A doença de Alzheimer é o tipo mais comum de demência. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), pode ser responsável por até 70% dos casos. Mas como saber quais são os sinais iniciais desta patologia? Será que o esquecimento é, mesmo, um fator importante que deve ser considerado? De acordo com o Dr. Wyllians Vendramini Borelli, neurologista e coordenador de Pesquisa do Centro da Memória do Hospital Moinhos de Vento, o Alzheimer pode ser identificado anos antes do aparecimento dos primeiros sintomas.
Como detectar a doença de Alzheimer?
O Dr. Wyllians Vendramini Borelli explica que os sintomas começam de forma muito sutil e vão, progressivamente, aumentando e gerando mais consequências no dia a dia do indivíduo. “Assim, sabemos que comprovadamente a doença pode - e deve - ser diagnosticada o quanto antes, para criar estratégias de reduzir a progressão e prevenir complicações”, recomenda.
Mas, afinal, quais são os sintomas iniciais do Alzheimer?
Segundo o neurologista, alguns indivíduos começam com uma queixa relacionada à memória. “Esquecimentos podem ser em relação a objetos, a compromissos ou a eventos importantes. Todavia, não lembrar onde colocou alguma coisa pode ser um sintoma de memória ou, apenas, de desatenção”, pondera. “Um sinal da memória é esquecer compromissos, como consultas médicas ou aniversários de pessoas queridas. Pode ocorrer dificuldade em lembrar uma lista pequena de compras ao ir ao supermercado sozinho, por exemplo. Em casos mais alarmantes, o indivíduo pode até esquecer que está usando o fogão e causar um acidente em casa”, revela Dr. Wyllians Borelli.
Quais são os sinais mais recorrentes no início da doença?
O coordenador de Pesquisa do Centro da Memória do Hospital Moinhos de Vento observa que os esquecimentos também podem estar relacionados ao que foi dito - assim, a pessoa pode se tornar "repetitiva". “Geralmente, esse é o sintoma mais comumente percebido. Nos casos em que os indivíduos apresentam sintomas de esquecimento e se preocupam com isso, deve-se buscar uma avaliação para confirmar a magnitude do problema e entender a sua origem”, preconiza.
Existem testes para verificar a memória?
Conforme o Dr. Borelli, testes cognitivos são usados com esta finalidade. Eles avaliam a memória, a atenção, a linguagem, as funções executivas, entre outras atribuições. “Estes testes são importantes para identificar qual é o domínio cognitivo predominantemente. Isso nos permite identificar em que estágio de esquecimento o indivíduo se encontra: se é perda subjetiva de memória? Ou comprometimento cognitivo leve? Ou é demência?”, esclarece.
O que os testes cognitivos conseguem identificar?
Segundo o médico, algumas vezes o problema na atenção pode parecer uma dificuldade de memória e, na maioria das vezes, estes testes cognitivos conseguem identificar qual é a complicação primária. “Em casos mais avançados, essa identificação se torna mais difícil, porque mais de um domínio cognitivo pode ser afetado. Por exemplo, indivíduos com demência podem ter dificuldade de atenção, memória e funções executivas ao mesmo tempo. Esta é uma situação relativamente comum, onde o familiar do paciente busca atendimento em estágios mais avançados e perde-se um período para intervenção e controle de fatores de risco”, salienta.
Qual é a importância de descobrir o Alzheimer em estágios iniciais?
“Temos recentes avanços mundiais em relação ao tratamento da doença de Alzheimer: alguns medicamentos foram desenvolvidos e comprovadamente já são eficazes para diminuir o declínio cognitivo. Contudo, estes tratamentos são propostos em estágios iniciais, também ditos ‘precoces’, onde o indivíduo tem queixa de esquecimento, mas isso ainda não interfere no seu dia a dia”, relata.
Qual é o foco do Centro da Memória do Hospital Moinhos de Vento?
Como a doença de Alzheimer inicia muito antes da demência, atualmente, o maior foco dos profissionais da memória é em relação à prevenção e tratamento antes da fase demencial. “Este é o principal foco do Centro da Memória do Hospital Moinhos de Vento - somos um dos únicos do Brasil com foco em ‘Serviço de Saúde Cerebral’. No local, desenvolvemos um trabalho intensivo para identificação de fatores que comprovadamente pioram a memória para, então, controlá-los e poder reduzir o seu impacto”, destaca o Dr. Borelli.
Quais são os fatores de risco para a perda de memória?
O coordenador enfatiza que alguns dos fatores de risco para a perda de memória são a perda auditiva, a inatividade física, a hipertensão e outras doenças crônicas. “O Centro da Memória do Moinhos também alia assistência à pesquisa, o que possibilita aos pacientes ter acesso aos maiores avanços mundiais em relação ao tratamento. Hoje, contamos com vários protocolos de pesquisa e estudos acadêmicos para auxiliar no diagnóstico precoce da população brasileira”, ressalta.
Qual é a mensagem que o senhor gostaria de deixar aos nossos leitores?
“Como pesquisadores e neurologistas, nosso foco é identificar a doença de Alzheimer no momento inicial, antecipado, ou também chamado de ‘precoce’. É onde mais podemos agir e tratar, porque sabemos que identificá-la em estágios mais avançados nos limita à conduta terapêutica”, descreve.
“Assim, é importante que os indivíduos percebam como está a sua memória - e a memória do seu cônjuge, pais e irmãos. É através das informações coletadas pelos acompanhantes que conseguimos entender o que está, de fato, acontecendo no cérebro. E, assim, melhorar a saúde cerebral do paciente”, reforça Dr. Borelli.
Fonte:
Dr. Wyllians Vendramini Borelli (CRM 42970) é neurologista e coordenador de Pesquisa do Centro da Memória do Hospital Moinhos de Vento.