Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) divulgada em julho de 2023, a população com deficiência no Brasil foi estimada em 18,6 milhões de habitantes, considerando pessoas com 2 anos de idade ou mais. O número corresponde a 8,9% da população total. Em relação aos problemas investigados, 1,2% indicou ter dificuldade para ouvir, mesmo usando aparelhos específicos.

Para esclarecer sobre a importância da saúde auditiva em diversas faixas etárias, de crianças a idosos, conversamos com a Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna, médica do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Moinhos de Vento. Segundo ela, estudos comprovaram que os fones de ouvido podem, mesmo, prejudicar a audição, assim como existe uma associação entre a perda auditiva não tratada e o desenvolvimento de demência na terceira idade. Acompanhe, abaixo, a entrevista completa e tire suas dúvidas:

 

Quais são os fatores que podem desencadear a surdez?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - A surdez, na primeira infância, pode ter diversas causas, entre elas:

- Alterações genéticas;

- Infecções durante a gravidez (como rubéola ou citomegalovírus);

- Complicações durante o parto;

- Prematuridade;

- Infecções após o nascimento (como meningites ou otites);

- Exposição a ruídos intensos;

- Uso de medicamentos tóxicos para o ouvido.

 

A maioria dos casos é congênita ou desenvolvida posteriormente ao nascimento?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - A incidência exata de perda auditiva congênita versus adquirida na infância pode variar. Estima-se que, em média, cerca de 50% a 60% dos casos de perda auditiva em recém-nascidos sejam de origem genética ou congênita.

Uma porcentagem considerável de perda auditiva na criança pode ser desenvolvida ao longo da infância devido a fatores como infecções, uso de medicações, exposição a ruídos altos ou mesmo alterações genéticas que levam ao desenvolvimento tardio da perda auditiva.

 

Em crianças, a perda auditiva poderia ser evitada? Como?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - A prevenção da perda auditiva em crianças é possível em muitos casos e pode envolver várias medidas, como:

- Realizar uma triagem auditiva em recém-nascidos, para identificar precocemente problemas, permitindo intervenções rápidas;

- Fazer uma avaliação complementar na presença de fatores de risco para a perda auditiva;

- Manter o calendário de vacinação em dia para prevenir doenças que podem levar à perda auditiva, como a rubéola gestacional e a meningite;

- Supervisionar o uso de medicamentos durante a gravidez e na infância para evitar substâncias que possam prejudicar a audição;

- Evitar a exposição a sons altos.

 

A que os pais ou responsáveis devem estar atentos em relação às crianças?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Os pais ou responsáveis devem estar atentos aos sinais de problemas auditivos em crianças, como falta de resposta a sons, atraso no desenvolvimento da linguagem, dificuldade em seguir instruções ou falar muito alto. Diante de qualquer suspeita de problemas auditivos, é importante buscar avaliação médica e audiológica para um diagnóstico precoce e intervenção adequada, quando necessário.

 

E em jovens? É verdade que os fones de ouvido, em volume alto, podem alterar a audição?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Sim, é verdade que o uso frequente e prolongado de fones de ouvido em volumes altos pode alterar a audição, especialmente em jovens. A exposição a sons muito altos por um longo período de tempo pode causar danos nas células auditivas do ouvido interno, levando à perda auditiva induzida por ruído.

 

Por que os jovens estão mais suscetíveis à perda auditiva? E como preveni-la?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Os jovens estão particularmente em risco devido ao aumento do uso de dispositivos de áudio pessoais e à tendência de ouvir música em volumes elevados. Os danos podem ser cumulativos ao longo do tempo, resultando em perda auditiva irreversível. Para prevenir danos à audição e proteger a saúde auditiva é importante:

- Reduzir o volume dos fones de ouvido;

- Limitar o tempo de exposição a volumes altos;

- Fazer pausas frequentes durante o uso de fones de ouvido;

- Considerar o uso de fones de ouvido que isolam o som ambiente, reduzindo a necessidade de aumentar o volume;

- Conscientizar os jovens sobre os riscos da exposição prolongada a volumes altos e incentivá-los a adotar práticas seguras ao usar dispositivos de áudio.

 

Quais são as recomendações que devem ser seguidas em relação ao uso de fones de ouvido, para a população em geral?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Os fones de ouvido, quando utilizados em volumes elevados, podem gerar níveis de som que são prejudiciais ao sistema auditivo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros órgãos de Saúde recomendam limitar o volume dos fones de ouvido a 60% do volume máximo e não exceder o uso a mais de 60 minutos por dia para prevenir danos auditivos.

 

Por que percebemos a perda auditiva na população com mais de 70 anos de idade? O que contribui para isso?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - A perda auditiva na população acima dos 70 anos é comum e geralmente é resultado de um processo natural de envelhecimento, conhecido como “presbiacusia”.

Existem diversos fatores que contribuem para isso, como:

- A degeneração das células auditivas;

- A exposição ao ruído ao longo da vida, seja no trabalho ou em atividades de lazer;

- Ter condições que afetam a circulação sanguínea (como hipertensão e diabetes);

 - O uso de medicamentos tóxicos para o ouvido, infecções passadas e predisposição genética também pode influenciar na suscetibilidade à perda auditiva com o envelhecimento.

 

Há como frear e/ou reverter os casos de perda auditiva na terceira idade?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Embora não seja possível reverter completamente a perda auditiva relacionada à idade, existem maneiras de frear sua progressão e melhorar a qualidade de vida. Entre elas, está:

- O uso de aparelhos auditivos adequados às necessidades individuais;

- Evitar a exposição prolongada a ruídos altos;

- Usar proteção auricular em ambientes barulhentos;

- Manter uma dieta equilibrada;

- Praticar exercícios regularmente;

- Controlar condições médicas, como diabetes e hipertensão;

- Evitar o tabagismo;

- Realizar exames auditivos periódicos;

- Consultar um especialista em audição, que pode ajudar a detectar e tratar precocemente problemas auditivos.

 

Qual é a importância de tratar a perda auditiva em idosos?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Há estudos e evidências que sugerem uma associação entre a perda auditiva não tratada e o desenvolvimento de demência em idosos. Assim, a detecção precoce e o tratamento da perda auditiva nesses indivíduos têm um impacto positivo na qualidade de vida e na saúde cognitiva.

A utilização de aparelhos auditivos ou outras intervenções para tratar a perda auditiva pode ajudar a melhorar a capacidade de comunicação e reduzir o isolamento social, o que, por sua vez, pode ter um efeito positivo na saúde cognitiva e reduz o risco de demência.

 

E o zumbido no ouvido que incomoda tantas pessoas? Teria relação com algum problema no sistema auditivo?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Sim, o zumbido no ouvido, também conhecido como “tinnitus”, pode estar relacionado a problemas no sistema auditivo, embora suas causas possam variar. O zumbido pode ser percebido como sons do próprio zumbido ou assobios, chiados, clics ou outros ruídos, sem que haja uma fonte externa que os produza.

Entre as causas do zumbido no ouvido podemos incluir a perda auditiva, a exposição a ruídos altos, condições (como pressão arterial alta), os distúrbios cardíacos, problemas na articulação temporomandibular (ATM), lesões na cabeça ou pescoço, o acúmulo excessivo de cera no ouvido, os distúrbios no ouvido médio ou interno, como infecções. Altos níveis de estresse e ansiedade também podem intensificar a percepção e o incômodo do zumbido.

É importante salientar que o zumbido em si não é uma doença, mas um sintoma de uma variedade de possíveis problemas auditivos ou de saúde. Se o zumbido persistir ou interferir significativamente na qualidade de vida, é fundamental procurar um especialista em saúde auditiva para avaliação e tratamento adequados. Existem diversas abordagens para gerenciar o zumbido, incluindo terapias de som, técnicas de relaxamento, aconselhamento e, em alguns casos, tratamentos médicos específicos.

 

Qual é a pergunta mais frequente que a senhora percebe em consultório? E quais são os sinais de alerta em relação à audição?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Uma dúvida frequente dos pacientes e familiares é relacionada ao momento ideal em que deve ser feita uma avaliação auditiva. Existem vários sinais de alerta que podem indicar problemas auditivos. Entre eles, destaco a dificuldade em entender as palavras, especialmente em ambientes barulhentos, pedir para repetir o que disseram ou aumentar o volume da voz, música ou televisão, a dificuldade em acompanhar ou participar de conversas quando há várias pessoas falando ao mesmo tempo, o zumbido persistente e o isolamento social.

Na infância, os sinais de alerta de possíveis problemas auditivos podem variar de acordo com a idade da criança. Em recém-nascidos e bebês, a falta de reação a sons repentinos ou altos, a ausência de resposta a vozes ou chamados familiares, a dificuldade em se acalmar ou acordar com sons.

Em crianças pequenas, o atraso no desenvolvimento da linguagem, como falta de balbucio ou início tardio na fala, a dificuldade em seguir instruções simples, as reações exageradas a sons altos ou a indiferença a sons em geral.

Nas crianças mais velhas, destaco a dificuldade em entender a fala em ambientes ruidosos, pedir frequentemente para que as pessoas repitam o que foi dito, a dificuldade em acompanhar conversas ou compreender na escola, o isolamento social ou a dificuldade em interagir com os outros devido a dificuldades de comunicação, mudanças no comportamento, como irritabilidade, falta de atenção, histórico de infecções frequentes, dores persistentes, zumbido ou barulhos estranhos nos ouvidos.

 

Em caso de dúvidas, a que especialista recorrer e de que forma o Hospital Moinhos de Vento pode contribuir para a saúde auditiva do paciente?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - Em caso de dúvidas ou problemas relacionados à saúde auditiva, o médico especialista indicado é o otorrinolaringologista. O Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital Moinhos de Vento conta com especialistas qualificados em otorrinolaringologia e saúde auditiva, além de uma equipe de fonoaudiólogos especializados e equipamentos de ponta para diagnóstico, tratamento e acompanhamento de problemas relacionados à audição.

 

Quais são os conselhos que a senhora deixa aos nossos leitores?

Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna - É importante observar que esses sinais não, necessariamente, indicam perda auditiva, mas podem ser indicativos de problemas auditivos que precisam ser avaliados.

Assim, se você identificar um ou mais desses sinais de alerta em relação à audição, é importante buscar avaliação médica com o otorrinolaringologista. O diagnóstico precoce pode ajudar a identificar problemas auditivos e iniciar um tratamento ou intervenções adequadas para melhorar a qualidade de vida relacionada à audição e comunicação.

 

Fonte: Dra. Daniela Pernigotti Dall’Igna (CRM 27707) é médica otorrinolaringologista do Hospital Moinhos de Vento.

Agradeçemos pela sua inscrição!

Prêmios e Certificações

Entrada 1 - Rua Ramiro Barcelos, 910 - Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, 90035-000
Entrada 2 - Rua Tiradentes, 333
Av. João Wallig, 1800 - 3º andar - Shopping Iguatemi Porto Alegre
Avenida Cristóvão Colombo, 545 - Espaço Comercial P5-1