Há poucos dias, os estudantes retornaram às aulas, em todo o país. Entretanto, muitos ainda enfrentam dificuldades em lidar com este período de adaptação escolar. Inclusive, os pais. Outros, não sabem quais são os cuidados necessários neste período considerado de “pós-pandemia”. Para sanar estas dúvidas, o Dr. João Ronaldo Mafalda Krauzer, chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Moinhos de Vento, elencou algumas dicas valiosas para toda a família. Uma delas, que não pode ser esquecida neste retorno e nem durante os próximos anos letivos, é o de manter a vacinação de crianças e adolescentes sempre em dia, para evitar doenças sérias.

Como contribuir com os alunos, neste retorno escolar?

Dr. João Krauzer: O retorno à atividade escolar presencial sempre envolve muitas sensações, ao mesmo tempo, como a ansiedade clássica que as crianças têm no reencontro com os colegas, professores e escola. Por isso, é muito importante, neste momento, que os pais possam estar atentos à esta adaptação. Na fase inicial, àquelas que nunca estudaram fora de casa têm um pouquinho mais de temeridade, por saírem de um ambiente familiar exclusivo e passarem para um ambiente alheio à sua realidade, ao seu dia a dia.

Qual é o papel dos pais neste período de adaptação escolar?

Dr. João Krauzer: Para aqueles pequenos que estão chegando, sabemos que a própria instituição já tem uma didática para essa adaptação, que começa com uma frequência de uma ou duas horas, por dia. E, dependendo de cada caso, este período é encurtado ou alongado. Nesta etapa, é imprescindível a presença de um familiar. Em geral, a mãe ou o pai devem estar presentes para promover uma segurança maior à criança. Para que ela saiba que, caso precise de algo, o familiar vai estar ali. Até que vai chegar um determinado momento em que a professora assumirá este papel e o convívio com os colegas tornará esse momento mais lúdico e fácil de acontecer.

E quando a criança troca de escola ou de colegas?

Dr. João Krauzer: A mesma coisa acontece quando as crianças trocam de escola, de turno ou de colegas. Chegar em uma escola diferente sempre gera uma certa ansiedade, mas, na grande maioria das vezes, quando é troca de colégio, a adaptação é mais para os pais, porque os pequenos se envolvem rapidamente com seus pares. Então, eles brincam de uma forma mais tranquila e a professora tem este papel de apoio e contribui para a interação dos alunos.

Quais são os cuidados que devemos priorizar no ambiente escolar?

Dr. João Krauzer: A partir de abril e maio o nosso clima aqui no Sul já não é muito favorável, então, é muito importante que a gente lembre de todos aqueles ensinamentos que tivemos durante o período mais grave da pandemia de Covid-19. Não necessariamente os estudantes vão ter que voltar a usar máscara ou fazer a higiene com álcool em gel, com a frequência que fazíamos.

Mas aqueles cuidados de tentar evitar aglomerações e de deixar o filho sobre os cuidados domiciliares, caso ele esteja com algum sintoma gripal, são necessários, pois isso vai diminuir muito a transmissibilidade de vírus, dentro do ambiente escolar.

E como manter a saúde com a chegada do inverno?

Dr. João Krauzer: O nosso inverno é de uma característica variável: um dia está mais frio, mais úmido, por vezes, aquece um pouco. E entramos e saímos de lugares com ar condicionado. E essas variações climáticas desencadeiam alterações, principalmente, em crianças com histórico de alergia.

Já o vírus é transmitido por conta dessas aglomerações em que os estudantes ficam todos juntos. Então, se alguém doente vai para a escola, que possui um ambiente fechado e pouco ventilado, esta disseminação acontece através de objetos com os quais entrou em contato, como brinquedos e até o material escolar. O próprio abraço e o aperto de mãos em outras pessoas pode levar a esta contaminação. E aqui não estou me referindo ao Coronavírus. Estou falando de vírus habituais do inverno, como o Sincicial, o Influenza e o Adenovírus, que causam maiores problemas em nosso público infantil, nesta estação.

 Quais são os cuidados que devemos ter ao retornar da escola?

Dr. João Krauzer: Uma dica que eu acho muito importante é que, a criança que voltou a frequentar o ambiente escolar, faça uma espécie de descontaminação logo que chegar em casa. Ou seja, vá direto tomar um banho e colocar o seu uniforme para lavar, antes de abraçar e beijar o seu irmãozinho menor, que ficou no lar, por exemplo. A grande maioria destes vírus são de contato e o estudante os leva, através do uniforme, para dentro da sua residência. Então, esta descontaminação de chegada da escola é fundamental para que não haja transmissibilidade de vírus clássicos de inverno para os menores.

Como prevenir doenças e qual a importância da vacinação?

Dr. João Krauzer: As situações de controle de doenças passam, principalmente, pela prevenção. O Brasil passou por um período bastante crítico, nos últimos anos, em que houve uma queda substancial na aplicação de vacinas. Então, muitas crianças deixaram de receber vacinas por receio, por fake News, por não saírem de casa durante a pandemia, mas é muito importante que mantenham o seu calendário vacinal em dia.

Nós já temos muitas doenças que não são preveníveis. Então, para as que são preveníveis é recomendado que os pais levem seus filhos para fazerem as vacinas, seguindo o calendário anual. No Brasil, o índice vacinal da Poliomielite caiu para 50% de adesão, o que é inadmissível.

Qual o conselho que o senhor daria aos pais em relação as vacinas?

Dr. João Krauzer: Sugiro que os pais procurem o pediatra dos seus filhos, conversem com ele e coloquem a carteirinha de vacinação em dia, para que suas crianças possam se prevenir de enfermidades, como: pneumonia, meningite, difteria, coqueluche, caxumba, sarampo, rubéola, tétano e febre amarela, por exemplo. Aliás, várias delas têm reforços aos quatro anos de idade e na adolescência.

Adolescentes também precisam se vacinar?

Dr. João Krauzer: Os adolescentes também têm que se prevenir, porque são, igualmente, suscetíveis a doenças que podem provocar o seu afastamento da vida escolar ou tirá-los de circulação, por um período maior. Então, a aplicação de vacinas é fundamental.

Quando é a vacina contra a gripe?

Dr. João Krauzer: Agora, a partir de abril, teremos a campanha de vacinação da gripe, que precisa ser aplicada nas crianças, pois o Influenza é um dos principais vírus que faz com que elas faltem a escola e, os pais, o trabalho. Isso porque, o filho pega o vírus no colégio e leva para a casa. A família toda fica doente, apesar de termos vacinas para prevenir.

E a vacina contra a Covid?

Dr. João Krauzer: Também é importante manter o calendário vacinal da Covid-19 em dia. Lembrando que os alunos que já estão em idade adequada, podem receber a bivalente. Os que ainda não estão, precisam completar o seu esquema vacinal. É importante que essa vacina seja feita, pois o vírus continua presente em nosso ambiente.

Quais são as outras dicas para quem voltou ao ambiente escolar?

Dr. João Krauzer: No retorno escolar, não podemos esquecer de alguns cuidados importantes, como manter uma boa alimentação. É crucial que os pais prestem atenção no que o filho está comendo na escola. Para os horários de intervalo e recreio, que proporcionem alimentos mais saudáveis, evitando frituras e industrializados. De preferência, que optem em oferecer para a criança frutas ou alimentos feitos em casa. Também é importante manter uma hidratação adequada.

E qual é a importância dos esportes?

Dr. João Krauzer: Ao retornar para a escola, é imprescindível que as práticas esportivas, que vinham sendo feitas até as férias, sejam retomadas pelos estudantes. Tênis, vôlei, basquete, atletismo, ginástica e balé, por exemplo. Todas estas atividades são fundamentais para o desenvolvimento do indivíduo, auxiliando no crescimento da criança. Também contribuem para o seu bem-estar e ajudam no desempenho de suas atividades. Assim, quando conseguimos organizar uma rotina de atividades esportivas, também a gente consegue criar uma rotina de alimentação e de consumo de água melhor.

Fonte: Dr. João Ronaldo Mafalda Krauzer (CRM 17262), chefe do Serviço de Pediatria do Hospital Moinhos de Vento.