O Dia do Abraço surgiu como um lembrete de aproveitar o momento para se aproximar das pessoas que amamos, abraçando-as de verdade, com muito carinho, transformando um simples gesto em algo mágico e único. Afinal, um abraço não custa nada e faz muito bem tanto para quem dá, quanto para quem recebe. Em tempos de distanciamento social, abraço e contato físico passaram a ser muito mais desejados e valorizados pelas pessoas, comportamento que não é em vão: as consequências destes gestos tão pequenos possuem profundas explicações científicas, comprovando que o afeto físico é tão importante quanto se alimentar bem. Para esclarecer mais sobre o assunto, conversamos com a Dra. Lorena Caleffi, psiquiatra da Clínica de Dor do Hospital Moinhos de Vento e do Núcleo Mama Moinhos. Ela nos contou, com muitos detalhes, sobre como o contato físico é importante na vida do ser humano desde o seu nascimento.

O papel do contato físico na infância

Segundo a Dra. Caleffi, o contato físico, associado a outros fatores, auxilia na percepção do limite entre o ‘eu’ e o ‘outro’. É através do limite corporal que aprendemos a definir a percepção de nós mesmos na primeira infância. Esse é o começo da nossa capacidade de percepção de sentimentos, tanto físicos quanto emocionais – o que nos permite desenvolver nosso mundo interno e os relacionamentos com os outros. Para ela, dar-se conta de que somos um indivíduo em si mesmo, separado dos outros, faz parte do nosso crescimento afetivo. Tanto para internalizar qualidades e capacidades, quanto para perceber o que não somos. Além disso, crianças que sofreram alguma privação de afeto físico possuem maior probabilidade de apresentar dificuldades de relacionamento ao longo da vida, em ambientes escolares e no trabalho, por exemplo, por terem dificuldades de percepção dos outros como seres humanos.

O abraço: a importância, o vazio e o limite

Abraçar é uma potente terapia! Pesquisas apontam que abraçar é extremamente efetivo no auxílio à cura de certas doenças, como depressão e ansiedade. Além disso, também contribui para a melhora da memória. No entanto, uma pesquisa realizada pela Universidade de Viena (Áustria), assinada pelo neurofisiologista Jürgen Sandkühler, indicou que só existem benefícios quando abraçamos alguém de quem gostamos e confiamos. Abraçar uma pessoa não tão agradável, pode causar um efeito contrário: “Quando não gostamos daquela pessoa que nos abraça, nosso corpo libera cortisol, o hormônio do estresse. Nesses casos, interpretamos que está ocorrendo uma violação do nosso espaço pessoal e nos sentimos ameaçados”, disse o pesquisador em entrevista sobre o estudo. Falar em limites de afeto físico é falar, também, em abuso: o contato físico deixa de ser afetivo quando passa a ser abusivo, ou seja, causa danos, sejam eles corporais e/ou emocionais. O “tipo de abraço” pode variar conforme o grau de força com a qual ele é executado. A linha tênue entre um toque de carinho e um aperto é definida pela quantidade de força empregada no gesto. Considerando isso, um abraço pode aliviar ou sufocar.

Quanto mais abraço, melhor

Para alguns especialistas, todos nós precisamos de abraços diários para nossa sobrevivência e 8 seria o número mínimo de abraços diários para garantir isso. Conforme a Dra. Lorena, a nível emocional, começar um abraço é tão importante quanto terminá-lo, dado que um abraço reconforta. Ser abraçado traz sentimentos de plenitude e pertencimento, enquanto não ser abraçado faz lembrar daquilo que nos falta. O abraço serve então para aliviar a saudade e as ausências, na chegada e na despedida. O abraço também tem um caráter de intimidade, sobretudo entre casais. Nesse sentido, podemos pensar em um continuum metafórico, que iria desde o abraço físico – aproximar-se fisicamente do ser amado – até o “abraço” psíquico – receber o outro no universo emocional de cada um. Indivíduos que cresceram sem estas experiências afetivas tendem a apresentar traços sociopáticos na idade adulta.

Um abraço entre espécies

O afeto físico pode ser observado também em outras espécies e não só nos seres humanos. Muitos experimentos comportamentais (de apego e separação, por exemplo) realizados com mamíferos, comprovam que uma parcela deles têm um funcionamento bastante semelhante ao do homem nesse sentido. Algumas espécies se assemelham, inclusive, no funcionamento cerebral a nível de neurotransmissores. Por isso, conviver com outras espécies pode ser benéfico para abrandar sentimentos de solidão e inutilidade, prevenindo, muitas vezes, sintomas depressivos. A Dra. Lorena conclui sua fala dizendo que, certamente, a troca de afeto físico com outras espécies não substitui a experiência com outros seres humanos. A convivência, o toque, o abraço, garantem a noção de si mesmo em indivíduos saudáveis. É por isso que datas como o Dia do Abraço se tornam válidas, pois incentivam a nos manter conectados com nosso próprio “eu” através da percepção do mundo externo.

Coronavírus e o anti-abraço

Isolamento social é a ordem do momento para controlar e prevenir a propagação do coronavírus no Brasil. Entretanto, ainda que vivamos na era da internet e das redes sociais, onde as fronteiras foram aproximadas, modificando a forma de se comunicar e se relacionar, a privação de contato físico mostrou que o abraço é insubstituível. Como seres relacionais, a comunicação começa exatamente no encontro dos corpos, afinal, o corpo é também um instrumento de diálogo com o mundo – no Brasil, essa característica é ainda mais forte do que em outros países. Mesmo que essa geração esteja marcada pelos dispositivos tecnológicos e o crescimento de presença nas redes digitais – o que tem aliviado muita gente nessa quarentena -, fomos obrigados a refletir sobre a importância e a necessidade do encontro dos corpos, do toque, do afeto e do abraço. E você? Já pensou em quem vai dar muitos abraços depois da pandemia do coronavírus?

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Prêmios e Certificações

Entrada 1 - Rua Ramiro Barcelos, 910 - Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, 90035-000
Entrada 2 - Rua Tiradentes, 333
Av. João Wallig, 1800 - 3º andar - Shopping Iguatemi Porto Alegre
Avenida Cristóvão Colombo, 545 - Espaço Comercial P5-1