Mais de 60% de populações consideradas de alto risco, como profissionais do sexo e homens que têm relações sexuais com homens, têm infecção genital pelo papilomavírus humano (HPV), revelou o estudo SMESH. Os índices são ainda mais altos quando considerada a infecção anal, superando os 70% em ambos grupos. Os dados foram divulgados na manhã desta sexta- feira (24), em Porto Alegre.
O Hospital Moinhos de Vento lidera o projeto desenvolvido por meio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). O estudo buscou mensurar a contaminação por HPV em homens que fazem sexo com homens e profissionais do sexo.
Entre os homens que fazem sexo com homens, a prevalência de HPV genital geral foi de 49,7%. Desse total, aquelas infecções que apresentam alto risco para desenvolvimento de câncer chegaram a 37,5%. Para HPV oral, o índice geral foi de 8,8%, enquanto o de alto risco para desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço atingiu 7,4%.
O pior cenário foi o de HPV anal, com 75,1% do geral e 64,7% no de alto risco. “Esse dado aqui talvez seja o dado mais preocupante”, sublinhou Eliana Wendland, coordenadora principal do projeto e médica epidemiologista do Hospital Moinhos de Vento.
HPV Genital | HPV Oral | HPV Anal | |||
Geral | 49,7% | Geral | 8,8% | Geral | 75,1% |
Alto risco | 37,5% | Alto risco | 7,4% | Alto risco | 64,7% |
O recorte por regiões do país aponta que a prevalência da doença é estatisticamente maior no Norte (51,1%) e no Centro-Oeste (47,1%). “Tanto o HPV oral como o anal não foram, estatisticamente, diferentes entre as regiões, pois todas as taxas foram muito altas”, pontuou a pesquisadora.
Nesse grupo, 23,2% dos participantes convivem com Vírus da Imunodeficiência Adquirida (HIV), e apenas 11,5% foram vacinados contra o HPV, índice muito baixo considerando que homens até 45 anos com HIV podem se imunizar na rede pública. O agravante, nesse caso, é que 72,8% desses homens com HIV também têm HPV de alto risco.
Ao todo, foram incluídos 1.371 participantes homens que fazem sexo com homens dos quais 78,5% se declararam como homossexual, 19,9% se disseram bissexual e 1,6% se definiram como heterossexual.
HPV anal é alarmante entre os profissionais do sexo
Outro braço do SMESH avaliou a prevalência de HPV em 933 trabalhadores do sexo, dos quais 81% eram mulheres e 19% homens. Nesse público, a prevalência geral de HPV genital foi de 60,1% (64,6% entre as mulheres e 40% entre os homens). A infecção anal teve total de 73% (72,6% no sexo feminino e 74,4% no masculino) e a oral de 9,7% (8,2% entre as mulheres e 15,9% nos homens).
“O percentual de HPV anal é altíssimo em todos os sexos. O oral é bem expressivo, especialmente entre os homens, que têm quase o dobro do que vimos entre homens que fazem sexo com homens. No genital há uma inversão, com volume mais altos entre as mulheres”, destaca Eliana.
HPV Genital | HPV Oral | HPV Anal | |||
Geral | 60,1% | Geral | 9,7% | Geral | 73% |
Homens | 40% | Homens | 15,9% | Homens | 74,4% |
Mulheres | 64,6% | Mulheres | 8,2% | Mulheres | 72,6% |
Em contrapartida, esse grupo registrou baixa infecção por HIV, com apenas 5,5% dos participantes vivendo com o vírus, além de um índice maior de vacinação contra HPV, chegando a 21,7%. A análise por regiões destacou a maior prevalência de HPV oral no Centro-Oeste (17,2% contra 3,3% do Norte).
“Tanto no POP como no SMESH, o ponto de partida foi o HPV, mas foi-se acrescentando outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), cujas quais necessitamos fortalecer o acesso à informação. Esses projetos contribuem para o controle e o desenvolvimento de políticas públicas”, falou Pâmela Cristina Gaspar, coordenadora-geral de Vigilância das Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde.
Sobre o HPV
O HPV é um grupo de mais de 150 vírus relacionados, dos quais pelo menos 13 são considerados oncogênicos — ou seja, com predisposição para formação de câncer. A doença tem grande capilaridade da população brasileira – no entanto, há grupos de alto risco para a contaminação.
Atualmente, o câncer do colo do útero é o quarto mais frequente em mulheres em todo o mundo, mas há evidências crescentes de que o HPV é um fator de risco em outros cânceres anogenitais (ânus, vulva, vagina e pênis).
Método
Profissionais de saúde treinados coletaram os dados utilizando a metodologia de recrutamento Respondent-Driven Sampling (RDS). A RDS se baseia no método de amostragem bola de neve e utiliza-se de um modelo matemático que pondera os indivíduos da amostra conforme seu grau de relações sociais.