Você já ouviu falar em Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT)? Assim como a ansiedade e a depressão, esta síndrome está relacionada a problemas graves de saúde mental que podem surgir meses depois de desastres, como as cheias dos rios, que recentemente afetaram os gaúchos.
O que é o Transtorno do Estresse Pós-Traumático?
De acordo com o Dr. Alexander Welaussen Daudt, oncologista clínico e médico de Medicina de Estilo de Vida (MEV) do Hospital Moinhos de Vento, qualquer pessoa que assiste ou experimenta um desastre é afetada por ele de alguma forma. “Esta profunda tristeza pelas perdas, como um sentimento de luto e mesmo a raiva, são reações normais a um evento anormal (como uma enchente) e, como ocorre com as feridas físicas, precisam de um tempo para curar”, avalia.
Segundo a psicóloga do Núcleo Mama do Hospital, Lucy Ghirardini Bonazzi, os sintomas de TEPT, geralmente, começam dentro de três meses após o evento traumático, mas, às vezes, surgem mais tarde. “Para preencher os critérios para TEPT, uma pessoa deve ter sintomas por mais de um mês e estes devem ser graves o suficiente para interferir em aspectos da vida diária do indivíduo, como relacionamentos ou trabalho”, argumenta. Entretanto, estes sinais não devem estar relacionados a medicamentos, uso de substâncias ou outras doenças.
Conforme a psicóloga, o desenvolvimento do transtorno varia. “Embora algumas pessoas se recuperem dentro de seis meses, outras têm sintomas que duram um ano ou mais. Além disso, é importante salientar que pessoas com TEPT normalmente têm condições co-ocorrentes, como depressão, uso de substâncias ou um ou mais transtornos de ansiedade”, esclarece Lucy.
“Após um evento perigoso, é natural ter alguns sintomas. Mas alguns indivíduos podem se sentir desapegados da experiência, como se estivessem observando as coisas - como um estranho - em vez de experimentá-las. Um profissional de saúde mental, como um psiquiatra ou psicólogo, pode determinar se os sintomas atendem aos critérios para TEPT”, observa Dr. Alexander Welaussen Daudt.
Como é feito o diagnóstico para esta síndrome?
Para ser diagnosticado com TEPT, um adulto deve ter todos os seguintes indícios pelo período de um mês, com ao menos:
Conforme os entrevistados, pensamentos e sentimentos podem desencadear estes sintomas, assim como palavras, objetos ou situações que são lembretes do evento. Desta forma, a pessoa pode ter:
Os sintomas de evitação podem fazer com que as pessoas mudem suas rotinas. Por exemplo, alguns podem evitar dirigir ou andar de carro após um grave acidente automobilístico. Assim, é importante:
Os sintomas de excitação são frequentemente constantes. Eles podem levar a sentimentos de estresse e raiva e podem interferir em partes da vida diária, como dormir, comer ou se concentrar. Então, o indivíduo pode:
Por sua vez, os sintomas cognitivos e de humor podem começar ou piorar após o evento traumático. Eles podem levar as pessoas a se sentirem desapegadas de amigos ou de familiares e terem:
Estratégias de recuperação
Neste sentido, Dr. Daudt traz algumas dicas relacionadas à Medicina de Estilo de Vida (MEV), focando no manejo do estresse e da saúde mental. “Mesmo que o impacto psicossocial deste desastre perdure por muito tempo e não existam fórmulas prontas, desde já é essencial focar em estratégias de recuperação pessoal e coletiva. Para a maioria das pessoas, enfrentar este ‘novo normal’ significa tomar decisões, seguir em frente e pensar em ‘um dia de cada vez’, estabelecendo metas tangíveis a curto prazo”, pondera.
Defina metas
Dr. Daudt lembra que, mesmo uma pequena meta, para ser bem-sucedida precisa ser:
Faça listas
De forma prática, Dr. Daudt sugere que a pessoa inicie fazendo uma lista das tarefas mais urgentes e importantes. “Concentre-se em uma coisa de cada vez para evitar sobrecarregar-se e valorize seu esforço físico e emocional para cada conquista. Também pode ser útil criar um orçamento para gerenciar recursos limitados e, assim, priorizar necessidades básicas mais imediatas”, garante.
Como aliviar o estresse pós-traumático?
Conforme os entrevistados, é importante:
- Conversar com alguém sobre seus sentimentos, como raiva, tristeza e outras emoções. Mesmo que seja difícil;
- Procurar ajuda de conselheiros e profissionais de saúde mental que lidam com o estresse pós-desastres;
- Promover sua própria cura física e emocional por meio de uma alimentação mais saudável, atividade física e repouso, dentro dos recursos disponíveis;
- Criar atividades que lhe tragam alguma tranquilidade, como orar, ler, ouvir música, cozinhar, costurar, passar alguns minutos ao ar livre, olhar um filme ou praticar técnicas de relaxamento, como respiração profunda e meditação;
- Evitar o uso de álcool e outras substâncias como forma de lidar com o estresse, pois podem piorar a situação a longo prazo;
- Estabelecer uma rotina diária e familiar, mesmo que simples, mais próxima da situação normal quanto possível. A rotina ajuda a trazer uma sensação de normalidade e controle.
Seja gentil
“Além disso, é imprescindível ser gentil consigo mesmo. Procure entender que o processo de recuperação é gradual e requer tempo e paciência. Como ajuda, use redes de suporte, que começam dentro da própria família”, recomenda o especialista.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que:
- As estimativas indicam que 3,9% da população mundial já teve transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) em alguma fase de suas vidas;
- A maioria das pessoas expostas a eventos potencialmente traumáticos não desenvolve TEPT;
- Sentir-se apoiado pela família, amigos ou outras pessoas após o evento potencialmente traumático pode reduzir o risco de desenvolver TEPT;
- Mais mulheres são afetadas pelo TEPT do que homens;
- Existem tratamentos eficazes para o TEPT.
Fonte: O Dr. Alexander Welaussen Daudt (CRM 10624) é oncologista clínico e médico da Medicina de Estilo de Vida (MEV) do Hospital Moinhos de Vento e preceptor da Residência Médica em Oncologia da instituição. Por sua vez, Lucy Ghirardini Bonazzi é psicóloga clínica e psico-oncologista do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento.