O pré-diabetes pode ser visto como um sistema de alarme que dispara quando o risco de desenvolver o diabetes aumenta. A analogia é da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD). Entretanto, segundo uma pesquisa desenvolvida pela própria entidade, a maioria das pessoas não sabe o que é o pré-diabetes. Ou seja, desconhecem que o seu organismo está pré-diabético e desperdiçam uma grande chance de reverter este quadro, o que também evitaria outras patologias extremamente sérias que afetam outros órgãos, como o coração, rins e olhos, por exemplo.

A Sociedade Brasileira de Diabetes explica que o termo “pré-diabetes” é usado quando os níveis de glicose no sangue estão mais altos do que o normal, mas não o suficiente para um diagnóstico de Diabetes Tipo 2. Obesos, hipertensos e pessoas com alterações nos lipídios estão no grupo de alto risco.

Ainda segundo a SBD, o pré-diabetes é especialmente importante por ser a única etapa na qual, de fato, poderia ser revertida ou adiada a evolução para o diabetes e suas complicações. Entretanto, 50% dos pacientes nesse estágio vão desenvolver a enfermidade. De acordo com a International Diabetes Federation, entidade ligada à ONU, existem mais de 380 milhões de pessoas com diabetes no mundo. Já no país, são mais de 13 milhões de brasileiros.

Para esclarecer sobre o tema, o blog Saúde e Você conversou com o endocrinologista Dr. Guilherme Rollin, chefe do Serviço de Endocrinologia e Nutrologia do Hospital Moinhos de Vento.

O que é o pré-diabetes?

Dr. Guilherme Rollin - “O pré-diabetes é um estado de transição entre a normalidade da glicose e o diagnóstico de diabetes Tipo 2, propriamente dito. Então, pessoas que estão nesse estágio de pré-diabetes têm um risco aumentado de evoluir para diabetes Tipo 2, considerando indivíduos que não estão.”

Conforme a Sociedade Brasileira de Diabetes, o Tipo 2 aparece quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz; ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia. Cerca de 90% das pessoas com diabetes têm o Tipo 2. Ele se manifesta mais frequentemente em adultos, mas crianças também podem apresentar. Dependendo da gravidade, pode ser controlado com atividade física e planejamento alimentar. Em outros casos, exige o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose.

Quais os exames que confirmam o pré-diabetes?

Dr. Guilherme Rollin - “Do ponto de vista de conceito, a glicemia em jejum normal (analisada em exame de sangue) é até 99 mg/dL (miligramas por decilitro) e o diabetes é a partir de 126 mg/dL. Então, glicemias entre 100 mg/dL e 125 mg/dL são consideradas pré-diabetes. 

Outra maneira de avaliar é através da hemoglobina glicada. Trata-se de um exame de sangue que reflete uma média da glicemia nos últimos três meses. O normal do valor da hemoglobina glicada menor que 5,7% e o diabete é a partir de 6,5%. Assim, entre 5,7% e 6,4% nós temos o diagnóstico de pré-diabetes. Não chegou ainda no diabete, mas está um pouquinho acima da normalidade.”

Afinal, estar com pré-diabetes é preocupante?

Dr. Guilherme Rollin - “Toda a pessoa que tem pré-diabetes deve se preocupar porque tem maiores chances de evoluir para o diabetes. E essa evolução implica em maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares e outras complicações crônicas associadas ao diabetes.”

A Sociedade Brasileira de Diabetes observa que muitos pacientes, ao serem comunicados de que estão neste estágio da enfermidade, não enxergam a oportunidade de reverter o quadro. Deixam para se cuidar apenas quando o problema se agrava. Todavia, a SBD alerta que o pré-diabetes pode prejudicar nervos e artérias, favorecendo diversos outros males, a exemplo de infarto e derrames.

Como reverter o estado de pré-diabetes?

Dr. Guilherme Rollin - “Para reverter o estado de pré-diabetes e voltar à normalidade, ou seja, para reduzir o nível da glicemia de jejum (até, no máximo, 99 mg/dL) e da hemoglobina glicada (até 5,6%), é preciso adquirir hábitos de vida saudáveis, como atividade física regular, alimentação saudável e reduzir peso. 

Aliás, é fundamental reduzir o peso. A maioria das pessoas que estão no estado de pré-diabetes estão com sobrepeso ou obesidade. Dessa forma, uma alimentação saudável, pobre em gorduras saturadas e com restrição de carboidratos ajuda a diminuir o peso. Fazer exercício também ajuda a diminuir o peso e aumenta a ação da insulina, ou seja, amplia a metabolização da glicose e, assim, há maior chance de reverter o quadro de pré-diabetes para a normalidade. 

Também existem medicações específicas que podem ajudar nesse contexto. Para isso, é recomendado que o paciente consulte o seu endocrinologista, que poderá avaliar o caso e definir qual é a medicação que poderá lhe beneficiar. Contudo, essas medidas de estilo de vida são as mais importantes.”

Como o Hospital Moinhos de Vento pode ajudar os pacientes com pré-diabetes?

Dr. Guilherme Rollin - “O Hospital Moinhos de Vento possui um Ambulatório de Endocrinologia Geral e um Ambulatório de Diabetes. Em breve, será inaugurado um Ambulatório de Obesidade. Dessa maneira, os pacientes podem ser atendidos de modo multidisciplinar para tentar melhorar esse estado de pré-diabetes, contribuindo para que os índices glicêmicos regridam à normalidade.”

Qual é a mensagem que o senhor deixa aos pacientes com pré-diabetes?

Dr. Guilherme Rollin - “O diabetes e o pré-diabetes estão associados ao aumento de peso, sobrepeso ou obesidade e inatividade física. Assim, melhorando os hábitos de vida e conseguindo reduzir o peso, o indivíduo poderá prevenir a evolução para o diabetes, o que é fundamental, pois, uma vez estabelecido o diagnóstico da doença, a pessoa terá um risco maior de desenvolver doenças cardiovasculares, renais e oculares.”

Fonte: O Dr. Guilherme Rollin (CRM 21.531) é chefe do Serviço de Endocrinologia e Nutrologia do Hospital Moinhos de Vento.