A pielonefrite crônica é uma doença infecciosa, inflamatória e cicatricial dos rins. De acordo com o Dr. David Saitovitch, chefe do Serviço de Nefrologia do Hospital Moinhos de Vento, geralmente acomete um rim, mas também pode prejudicar os dois. “Às vezes, resulta de anormalidades anatômicas ou estruturais deste órgão e das vias urinárias. Também pode decorrer de um processo obstrutivo destas vias, por exemplo, por cálculo ou por refluxo vesicoureteral, no qual a urina reflui da bexiga para o ureter na hora da micção. Ou, ainda, pode derivar de uma concomitância desses fatores”, adianta o médico.

 

A pessoa já nasce com a pielonefrite crônica ou ela se manifesta na fase adulta?

Dr. David Saitovitch - Tem anormalidades que são congênitas, ou seja, a pessoa já nasce com elas e a doença se desenvolve, evolui, ao longo do tempo. Entretanto, ela pode se manifestar em crianças que têm um refluxo vesicoureteral importante e apresenta episódios repetidos de infecção urinária. Este refluxo gera um resíduo urinário na bexiga, que acaba causando infecções com frequência. Isso porque, até os cinco ou seis anos, o rim ainda está em desenvolvimento, sendo mais suscetível e gerando esse processo crônico cicatricial, que leva à doença renal crônica.

 

Nos adultos, a infecção urinária recorrente (ou repetitiva) geralmente não vai levar à anormalidade crônica dos rins, com perda de função. Para isso acontecer tem que ter uma alteração estrutural ou uma obstrução, além da infecção urinária. Então, a pielonefrite pode se manifestar em um paciente que tenha cálculos (renais) complexos, como o chamado cálculo de estruvita (que se emolda na via urinária e obstrui, sendo uma causa relativamente frequente). Também pode atingir indivíduos que tenham uma alteração anatômica, como a estenose de junção uretero-pélvica (JUP).

 

Quais são as complicações que a pielonefrite crônica pode causar?

Dr. David Saitovitch - A complicação maior é um processo cicatricial, crônico e progressivo nos rins, ou no rim afetado, que leva à perda da função renal. Isso pode ocorrer em apenas um rim (que pode não se manifestar como uma perda global, se o outro órgão conseguir suprir a sua função). Entretanto, se o outro rim do paciente também tiver algum grau de comprometimento ou se a pessoa estiver com outra doença que prejudique a função renal, vai apresentar um quadro de insuficiência renal crônica, que seria a doença renal crônica em estágio mais avançado.

 

Como identificar os principais sintomas da pielonefrite crônica?

Dr. David Saitovitch – Normalmente, a pielonefrite crônica é pensada quando o indivíduo tem um quadro de infecção urinária, recorrente. Então, é preciso considerar:

- sintomas urinários;

- dores na região lombar ou no flanco (na lateral do corpo; dos quadris aos ombros);

- sintomas sistêmicos, como febre e piora no estado geral do paciente.

 

Como confirmar o diagnóstico e a que médico recorrer?

Dr. David Saitovitch – O diagnóstico não é muito difícil, mas necessita de um exame de urina, mostrando a alteração urinária compatível com a infecção. E também um exame de imagem, que demonstra a alteração anatômica ou obstrução urinária, geralmente unilateral.

 

Em geral, um clínico geral pode identificar a doença. Sendo um quadro crônico, ele pode encaminhar o paciente para um médico nefrologista e/ou urologista.

 

Quais são os tratamentos mais indicados?

Dr. David Saitovitch – Se houver um quadro obstrutivo, é preciso avaliar como é possível fazer a desobstrução. Por exemplo, se um cálculo está impactando na via urinária, a melhor alternativa seria retirá-lo. Mas, caso o paciente tenha uma alteração anatômica congênita, muitas vezes pode ser feita uma plástica na pelve (ou pieloplastia).

 

No caso da criança que tem refluxo, é importante uma vigilância muito intensa no tratamento da infecção urinária. Acredita-se que a perda da função renal nesta faixa etária é causada pela infecção renal. Então, mantê-la sem a infecção, já seria um tratamento importante, pois - após os cinco ou seis anos de idade - ela já começa a ficar com menos probabilidade de evoluir para a perda crônica, da função renal.

 

Mas é necessário estar muito alerta, pois a febre pode ser facilmente confundida, por exemplo, com uma infecção das vias aéreas superiores, que a criança tem com muita frequência. Todavia, pode ser uma infecção concomitante, mas os bebês, geralmente lactentes (ou amamentando), não têm como se queixar de dor na lombar ou sintoma urinário.

 

A pielonefrite crônica tem cura?

Dr. David Saitovitch – A pielonefrite crônica tem como ser prevenida, se o processo for diagnosticado em uma fase bem inicial, de forma precoce. Se o quadro de pielonefrite crônica estiver estabelecido, já não tem mais como curar, mas tem vários tratamentos que minimizam a evolução da doença, chamados de “nefroproteção”. Eles visam proteger o rim que está doente e retardar a evolução da perda da função.

 

A diálise ou a hemodiálise ajudariam o paciente com a doença? Aliás, qual é a diferença entre ambas?

Dr. David Saitovitch – Diálise é um termo genérico, que se divide entre hemodiálise e diálise peritoneal (feita na cavidade peritoneal do abdômen). Ambas não ajudariam, propriamente, pacientes com a pielonefrite crônica, pois são tratamentos usados quando a pessoa já tem perda de função renal avançada e o rim não está mais dando conta de suas funções. Então, nestes casos graves, a diálise é recomendada como terapia de substituição da função renal ou terapia renal substitutiva. Também pode ser indicado um transplante renal.

 

Fonte: Dr. David Saitovitch (CRM 13945) é chefe do Serviço de Nefrologia do Moinhos de Vento e coordenador do Grupo de Transplante Renal do Hospital.

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