A Revista Científica “Cell” acaba de divulgar um estudo que virou notícia mundial por revelar a descoberta de um novo coronavírus de morcego na China. O artigo alerta que este novo vírus seria capaz de se ligar às células humanas de forma semelhante ao causador da Covid. Mas será que a humanidade precisa se preparar para uma nova pandemia ou será que, de alguma forma, este achado científico pode ser benéfico para a população global? Para esclarecer todas as dúvidas sobre o tema e tranquilizar a comunidade, o blog Saúde e Você entrevistou o Dr. Alexandre Zavascki, infectologista do Hospital Moinhos de Vento.

O que representa este estudo publicado pela Revista “Cell”?

Dr. Alexandre Zavascki - Na verdade, o estudo traz a descoberta deste vírus em morcegos; o que faz parte de um programa de vigilância em animais que já existe há bastante tempo. Então, isto se intensificou após a pandemia do SARS-CoV-2, que é o vírus causador da Covid, principalmente em morcegos e outras espécies que, provavelmente, estiveram associados à sua disseminação inicial. 

Qual é este novo coronavírus?

Dr. Alexandre Zavascki - Esta é uma variante de um tipo de coronavírus, que é o HKU5, que tem a capacidade de se ligar em um receptor das células do trato respiratório humano. Todavia, que fique claro, este estudo nem sequer investigou esta capacidade de transmissão. Ele apenas identificou que o vírus tem esta propriedade.

 

Qual é a gravidade do HKU5? E quais são os riscos para a população?

Dr. Alexandre Zavascki - Não existe nenhuma gravidade e riscos para a população porque este é um vírus de morcego, que foi achado como parte de uma vigilância e não foi desencadeado por nenhum aparecimento de nenhuma doença. E, na verdade, é muito melhor que se descubram os diferentes vírus que estão nos animais porque, assim, se consegue fazer todo um estudo antes que eles, eventualmente, passem para humanos (o que não dá pra inferir com este estudo).

Quais são as principais diferenças entre o HKU5 e a Covid?

Dr. Alexandre Zavascki - O HKU5 foi descoberto ainda no seu ciclo animal, o que, de fato, é muito melhor. Assim, dá para estudar o vírus. E esta é a principal diferença, pois a Covid foi descoberta, primeiramente, em humanos. O SARS-CoV-3 não tinha sido detectado em animais e não se conhecia o potencial dele. Já o HKU5 foi descoberto primeiro no animal. Mas ninguém sabe se um dia ele vai causar algum tipo de infecção em humanos. 

Entretanto, a partir de agora vão começar a estudá-lo. Então, dá para estar preparado e saber o quanto ele é parecido, em termos de resposta de anticorpos, com o SARS-CoV-dois. Tudo isto vai ser analisado a partir de agora. Sendo que o HKU5 é um coronavírus mais próximo do MERS-Cov (Síndrome Respiratória do Oriente Médio). Ou seja, geneticamente ele é um pouco mais distante do SARS-CoV-dois.

Quais são as possibilidades do HKU5 ser transmitido a pequenos roedores, como animais domésticos e ratos que circulam nas cidades?

Dr. Alexandre Zavascki - Esta informação de que pequenos roedores poderiam ser contaminados não confere. O estudo apresentado simplesmente lança a hipótese de que o HKU5, assim como o SARS-CoV-dois, tem uma proteína com a capacidade de se ligar a alguns receptores específicos de células do trato respiratório humano e, por isto, possivelmente também poderia atingir outros animais. Mas esta possibilidade sequer foi demonstrada. Este estudo não mostra isto. Esta é apenas uma especulação.

Há algum risco de contágio iminente para o Brasil?

Dr. Alexandre Zavascki - Não. Esta pergunta do caso do Brasil não se aplica, pois, como foi dito, trata-se de um coronavírus de um morcego. E quando esta disseminação entre morcegos ocorre no mundo, normalmente, fica restrita a uma espécie específica, que não existe em todos os lugares. É diferente do ser humano, que viaja. 

É necessário fazer algum alerta à população a respeito deste novo coronavírus?

Dr. Alexandre Zavascki - Não. Na verdade, esta descoberta não muda absolutamente nada, porque foi um achado que integra a rotina que já se fazia em relação à vigilância de vírus. Então, este vírus não nasceu agora, ele apenas foi descoberto agora. Provavelmente, o HKU5 está aí há muitos anos. Certamente, há mais de duas décadas, pois, digamos, o parente mais próximo dele já foi descoberto em 2006, o HKU5-CoV (linhagem 1).

Neste momento, é preciso temer a transmissão deste novo coronavírus ou ter algum cuidado extra para evitar um possível contágio?

Dr. Alexandre Zavascki - Neste momento, não há riscos e nem faz sentido falar em transmissão. Assim, também não são necessários cuidados extras por parte da população.

Qual é a mensagem que o senhor gostaria de deixar à comunidade?

Dr. Alexandre Zavascki - A mensagem final é que não há motivo de alerta. Este estudo, aliás, traz um motivo para comemorarmos que este vírus foi descoberto, o que é muito melhor do que sermos, eventualmente, pegos de surpresa. A partir deste momento vão ser feitos vários estudos para responder a todas as questões que o mundo está levantando agora.

Fonte: Dr. Alexandre Zavascki (CRM 25476), infectologista do Hospital Moinhos de Vento.

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