Anualmente, a comunidade mundial é convidada a se vestir com alguma peça na cor roxa, no dia 26 de março. A ideia é conscientizar sobre a epilepsia, que ainda gera muitas dúvidas na população. Esta ação integra uma campanha global chamada de Março Roxo, da qual o Ministério da Saúde participa, alertando sobre a importância de falar sobre o assunto e visando incentivar a busca pelo diagnóstico precoce. Mas será que toda a convulsão é uma crise epilética? Existe tratamento? Para sanar estas e outras questões, o Dr. José Augusto Bragatti, coordenador do Ambulatório da Epilepsia do Serviço de Neurologia do Hospital Moinhos de Vento, trouxe algumas explicações bem didáticas:

Como diferenciar a convulsão da epilepsia?

Dr. José Augusto Bragatti - Na realidade não existe esse dilema. São conceitos diferentes. A epilepsia faz parte de um conceito maior, pois trata-se de uma doença cerebral que se manifesta por meio de crises epiléticas. Ou seja, qualquer descarga elétrica anormal, que ocorra espontaneamente no cérebro, por algum distúrbio ou alguma doença, é chamado de epilepsia.

Já as convulsões são crises epiléticas que têm manifestação motora. Elas podem ser de vários tipos e o indivíduo pode ter abalos musculares ou, eventualmente, cair no chão e tremer o corpo. Mas também podem existir crises epiléticas que não têm manifestação motora nenhuma. Como as crises de ausência, em que o paciente simplesmente fica com olhar fixo, parado, com o comportamento totalmente paralisado por alguns segundos e volta a si. Ambas, são manifestações clínicas de epilepsia.

Vale lembrar que nem todo o indivíduo que sofre uma crise epilética é, necessariamente, portador de epilepsia. Existem inúmeras situações que podem gerar uma crise, numa fase aguda, e que não necessariamente produzirão novas crises no futuro. As situações mais comuns que podem gerar essas chamadas crises sintomáticas agudas (e que não representam, a princípio, uma epilepsia), são: trauma craniano, AVC agudo, distúrbios metabólicos e intoxicações medicamentosas.

De forma objetiva, o que é a convulsão e a epilepsia?

Dr. José Augusto Bragatti - Então, convulsão é uma crise epilética com manifestações motoras e a epilepsia é uma doença cerebral que pode desencadear crises epiléticas, a partir de descargas elétricas anormais que ocorrem no cérebro.

Como tratar a epilepsia?

Dr. José Augusto Bragatti - O tratamento da epilepsia, em geral, é feito através do controle das crises epiléticas, sejam elas convulsões ou sem manifestações motoras. Inicialmente, são indicados fármacos anticrise em doses adequadas, que, paulatinamente, podem ser ampliadas de acordo com o parecer do médico.

Mesmo assim, 30% dos pacientes acabam sendo resistentes ao tratamento farmacológico. E isso, depois de uma série de testes, de combinações de medicações, ou seja, de um processo relativamente longo.

E o que fazer se a medicação não der o resultado esperado?

Dr. José Augusto Bragatti - Existem outras formas de tratamento mais avançadas, caso o médico constate que, depois de alguns anos, o paciente tem uma epilepsia refratária ou fármaco-resistente. Então, mesmo que se esgotem todos os medicamentos possíveis, nas doses máximas adequadas, existem outras alternativas.

A primeira delas é o tratamento cirúrgico, que depende de uma avaliação específica, pois o paciente tem que ter uma lesão bem definida, que possa ser retirada cirurgicamente. Além disso, ela não pode estar em uma área importante que afete as funções nobres do cérebro, como linguagem, controle motor e visão, por exemplo.

Também contamos com a estimulação do nervo vago, com a colocação de um tipo de marcapasso que gera uma estimulação intermitente e ajuda a tratar a epilepsia. Aliás, este procedimento vem sendo indicado para outros problemas neurológicos e, inclusive, o Dr. Alexandre Reis, tem realizado muitas instalações aqui no Hospital relacionadas a alguns distúrbios do movimento. Por sua vez, o Dr. Eliseu Paglioli Neto, outro neurocirurgião com grande experiência, também tem contribuído muito no tratamento cirúrgico das epilepsias e, juntamente com o Dr. Reis, tem dado um grande acréscimo no manejo dos pacientes do Ambulatório.

Como socorrer quem está tendo um ataque epilético?

Dr. José Augusto Bragatti - O socorro ao paciente com ataque epilético consiste, basicamente, em protegê-lo de lesões maiores, impedindo que se machuque e, eventualmente, evitando que aspire o próprio vômito (caso tenha feito uma refeição recente).

Portanto, é indicado deixá-lo deitado, com o rosto virado para o lado, e segurar a cabeça do indivíduo para que não bata no chão, porque, nas crises, a pessoa pode fazer movimentos muito violentos e involuntários.

A partir de então, é preciso manter a calma, pois as crises epiléticas levam poucos instantes para passar, mesmo que pareçam uma eternidade para quem as acompanha. Indicadores confirmam que, mais de 95% delas, cessam, espontaneamente, em dois minutos. Caso não passem, é preciso tomar uma providência e transferir o paciente para uma emergência, a um hospital, para que seja tratado através de fármacos endovenosos.

Como ajudar uma criança que está tendo uma convulsão?

Dr. José Augusto Bragatti - Se for uma criança, o procedimento é basicamente o mesmo. Lembrando que não podemos colocar nada na boca do paciente que está convulsionando, muito menos o dedo de quem o está atendendo, pois as contrações são muito violentas e, às vezes, há mordedura. Também é preciso evitar colocar objetos metálicos, como colheres na boca da pessoa, pois isso vai acabar quebrando os seus dentes. Então, é virar o rosto para o lado, cuidar para que não bata a cabeça e aguardar que a crise passe.

Quais são as novidades do Hospital Moinhos para o paciente com epilepsia?

Dr. José Augusto Bragatti - Um dos avanços do Hospital Moinhos de Vento encontra-se no Núcleo de Neurofisiologia, na área da eletroencefalografia, pois, agora, contamos com a vídeo eletroencefalografia. Este exame é importante para avaliar o paciente com epilepsia e fazer um diagnóstico mais preciso, principalmente para aqueles que têm dificuldade em controlar a doença com os remédios e procuram por um tratamento alternativo, como o cirúrgico.

Destaques da Organização Mundial da Saúde (OMS):

- A epilepsia é uma doença crônica não transmissível do cérebro que afeta pessoas de todas as idades;

- Cerca de 50 milhões de indivíduos, em todo o mundo, têm epilepsia, tornando-se uma das doenças neurológicas mais comuns no planeta. No Brasil, acomete cerca de 2% da população;

- Estima-se que até 70% das pessoas que vivem com epilepsia podem viver livres de convulsões se devidamente diagnosticadas e tratadas;

- O risco de morte prematura em pacientes com epilepsia é até três vezes maior do que para a população em geral;

- Em muitas partes do mundo, as pessoas com epilepsia e suas famílias sofrem de estigma e discriminação.

Fale com a equipe do Ambulatório da Epilepsia

Caso tenha ficado com dúvidas, entre em contato com os profissionais do Ambulatório da Epilepsia, no telefone (51) 3314-3434. A equipe de especialistas está pronta para oferecer o melhor tratamento clínico disponível e, quando necessário, também o tratamento cirúrgico. O Ambulatório fica na Rua Tiradentes, 333, no 11º andar, do Bloco B, em Porto Alegre (RS).

Fonte: Dr. José Augusto Bragatti (CRM 13234) é coordenador da área de Epilepsia, do serviço de Neurologia do Hospital Moinhos de Vento.

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Prêmios e Certificações

Entrada 1 - Rua Ramiro Barcelos, 910 - Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, 90035-000
Entrada 2 - Rua Tiradentes, 333
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Avenida Cristóvão Colombo, 545 - Espaço Comercial P5-1