “Ter pai e mãe presentes é uma forma da criança se sentir mais segura e receber amor e carinho em tempo integral”, conclui.

Fonte: Dr. João Ronaldo Mafalda Kauzer, Chefe da Pediatria do Hospital Moinhos de Vento.