Como promover a saúde mental das crianças diante das aulas presenciais?

Passados os primeiros meses de retorno às atividades escolares, muitas crianças têm mostrado dificuldades nessa retomada das aulas presenciais. 

O período de pandemia foi e segue sendo particularmente desafiador para as crianças e adolescentes. As mudanças significativas da rotina, associadas ao afastamento dos colegas e aumento de estresse no dia a dia, por um período tão prolongado, foram criando um cenário muito difícil. “Principalmente quando lembramos que elas têm menor capacidade emocional de lidar com tantas angústias e incertezas”, reforça o psiquiatra da Infância e Adolescência e médico responsável pelo Centro Especializado em Neurodesenvolvimento Infantil do Hospital Moinhos de Vento, Thiago Botter Maio Rocha.

Segundo o especialista , ao longo dos últimos meses houve um aumento expressivo, nesta população, de sintomas como irritabilidade, comportamento opositor, depressão, medos, ansiedade, piora da qualidade do sono, além do aumento preocupante do uso de telas e eletrônicos.

As formas de ajudar 

Para o médico, o primeiro ponto é perceber que ainda estão tentando se adaptar, pois foram quase dois anos de um ritmo escolar muito diferente. Com as aulas online, pode ser difícil se acostumar novamente com a rotina presencial, portanto, é necessário ter paciência em relação a esta situação. 

Outro aspecto é lembrar que elas podem manifestar suas angústias e sofrimentos não apenas com palavras, mas por meio de seus comportamentos. “É preciso entender que comportamentos mais agitados, agressivos ou opositores não são sinônimos de desrespeito, mas que podem ser indicativos de que algo não está bem com eles. Estar atento a isso pode abrir a oportunidade dela poder receber ajuda e acolhimento, ao invés de punições e críticas”, sinaliza o psiquiatra.

Muitas vezes, a vida agitada do cotidiano dificulta pararmos e percebermos o que pode estar por trás de seus  comportamentos. Portanto, para acolher, é preciso antes de mais nada parar e observar. A partir disso, podemos criar oportunidades de convivência para que possa se sentir confortável para falar sobre o que está sentindo, o que a está incomodando. “Muitas vezes, na busca pelo cuidado, as pessoas ficam angustiadas para saber o que devem dizer para as crianças, mas a verdade é que o segredo é muito mais estar disponível para ouvir o que elas têm a dizer, sem forçá-las a nada”, complementa.

As funções da escola, da família e da área da saúde

A escola é um espaço de aprendizado, mas também um local de convívio, trocas, vivências, formação e vínculos. Tem um papel muito importante na construção da personalidade das crianças e adolescentes. É necessário observar como eles estão respondendo a esta retomada das aulas e ter um olhar atento e acolhedor a quem estiver demonstrando dificuldades. Isso pode ser fundamental para que eles possam se restabelecer e aproveitar de forma plena o ambiente escolar.

Em relação ao ambiente familiar, é importante que os pais percebam que também precisam se observar e se cuidar, pois o período de pandemia tem sido muito complicado para todos. “Devem estar atentos à saúde emocional dos filhos, mas também refletir como eles próprios estão. Um pai ou uma mãe sob estresse intenso, em sofrimento, não só terá muito mais dificuldade de ter energia emocional para conseguir dar atenção às necessidades do filho, como também pode, sem se dar conta, estar contribuindo para a angústia e sofrimento. Cuidar de si também é uma forma de cuidar do filho”, alerta o médico.

Por fim, focado na saúde mental, o Hospital Moinhos de Vento possui o Centro Especializado em Neurodesenvolvimento Infantil (CENI) que trabalha de forma integrada às demais especialidades médicas. 

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Fonte: Thiago Botter Maio Rocha, psiquiatra da Infância e Adolescência e coordenador do Centro Especializado em Neurodesenvolvimento Infantil (CENI) do Hospital Moinhos de Vento.