A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu a meta de eliminação do câncer do colo do útero e estabeleceu que, até 2030, 90% das jovens de até 15 anos de idade devam estar vacinadas contra o papilomavírus humano (HPV). Infelizmente, no Brasil os números continuam muito altos em relação à incidência da doença, chegando a quase 18 mil novos casos por ano no país. E o pior: cerca de 80% destes casos ainda são diagnosticados em estágios muito avançados. Entretanto, isso tudo poderia ser evitado se existissem medidas de vacinação mais amplas e eficazes.
Conforme o Dr. José Roberto Rossari, oncologista clínico do Moinhos de Vento, em alguns países, onde a vacinação já abrange uma população maior e mais disciplinada, há um decréscimo, tanto no número de novos casos, como na mortalidade relacionada ao câncer de colo uterino, especificamente. O coordenador do grupo de Onco-Ginecologia explica que esta neoplasia está associada, em mais de 99% das vezes, à infecção pelo HPV, que hoje conta com imunizantes disponíveis no Núcleo de Vacinas do próprio Hospital. Para compreender melhor todo este cenário, o Blog Saúde e Você entrevistou o Dr. José Roberto Rossari. Veja, abaixo:
Quais são os fatores de risco que podem desencadear o câncer de colo uterino?
Dr. José Roberto Rossari - Os fatores de risco para desencadear a doença são:
- O início precoce da vida sexual;
- A multiplicidade de parceiros;
- A imunossupressão, seja por pacientes que têm transplantes de órgãos ou infecção por HIV;
- O tabagismo;
- O uso continuado de anticoncepcional.
Qual é a principal forma de diagnosticar o câncer de colo de útero?
Dr. José Roberto Rossari - O principal exame diagnóstico, inicialmente, é o Papanicolau, que pode mostrar as alterações celulares sugestivas de uma lesão celular precursora do câncer ou já uma célula tumoral cancerosa. Mas também podem ser solicitados exames de imagem (como ecografia, tomografia ou ressonância) e, quando necessário, biópsia.
O câncer de colo de útero tem cura?
Dr. José Roberto Rossari - Sim. O câncer de colo uterino tem cura e ela é mais fácil à medida em que detectamos a doença nas formas mais precoces. Então, quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maior será a taxa de sucesso para as pacientes.
Atualmente, qual é o tratamento mais indicado?
Dr. José Roberto Rossari - O tratamento pode envolver cirurgia exclusiva ou precisar de algum complemento, seja com radioterapia ou quimioterapia. Eventualmente, pode ser feito só com quimio e radioterapia, sem a necessidade de cirurgias. E, mais recentemente, para os casos mais avançados, tanto na doença localizada como na doença sistêmica metastática, pode haver a inclusão de imunoterapia para algumas pacientes.
As vacinas contra o HPV ajudam a prevenir a doença?
Dr. José Roberto Rossari - Sim! Hoje, mais do que focar no tratamento, existe a possibilidade de prevenir o desenvolvimento da doença com as vacinas contra o HPV; que são extremamente eficazes e seguras. Atualmente, elas têm a indicação de serem usadas em crianças, tanto do sexo feminino como do masculino, entre os 9 e 14 anos (que é a idade considerada pré-início da vida sexual). Então, antes de serem expostas ao vírus pela primeira vez, é feita a vacina. E as taxas de sucesso são muito altas.
De que forma o Hospital Moinhos de Vento contribui para a erradicação do câncer de colo uterino?
Dr. José Roberto Rossari - O Hospital Moinhos de Vento oferece a vacinação, que é a prevenção. Em termos de tratamento, possui um grupo grande de profissionais dedicados a tumores ginecológicos. Hoje, também conta com uma equipe multidisciplinar, com ginecologistas, oncologistas, radioncologistas e radiologistas especializados em imagens para tumores ginecológicos.
Também atua com o apoio do Laboratório de Patologia, com patologistas especializados. Então, tanto no quesito de diagnóstico como de tratamento, o Moinhos tem um time de primeira linha, com pessoas dedicadas e que que estudam muito esse tema.
Quais são os conselhos que o senhor gostaria de deixar às nossas leitoras?
Dr. José Roberto Rossari - É importante reforçarmos a necessidade da informação. Então, é bom que as mulheres leiam e conversem sobre esse assunto, seja com seu médico ou com as pessoas que têm contato.
Também é imprescindível que a população entenda que a vacina é algo extremamente benéfico e que, com ela, podemos imaginar, pela primeira vez, uma geração de mulheres e homens que não vão ter infecção pelo HPV. Então, é uma doença que a gente pode, mesmo, erradicar, como prevê a OMS.
Já para quem não está mais na idade de ser vacinada, é preciso seguir regularmente as visitas à ginecologista e fazer o Papanicolau regularmente, como é recomendado. Assim, é possível aumentar as chances de um diagnóstico precoce e tomar medidas antes de que uma alteração se torne realmente um câncer.
Fonte: Dr. José Roberto Rossari (CRM 23975) é oncologista clínico do Moinhos de Vento e coordenador do grupo de Onco-Ginecologia do Hospital.