De acordo com o “Relatório Global sobre a Tuberculose 2023”, a enfermidade foi a segunda doença infecciosa (depois da Covid-19) que mais ocasionou a perda de vidas em 2022. Segundo a publicação da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgada no início de novembro, foram registrados cerca de 1,3 milhão de óbitos.

 

Brasil, Angola e Moçambique estão na lista dos 30 países mais atingidos pela doença. Além disso, o levantamento revelou que o mundo teve 7,5 milhões de novas notificações desta patologia em 2022 e que, entre os pacientes, os homens foram a maioria do total mundial de 10,6 milhões de infectados. Mas porquê se fala tão pouco sobre a tuberculose em nosso país?

 

Para compreender esta realidade, o Blog Saúde e Você entrevistou o Dr. Roberto Guidotti Tonietto, médico pneumologista e preceptor do Serviço de Pneumologia do Hospital Moinhos de Vento. “Lembro que o Brasil, o Rio Grande do Sul e Porto Alegre têm números alarmantes de tuberculose. Trata-se de uma doença global que nos atinge fortemente. E, infelizmente, é negligenciada”, afirma.

 

O que causa a tuberculose e quais são os seus principais sintomas?

Conforme o Dr. Roberto Guidotti Tonietto, a tuberculose é uma doença infecciosa, causada por um tipo específico de bactéria. “Os principais órgãos acometidos são os pulmões. A tosse é a manifestação mais comum, especialmente quando prolongada. Desse modo, uma tosse que não cessa em até duas semanas levanta a possibilidade de investigação para a doença tuberculose nessa pessoa, considerada sintomática respiratória”, alerta.

Para o Dr. Tonietto, que também é médico do Serviço de Emergência do Hospital Moinhos de Vento, o paciente pode ter tosse com catarro e/ou sangue, febre, suores, desconforto no tórax, perda de apetite e de peso.

 

Como é a transmissão da doença?

A transmissão da tuberculose acontece de pessoa a pessoa, por meio da via respiratória. Transmite a enfermidade quem tem a doença nos pulmões ou na laringe. “Principalmente a tosse, mas também o espirro e a fala perto de outras pessoas é responsável pela transmissão”, avisa. “Já quem tem, por exemplo, uma forma apenas intestinal ou óssea da doença (ou seja, fora do pulmão ou do laringe) não transmite a tuberculose”, ressalta.

          

Há quanto tempo a humanidade convive com esta mazela?

Segundo o especialista, a tuberculose convive com o ser humano há milhares de anos; fato já comprovado em múmias egípcias. “Para evitar a doença é preciso bloquear a transmissão. Isso inclui a precoce identificação dos ‘tossidores sintomáticos respiratórios’ doentes de tuberculose, buscando diagnosticá-los e curá-los, a fim evitar a expansão dessa cadeia de transmissão”, recomenda o Dr. Roberto Tonietto.

 

Como combater a doença?

“Boa nutrição, higiene, condições sanitárias dignas, serviço de Saúde bem organizado, moradias adequadas, arejadas, ausência de aglomerações urbanas, melhores condições de saúde também auxiliam no combate à doença”, acrescenta.

          

Qual é a importância de conhecer mais sobre a tuberculose?

“Todo o médico, ou melhor, todo o profissional de saúde deveria conhecer bem a tuberculose. Confiar todo o diagnóstico e tratamento a determinada especialidade, como à Pneumologia ou à Infectologia, é um erro: tuberculose é tão comum, tão prevalente, que deve ter domínio amplo da mais simples Unidade de Saúde ao mais sofisticado hospital”, avalia Dr. Tonietto.

          

A tosse é um indicador?

“Entrevistar e examinar bem uma pessoa que procura atendimento por tosse é um bom começo. Pensar em tuberculose como diagnóstico possível daquela queixa também. A partir disso, se faz a investigação complementar”, explica.

 

Como tratar a tuberculose?

O médico pneumologista lembra que o tratamento é feito a partir do diagnóstico presumido ou confirmado. “Além da entrevista e do exame físico, pensando na forma pulmonar da doença, que é a mais comum em 80% das vezes, também se faz uma investigação complementar, com exame do catarro e radiografia de tórax”, esclarece.

 

O tratamento leva seis meses?

O tratamento consiste em um conjunto de antibióticos específicos já colocados inicialmente em um mesmo tipo de comprimido. Todavia, ao contrário de uma pneumonia por uma bactéria usual, o tratamento da tuberculose não dura apenas 7 dias. O esquema básico, que se aplica para a maioria dos casos, leva 6 meses.

“E é importantíssimo que não haja falha ou abandono da terapêutica indicada, pois isso prejudica a cura, reativa o ciclo de transmissão e gera resistência do germe causador da tuberculose para os tratamentos”, adverte o especialista. “Mesmo com a melhora e resolução dos sintomas, o que foi prescrito pelo médico deve ser mantido por todo o período estipulado”, salienta. E, para facilitar que essa conduta seja seguida, o tratamento é gratuito e liberado pelo Governo Federal (SUS), não sendo vendido em farmácias ou de forma on-line.

 

O que está sendo feito para erradicar a doença?

“Existe um plano da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a erradicação da tuberculose nas Américas, até 2035. É audacioso. A doença se sustenta, pois há a cadeia de transmissão - pessoas doentes de tuberculose tossindo sem terem diagnóstico e tratamento como consequência. Além disso, deve ser trabalhada a adesão ao tratamento, evitando recaídas da doença, transmissão e resistência”, analisa.

 

Existe cura para a tuberculose?

“Existe a possibilidade de cura para praticamente todos os pacientes”, garante o Dr. Tonietto.

 

Fonte: Roberto Guidotti Tonietto (CRM-RS 31919) é médico pneumologista e preceptor do Serviço de Pneumologia do Hospital Moinhos de Vento, além de médico do Serviço de Emergência do Hospital.

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