O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) publicou em fevereiro  deste ano a Estimativa 2020 de Incidência de Câncer no Brasil. Segundo o relatório, o país terá 625 mil novos casos a cada ano no triênio 2020-2022. Depois do câncer de pele não melanoma, com 177 mil, os mais registrados serão os diagnósticos de mama e de próstata, 66 mil cada; cólon e reto, 41 mil; pulmão, 30 mil e estômago, 21 mil. No entanto, avanços da medicina têm aprimorado o diagnóstico e tratamento de diversos tipos de cânceres no país, o que melhora o prognóstico dos pacientes. “Além do mais, com o advento da imunoterapia, vários cânceres que eram incuráveis agora podem ser curados, com destaque especial para o melanoma, câncer de pulmão, câncer de rim e câncer de bexiga. O maior desenvolvimento de pesquisa clínica em nosso país é o caminho para que possamos ajudar mais os nossos pacientes”, pondera Pedro Isaacsson Velho, médico do Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento.

Novidades no diagnóstico e tratamento do câncer

Ao clássico tripé composto por cirurgia, quimioterapia e radioterapia somam-se novos conhecimentos e tecnologias. As terapias-alvo, as vacinas e a imunoterapia – que visam estimular as defesas do organismo para atacar o tumor – são alguns exemplos dos recentes avanços.

Câncer de Pele

Conforme Felipe Rezende de Pinho, médico Cirurgião Oncologista do Hospital Moinhos de Vento, o que se tem de mais avançado no diagnóstico de câncer de pele no nosso estado é o mapeamento corporal total com dermatoscopia digital. É realizado pelo médico dermatologista periodicamente e permite a detecção de tumores cutâneos em estágio inicial. O exame é indicado para pessoas com múltiplas pintas, principalmente nos casos em que há histórico pessoal ou familiar de melanoma. Pessoas com poucas lesões de pele ou de baixo risco para o desenvolvimento de melanoma podem ser acompanhadas com exame dermatológico convencional. A cirurgia é o tratamento com melhores resultados oncológicos para os casos de Carcinoma Basocelular, Carcinoma Espinocelular e Melanoma, que são responsáveis por cerca de 99% dos casos de câncer de pele. Este 1% restante é formado por uma miríade de diferentes neoplasias, sendo a cirurgia também o tratamento mais adequado na maioria delas. “Acabamos optando por tratamento não cirúrgico principalmente naqueles pacientes que não desejam ou não tem condições clínicas de serem submetidos à cirurgia. Independente do tratamento, sempre que temos uma lesão cutânea suspeita está indicada no mínimo uma biópsia cirúrgica adequada para o diagnóstico correto do tumor”, explica.

Câncer de Mama

“Cada vez menos a idade deve nortear o uso da mamografia”, destaca Maira Caleffi, chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento. Mulheres que têm parentes de primeiro grau com câncer de mama ou ovário registrados antes dos 49 anos precisam iniciar o exame de rotina pelo menos 10 anos antes do familiar com câncer. Já as mulheres sem histórico familiar, podem realizar a mamografia a partir dos 40 anos e, de preferência, acompanhado de ecografia mamária para definir lesões císticas (benignas) de sólidas (malignas). “O diagnóstico de câncer de mama por imagem, ainda sem nódulos ou outros sinais aparentes na mama, é o nosso principal desafio para mudar o números de casos avançados que ainda vemos. Portanto, associar tecnologia, mamografia, ecografia, ressonância magnética e até biópsias são fundamentais para ajudar o exame físico feito pelo médico”, complementa. Como o principal fator de risco é idade, ou seja, quanto mais idade maior a incidência de câncer de mama, a conscientização de mulheres acima dos 70 anos, seus familiares e cuidadores deve ser muito estimulada e a mamografia está indicada mesmo nessa faixa etária.

Câncer de Próstata

A doença pode ser assintomática ou apresentar sintomas urinários (aumento da frequência urinária, sangramento, urgência e incontinência), ou, em estado avançado, ocasionar dores ósseas. Quando a doença está localizada, cirurgia, radioterapia e hormonioterapia podem ser indicados. Nos estágios avançados, a hormonioterapia e a quimioterapia são mais utilizadas. O chefe de Serviço da Urologia, Eduardo Carvalhal, apresenta algumas das mais recentes formas de diagnóstico e tratamento adquiridas pelo Hospital para o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens. Entre as formas de diagnóstico estão a biópsia de próstata com fusão de imagens da ressonância magnética e o PET-CT com PSMA. Para o tratamento, a disponibilidade do Xofigo, medicamento radioativo específico para metástases ósseas, e a incorporação da imunoterapia, são armas recentes no tratamento da doença mais avançada. Além disso, conta com os mais modernos equipamentos de Radioterapia. Chamada de Prostatectomia Radical, a cirurgia é uma recomendação médica para muitos casos de doença localizada. A técnica que tem revolucionado esta cirurgia é a robótica, que atua para atender pacientes que precisam passar por procedimentos mais delicados, unindo tecnologia e conhecimento médico na busca por desfechos clínicos positivos. É uma grande aliada nos procedimentos cirúrgicos em que os espaços são limitados ou em que é necessário uma maior preservação das estruturas adjacentes à próstata, na busca de uma melhor recuperação funcional do paciente. “Atualmente, o Moinhos de Vento está equipado com as tecnologias mais avançadas disponíveis em nível mundial no tratamento do câncer de próstata’’, evidencia o médico.

Câncer de Intestino

Estudos recentes apontaram um aumento na incidência de câncer de intestino antes dos 50 anos na última década. Por conta destes novos dados, a American Cancer Society reduziu a idade de início dos exames de rastreamento para 45 anos de idade. A recomendação é a mesma tanto para homens quanto para mulheres. Conforme Rui Fernando Weschenfelder, médico do Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de vento, a idade de início dos exames pode ser mais precoce caso exista alguma síndrome familiar diagnosticada ou familiares próximos que tenham sido diagnosticados com câncer de intestino antes dos 55 anos de idade. “Nestes casos, faz-se a seguinte conta: a idade da pessoa diagnosticada menos 10. O resultado é a idade em que os demais membros devem começar os exames”, esclarece. Em alguns casos, a necessidade de exame preventivo pode ser ainda mais cedo do que o cálculo acima.

Câncer de Pulmão

O Rio Grande do Sul está entre os estados com maior incidência de câncer de pulmão, segundo o Inca. “Prevenir é o caminho, não fume ou pare de fumar se é tabagista. Mas, os casos existem. E o que aumenta realmente as chances de cura da doença é a identificação precoce e o tratamento com os métodos mais adequados, de forma multidisciplinar”, comenta o chefe do Serviço de Pneumologia do Moinhos de Vento, Marcelo Gazzana. Programas de busca de casos precoces com tomografia de baixa dose e com equipamentos de alta resolução estão entre as principais novidades para a detecção precoce da doença. Para o diagnóstico, destaca-se a biópsia líquida, a ecobroncoscopia e as pesquisas moleculares. Já o tratamento, contempla a cirurgia robótica, novos medicamentos imunoterápicos e equipamentos mais avançados de radioterapia.