O Dia Mundial da Asma é organizado pela “Global Initiative for Asthma”, uma entidade que colabora com a Organização Mundial da Saúde. Anualmente, a data acontece na primeira terça-feira de maio, que, em 2023, é celebrado dia 2, com o tema “Cuidados com a asma para todos”. Mas quais seriam estes cuidados? E quando é necessário procurar um atendimento hospitalar urgente?

Você sabia que esta doença, apesar de totalmente prevenível e absolutamente controlável, quando não avaliada e tratada, causa cinco óbitos por dia no Brasil? E que cerca de 51,2% dos asmáticos não conseguem manter a enfermidade controlada? Para esclarecer sobre o tema, o blog Saúde & Você conversou com o Dr. Pierangelo Tadeu Baglio, pneumologista do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento e responsável pelo Ambulatório de Asma do Hospital.

Mas o que é a asma?

Dr. Pierangelo Tadeu Baglio: A asma é uma doença que se caracteriza por uma inflamação crônica das vias respiratórias, que tem uma base genética. Ou seja, o indivíduo já nasce com essa predisposição e, a partir da interação com fatores do meio ambiente, como poluição, alérgenos ou vírus, ele acaba desenvolvendo sintomas relacionados à enfermidade.

Também não é raro encontrar na família de um paciente outros asmáticos, o que ressalta o aspecto genético e hereditário da doença. Mas é importante observar que a asma resulta da interação dos dois fatores: a predisposição que a pessoa traz ao nascer com a interação do meio ambiente (com exposições, que vão acabar resultando nos sintomas).

E quais são as diferenças entre asma, bronquite asmática e bronquiolite?

Dr. Pierangelo Baglio: Na verdade, asma ou bronquite asmática são duas formas diferentes de denominar a mesma doença. O nome oficial da patologia é asma brônquica, mas, popularmente, ela é conhecida como bronquite asmática ou simplesmente asma.

E como ela se diferencia da bronquiolite? A asma é uma doença não infecciosa, que se caracterizada pela inflamação crônica das vias respiratórias. Ao passo que a bronquiolite, via de regra, é uma situação causada por uma infecção que acomete muito frequentemente crianças, na faixa etária pré-escolar ou escolar, normalmente causada por um vírus (sincicial respiratório). Então, a bronquiolite normalmente é uma condição infecciosa e a asma brônquica é uma condição inflamatória não infecciosa.

A asma tem cura?

Dr. Pierangelo Baglio: A asma é uma doença crônica que, infelizmente, ainda não tem cura, mas o tratamento avançou muito nas últimas décadas. Especialmente, nos últimos anos. Hoje em dia, contamos com um arsenal terapêutico bastante amplo, como corticoides e broncodilatadores inalatórios, que podem oferecer uma qualidade de vida excelente ao paciente, livrando-o de sintomas e de crises.

O que é recomendado ao paciente com asma grave?

Dr. Pierangelo Baglio: Paciente com asma grave é aquele que está fazendo o seu tratamento regularmente, usando as medicações inalatórias de modo contínuo e adequado, e não possui nenhum outro fator interferindo no controle da sua doença. Entretanto, mesmo assim, não tem a enfermidade controlada e interna com frequência.

Para estes casos, oferecemos as terapias-alvo. São os chamados imunobiológicos, que vão atuar sobre as rotas inflamatórias da doença. Estes pacientes, considerados graves, correspondem de 3% a 5% do universo geral de asmáticos.

Quais são as definições sobre a asma?

Dr. Pierangelo Baglio: Atualmente, em relação à asma, temos a doença controlada, a não controlada e os casos graves. Não falamos mais em asma leve, pois ela pode dar uma falsa sensação de controle e, se não tratada, pode apresentar uma piora do quadro, com uma crise.

Como evitar uma crise de asma?

Dr. Pierangelo Baglio: Para evitar a crise de asma são necessárias medidas conjuntas. O principal é que o paciente siga um acompanhamento médico, com seu pneumologista, que vai poder lhe indicar o tratamento mais adequado. E ele deve seguir as orientações e o tratamento prescrito, com continuidade.

Qual é o principal erro que comete um paciente com asma?

Dr. Pierangelo Baglio: Existe um erro muito frequente que observamos nos pacientes com asma: ao perceberem que há uma melhora dos sintomas, pensam que é possível interromper o tratamento. Como não estão sentindo mais nada, acreditam que estão com a doença controlada e deixam de seguir as recomendações médicas. Então, o indivíduo volta a apresentar sintomas e a ter risco de crises.

Quais os cuidados que o paciente asmático deve ter em casa?

Dr. Pierangelo Baglio: Sem dúvida alguma, ele precisa controlar os fatores ambientais. Ou seja, o quarto do paciente ou o seu local de trabalho devem estar sempre limpos, livres de pó, umidade, mofo ou carpetes. Também é importante manter os ambientes bem ventilados e seguir com o tratamento medicamentoso, prescrito pelo especialista.

Como identificar o princípio da asma?

Dr. Pierangelo Baglio: Se o paciente está apresentando sintomas respiratórios recorrentes, como falta de ar (ao fazer esforços ou mesmo parado) ou tem uma tosse crônica e um chiado no peito, ele deve passar por uma avaliação médica, preferencialmente com um pneumologista. O médico vai fazer um diagnóstico para verificar o que, exatamente, está acontecendo. Pode ser asma ou alguma outra doença respiratória, mas, a partir da recorrência de sintomas, é importante que a pessoa seja avaliada.

E, finalmente, como saber se a crise de asma é grave e necessita de atendimento hospitalar urgente?

Dr. Pierangelo Baglio: Se os sintomas do paciente são muito intensos, como falta de ar incapacitante, baixa oxigenação e insuficiência respiratória ou dor no peito, a pessoa deve procurar um serviço de emergência, para um pronto-atendimento e uma avaliação mais imediata do seu quadro clínico.

De que forma o Ambulatório de Asma do Hospital Moinhos de Vento pode ajudar os pacientes?

Dr. Pierangelo Baglio: No Ambulatório de Asma do Hospital Moinhos é possível fazer a avaliação de pacientes com suspeita ou diagnóstico já confirmado de asma brônquica, no intuito de poder direcionar a terapia mais adequada para cada caso, incluindo os asmáticos graves, aos quais podemos direcionar o tratamento imunobiológico. Assim, o Hospital está disponível para contribuir com a sociedade com o manejo dessa doença que é muito prevalente e relativamente pouco valorizada.

E o paciente asmático pode levar uma vida normal?

Dr. Pierangelo Baglio: Com certeza, o paciente pode levar uma vida absolutamente normal. Esse é o objetivo do tratamento indicado. É o conceito de controle da doença. Tanto que, hoje em dia, para alguns casos, se fala até em remissão da asma. Isso ocorre com aquele doente que está tratando da enfermidade e consegue ficar livre de sintomas por longos períodos.

Então, é absolutamente possível e desejável que o paciente tenha uma vida normal. E ele deve, sim, praticar atividades físicas. A partir do momento que tiver a sua asma controlada, não se espera que ele tenha dificuldade para praticar qualquer tipo de esporte, qualquer tipo de atividade.

E, sem dúvida, o uso correto e contínuo do tratamento prescrito (como de corticoides inalatórios e de broncodilatadores inalatórios) é o que vai fazer, na imensa maioria das vezes, o paciente obter o controle da doença e poder levar uma vida absolutamente normal.

Fonte:  Dr. Pierangelo Tadeu Baglio (CREMERS 25.749) é pneumologista do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento e responsável pelo Ambulatório de Asma do Hospital.