Você já parou para pensar que os microplásticos podem estar afetando a sua saúde e até a sua fertilidade? De acordo com o Programa para o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (ONU), “o mundo está se afogando sob o peso da poluição plástica”. Anualmente, são produzidas mais de 430 milhões de toneladas de plástico. Dois terços são produtos de vida curta que se tornam resíduos, comprometendo a vida nos oceanos e, silenciosamente, integrando a cadeia alimentar da população. Mas de que forma isso pode impactar na reprodução humana? Para compreender este cenário, o blog Saúde e Você ouviu a Dra. Isabel de Almeida, coordenadora técnica do Centro de Fertilidade e Reprodução Assistida do Hospital Moinhos de Vento.
O que são e onde estão presentes as partículas de microplástico?
Conforme a ONU, minúsculas partículas de plástico, de até cinco milímetros de diâmetro, são frequentes em nosso cotidiano, sendo facilmente encontradas em roupas e cosméticos, por exemplo. Além disso, uma pesquisa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) comprovou que o uso contínuo de alguns desses produtos aumenta o acúmulo de microplásticos em todo o meio ambiente.
Como ocorre a contaminação por microplástico?
Uma reportagem do Programa para o Meio Ambiente da ONU explica que os microplásticos entram no oceano a partir da decomposição do lixo plástico marinho, do escoamento de encanamentos, do vazamento de instalações de produção e de outras fontes. Quando ingeridos pela vida marinha (como aves, peixes, mamíferos e plantas), os microplásticos têm efeitos tóxicos e mecânicos, levando a problemas como redução da ingestão de alimentos, sufocamento, mudanças comportamentais e alteração genética.
De que forma a população pode se contaminar por microplástico?
Ainda segundo a publicação, as pessoas podem inalar microplásticos do ar, ingeri-los na água ou por meio de frutos do mar e absorvê-los através da pele. Microplásticos foram encontrados em vários órgãos humanos e até mesmo na placenta de recém-nascidos.
Como o microplástico pode interferir na saúde e na fertilidade humana?
O relatório “Da Poluição à Solução”, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), comprova que os produtos químicos nos microplásticos “estão associados a sérios impactos na saúde, especialmente nas mulheres”. E diz que eles podem incluir alterações na genética humana, desenvolvimento cerebral e taxas de respiração, entre outros problemas de saúde.
Sobre o tema, a Dra. Isabel de Almeida confirma que estudos recentes, realizados em animais, demonstraram que os microplásticos podem alterar a qualidade e a quantidade dos espermatozoides nos machos. “Já nas fêmeas estudadas, observa-se a redução do tamanho ovariano e no número de óvulos, entre outros efeitos”, destaca a coordenadora técnica do Centro de Fertilidade e Reprodução Assistida.
A especialista lembra que a produção em larga escala de plástico começou na década de 1950 e, hoje, os microplásticos são considerados a forma sólida mais abundante de resíduos sobre o planeta. “São encontrados nos oceanos, nos solos, no ar e mesmo em lugares remotos, como nas geleiras”, constata.
Segundo a médica, existem evidências de que os produtos químicos existentes nos plásticos estão associados à toxicidade, alergias e ao risco de desenvolver câncer. “Recentemente, microplásticos foram encontrados em placentas humanas e em intestinos de fetos, levantando vários questionamentos sobre os efeitos desses contaminantes na saúde materna e fetal”, alerta Dra. Isabel. “Assim, é cada vez mais importante estudar o impacto dos microplásticos e desenvolver políticas de produção, uso consciente e reciclagem adequados para minimizar os danos sobre a saúde e o meio ambiente”, reconhece.
Fonte: A Dra. Isabel de Almeida (CRM 16091) é coordenadora técnica do Centro de Fertilidade e Reprodução Assistida e coordena o projeto “Valorize a sua Fertilidade”.