Atualmente, é cada vez mais comum pessoas com menos de 50 anos de idade serem acometidas pelo câncer. A incidência global da doença de início precoce aumentou 79,1% e o número de mortes ampliou 27,7%, entre 1990 e 2019, segundo estudos recentes. Mas quais são os fatores associados a estes índices? Para compreender este contexto, o blog Saúde e Você entrevistou o Dr. Alexander Welaussen Daudt, oncologista clínico e coordenador do Centro de Medicina de Estilo de Vida (MEV), do Hospital Moinhos de Vento.

1) Quais são os fatores associados ao aumento do índice de câncer em pessoas mais jovens ?

Dr. Alexander Welaussen Daudt - Desde meados do século 20, mudanças multigeracionais substanciais no “expossoma” ocorreram. Particularmente, aquelas relacionadas ao estilo de vida, como mudanças na dieta, obesidade, ambiente e microbioma, que podem interagir com suscetibilidades genômicas e/ou genéticas, aumentando o risco de câncer de início precoce, ou seja, em idade inferior aos 50 anos.

Sendo que “expossoma” é um conceito usado para descrever as exposições ambientais que um indivíduo passa ao longo da vida e como podem lhe impactar. Engloba, ainda, fatores externos e internos, incluindo aspectos químicos, físicos, biológicos e sociais que podem influenciar na saúde humana.

2) Qual é a maior preocupação em relação a estes fatores de risco?

Dr. Alexander Welaussen Daudt - Muitos fatores de risco para o câncer também são para outras enfermidades. Assim, a incidência e prevalência de outras doenças crônicas, como diabetes e doença inflamatória intestinal, entre crianças, adolescentes e adultos jovens, têm aumentado em vários países nas últimas décadas.

Portanto, essa epidemia de câncer de início precoce pode ser apenas uma manifestação ou o exemplo de uma tendência crescente de maior incidência de muitas doenças crônicas em gerações jovens e/ou futuras.

3) Mas voltando a falar em câncer, quais são os tipos mais frequentes de início precoce?

Dr. Alexander Welaussen Daudt - Os tipos de câncer mais frequentes em pessoas com menos de 50 anos são: mama, colorreto, endométrio, esôfago, ducto biliar extra-hepático, vesícula biliar, cabeça e pescoço, rim, fígado, medula óssea, pâncreas, próstata, estômago e tireoide.

4) Como o Centro de Medicina de Estilo de Vida (MEV) do Hospital Moinhos de Vento pode contribuir com a reversão deste cenário atual?

Dr. Alexander Welaussen Daudt - De modo pioneiro, através de consultas individuais e em grupo com seu time interdisciplinar de profissionais de saúde (que possui médicos, psicóloga, psiquiatra, nutricionista, educador físico, fisioterapeuta, etc.), o Centro visa prestar assistência às pessoas em geral, aos pacientes e seus familiares na promoção de hábitos saudáveis. Vinculado à Faculdade Moinhos de Vento, também estimula a educação e a pesquisa em Medicina de Estilo de Vida, contribuindo para a prevenção primária e secundária do câncer e demais doenças crônicas prevalentes.

5) Quais são as dicas de saúde que o senhor gostaria de deixar aos nossos leitores?

Dr. Alexander Welaussen Daudt - Na gênese das doenças crônicas, incluindo o câncer, existe no organismo um estado de baixa inflamação latente associado ao estilo de vida.

As dicas da MEV abaixo se baseiam na integração de vários fatores “anti-inflamatórios” de proteção.

Estes incluem:

- Fazer vínculos sociais e contar com o apoio da família;

- Buscar ajuda de profissionais de saúde, se tiver níveis constantes de estresse com interferência na vida diária;

- Cessar o tabagismo;

- Moderar o consumo de álcool (14 g/dia para mulheres e 28 g/dia para homens). O metabolismo do álcool é menos eficiente no sexo feminino;

- Evitar o sedentarismo (por exemplo, ficar menos tempo sentado diante da televisão);

- Manter a higiene do sono (evitando qualquer tela 2 ou 3 horas antes de deitar), para dormir com qualidade, por 7 ou 9 horas;

- Mudar a dieta para um tipo mais Mediterrâneo.

6) Qual é a necessidade de cuidar da dieta?

Dr. Alexander Welaussen Daudt - É imprescindível migrar a dieta de um padrão Ocidental para algo mais Mediterrâneo. Sendo que a Ocidental é caracterizada por alta ingestão de alimentos pré-embalados, grãos refinados, carne vermelha, carne processada, bebidas com alto teor de açúcar, doces, frituras, produtos de origem animal produzidos industrialmente, manteiga e outros produtos lácteos com alto teor de gordura. Já a Mediterrânea é baseada na ingestão de frutas, vegetais, grãos integrais, peixes, nozes e sementes.

7) Quais são as influências que os hábitos adquiridos na infância podem ter na vida adulta?

Dr. Alexander Welaussen Daudt - Fatores associados ao estilo de vida e ao câncer na vida adulta geralmente se originam da infância e/ou adolescência. Portanto, é preciso popularizar uma dieta e um estilo de vida saudáveis entre as crianças, que contribuam com a redução da ingestão de alimentos e bebidas não saudáveis, do sedentarismo e do interesse precoce pelo consumo de álcool e/ou tabagismo.

Programas de alimentação escolar e intervenções educativas também são um importante método de prevenção primária do câncer. Afinal, promover comportamentos saudáveis pode beneficiar tanto as crianças como os pais, melhorar o seu bem-estar e reduzir os encargos sociais relacionados a muitas doenças e/ou condições crônicas.

Fonte: O Dr. Alexander Welaussen Daudt (CRM 10624) é oncologista clínico, coordenador do Centro de Medicina de Estilo de Vida (MEV) do Hospital Moinhos de Vento e preceptor da Residência Médica em Oncologia da instituição. Possui Certificação em MEV pelo ACLM (“American College of Lifestyle Medicine”) e pelo Colégio Brasileiro de Medicina Estilo de Vida.

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Prêmios e Certificações

Entrada 1 - Rua Ramiro Barcelos, 910 - Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, 90560-032
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