O envelhecimento não chega de uma só vez e nem se faz de repente. O nosso corpo vai envelhecendo dia a dia, lentamente, durante toda a nossa existência. Por essa razão, costuma-se dizer que ele é um processo natural da vida, e cada um de nós faz sua própria trajetória, envelhecendo de maneira única e individual, pois as experiências que vivenciamos dizem respeito a cada um de modo particular. Com o passar do tempo, a nossa capacidade de adaptação a doenças ou incapacidade de viver com independência vão se esgotando devido a perdas lentas e progressivas e a saúde mental pode ser afetada de forma muito importante. A presença de doenças, especialmente as crônicas, e a existência de hábitos de vida considerados inadequados, como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, entre outros, constituem um grande desafio para a saúde das pessoas idosas. As condições sociais experimentadas no cotidiano do idoso, aliadas às limitações psicofísicas decorrentes do processo de envelhecimento, tendem a configurar uma situação de saúde em que a dinâmica psicológica pode se mostrar comprometida. Considerando as alterações neurológicas discretas, tais como os variados graus de demência senil, até as síndromes mais graves, como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson, passando por distúrbios de caráter psicossocial, como depressão e situações de abuso por algum tipo de violência ou negligência, deduzimos que a população idosa brasileira apresenta alta prevalência de transtornos mentais, comportamentais e psicodinâmicos. As principais recomendações que visam o bem-estar físico, mental e social dos idosos estão relacionadas ao envelhecimento ativo com segurança econômica, social e ambiental. Para esse fim, devemos observar os seguintes aspectos:
  • Econômicos: Renda, seguridade social, aposentadoria, moradia e alimentação saudável.
  • Sociais: Vínculos familiares, apoio social, educação continuada, proteção contra a violência e maus tratos, além de acesso a serviços como programas de bem estar e promoção da saúde, prevenção de doenças, cuidados primários, assistência à saúde física e mental e acesso a medicamentos.
  • Comportamentais e pessoais: Estilo de vida saudável e participação ativa no cuidado da própria saúde, auto eficácia e capacidade cognitiva.
No que se refere à saúde mental da pessoa idosa, a aquisição de um envelhecimento ativo encontra desafios, principalmente em função de riscos como, por exemplo, o sofrimento psíquico causado pela depressão e ansiedade. A ansiedade é um sentimento incomodativo, disperso e indefinido, que pode ser acompanhado de sensações como um desconforto no estômago, aperto no peito, tremores e falta de ar. Na maioria dos casos, é uma reação normal ao estresse, no entanto, quando a ansiedade se transforma num medo excessivo, pânico e desenvolvimento de fobias, ela passa a ser patológica e transforma-se num transtorno incapacitante, conhecido como transtorno de ansiedade. Nos idosos os principais sintomas são a dificuldade de concentração, desorientação e perda de memória, dores musculares, dores de cabeça, falta de ar, transpiração excessiva, fadiga, irritabilidade, tensão muscular e dificuldade para dormir. A depressão é uma enfermidade que afeta milhões de pessoas em todo o mundo sendo as mulheres mais atingidas pela doença do que os homens. O cenário se torna mais grave, pois o acesso à rede de cuidados é difícil na maioria dos países. Em alguns lugares, menos de 10% das pessoas que sofrem de depressão recebem tratamento. O sentimento de solidão, inatividade, inutilidade, falta de projetos de vida, tendência a reviver o passado, perda de entes queridos, viuvez, mudança forçada de domicílio ou situações de desamparo são fatores que devem ser abordados de forma adequada pelos familiares, cuidadores e profissionais da saúde, estimulando um comportamento mais saudável e possibilitando acesso aos tratamentos clínicos e suporte psicológico. Outro problema que afeta a saúde mental do idoso é a demência que é um problema grave, provocado por vários tipos de lesões no cérebro, perturbando as funções intelectuais e evoluindo de forma progressiva. É provocada por lesões em áreas do cérebro onde residem as funções intelectuais superiores, como a consciência, a elaboração da linguagem, a automatização dos movimentos, a memória e a aprendizagem. As manifestações são bastante diferentes, pois dependem da localização das lesões. A alteração inicial mais frequente é a perda de memória. Outras manifestações comuns são a dificuldade em realizar movimentos automatizados como pentear-se, barbear-se, limpar-se, vestir-se ou para comer, além de alguma instabilidade emocional e alterações progressivas da linguagem. O transtorno bipolar do humor é uma doença que vem aumentando sua expressão na população em geral. Caracteriza-se por desequilíbrios no humor que se modificam de acordo com os acontecimentos da vida. Quando ocorre um transtorno do humor significa que a pessoa reage de modo incompatível ou exagerado a determinada situação. Esse desequilíbrio no humor tanto pode ser positivo (estado maníaco) como negativo (estado depressivo). Os sintomas deste transtorno nos idosos são semelhantes aos dos adultos mais jovens e incluem euforia, humor expansivo e irritável, necessidade diminuída de sono, distração e impulsividade, podendo levar ao consumo excessivo de álcool e medicamentos psicotrópicos. No entanto, a dependência de álcool, geralmente, apresenta uma história de consumo excessivo que começou na idade adulta. Já a dependência de substâncias como hipnóticos, ansiolíticos e narcóticos é comum no idoso para o alívio da ansiedade ou insônia. Um estudo que explorou a Terapia Comunitária como estratégia de valorização e respeito as vivências de cada idoso na construção de saberes, desenvolvendo ações terapêuticas que proporcionam o equilíbrio físico, mental e o fortalecimento de sua identidade e cidadania evidenciou benefícios à saúde mental dos idosos. Resgatar a espiritualidade como elemento fortalecedor na identidade do idoso e um sustentáculo nos momentos de sofrimento, além da escuta das histórias de vida de cada pessoa concorrem para a superação dos desafios cotidianos. A partilha de vida desses idosos auxilia na redução do sofrimento emocional concorrendo para recuperação de vínculos familiares e sociais, objetivando a formação de redes de apoio solidário e busca de soluções para os problemas em questão. Outro estudo demonstrou a importância da adoção de um estilo de vida ativo por parte da população idosa no que se refere à esfera positiva da saúde mental e obtenção de níveis mais elevados de autoestima, satisfação com a vida e crescimento pessoal, permitindo aos idosos redescobrir novas e melhores formas de estar na vida de uma forma mais autônoma e independente.
Artigo produzido pelo Dr. Sergio Fernando Monteiro Brodt, chefe do Serviço de Medicina Interna do Hospital Moinhos de Vento.

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