Os desafios com o sono durante a pandemia de Covid-19
Ter um boa noite de sono pode parecer algo muito natural e automático para algumas pessoas, mas para quase metade da população mundial não é bem assim: cerca de 45% das pessoas no mundo enfrentam algum tipo de dificuldade para dormir, segundo a Organização Mundial da Saúde. Este dado é de antes da pandemia de Covid-19, e a situação pode ter piorado diante do cenário atual: “Alguns estudos já demonstram a associação significativa no desenvolvimento de insônia em pacientes que foram afetados pela Covid-19, além de outras complicações menos comuns como parassonias e distúrbios de movimentos periódicos dos membros” afirma Humberto Luiz Moser Filho, médico neurologista, neurofisiologista e especialista em Medicina do Sono do Hospital Moinhos de Vento.
Pacientes acometidos pela Covid-19 em sua fase aguda podem apresentar dores no corpo, febre, fadiga, além de sintomas respiratórios, o que pode influenciar na qualidade de sono. “Dentre as manifestações clínicas, cita-se em especial a dificuldade em iniciar e manter o sono durante o período agudo da infecção”, lembra o médico. Como em diversas outras áreas da medicina, o real impacto da Covid-19 no organismo a longo prazo, em se tratando de sono, ainda precisa ser estudado.
Impactos na saúde mental e no sono durante a pandemia
Em uma época tão desafiadora para a população mundial, o impacto no sono não atinge somente os pacientes que testaram positivo para a Covid-19. Uma parcela da população teve a saúde mental impactada pela grande insegurança provocada pelo cenário atual: “Sabe-se que transtornos ansiosos e depressão, por exemplo, ambos prevalentes na sociedade, apresentam forte associação com sensação de sono não-reparador e insônia”, aponta o médico.
Segundo Moser Filho, uma forma simples de avaliar o impacto da situação atual no sono é questionar a si mesmo, ao acordar pela manhã, se está com a sensação de ter tido um sono restaurador. Caso a resposta seja negativa com muita frequência, é grande a chance de estar desenvolvendo algum distúrbio relacionado ao sono. O médico alerta que sonolência diurna, cansaço, dificuldade de concentração, falta de energia e irritabilidade ou alteração de humor podem ser sintomas de que o sono está sendo impactado de forma negativa e, consequentemente, ocasionando prejuízos na vida da pessoa durante o dia.
A cartilha O Sono Normal, da Associação Brasileira do Sono, explica que uma boa noite de sono depende também da estabilidade emocional relacionada ao envolvimento nas atividades do dia a dia, já que sintomas como depressão e ansiedade podem interferir na quantidade e na qualidade do sono. O documento aponta que, do ponto de vista psicológico, para ter um bom sono é necessária uma vida cotidiana com cadência nas atividades e disposição para administrar conflitos, ressaltando a importância da resiliência e do autoconhecimento neste processo.
A importância da adoção de hábitos saudáveis
A boa notícia é que em muitos casos a adoção de alguns hábitos simples pode melhorar a qualidade do sono, não só nesta época de pandemia, mas durante toda a vida. São eles:
● Tentar seguir horários regulares de sono;
● Evitar uso de dispositivos eletrônicos à noite;
● Ir para a cama apenas quando estiver cansado;
● Evitar outras atividades no quarto que não sejam relacionadas ao sono;
● Manter hábitos saudáveis de alimentação;
● Praticar atividade física aeróbica.
É preciso ressaltar que as dificuldades com o sono que nasceram durante a pandemia podem seguir de forma crônica, especialmente a insônia e outros distúrbios de ritmo circadiano. Por isso, deve-se observar atentamente os sintomas, e caso cheguem ao ponto de impactar negativamente as atividades diárias - mesmo após as mudanças na rotina - é chegada a hora de procurar ajuda médica.
Os prejuízos na qualidade de sono estão associados a diversas doenças e podem aumentar morbimortalidade em diferentes cenários clínicos, como aumento no risco de doenças cardiovasculares, entre outras. “O sono é essencial e tem impacto direto na nossa qualidade de vida. Dormir bem melhora a eficácia de vacinas, já documentado em estudos com outras patologias, algo muito relevante no cenário atual”, conclui Moser Filho.
Dia Mundial do Sono alerta para a importância do sono regular
Neste ano, o World Sleep Society (WSS) celebra o Dia Mundial do Sono na sexta-feira, 19 de março, com o tema "Sono Regular, Futuro Saudável". A data alerta para a importância do sono para alcançar uma qualidade de vida ideal e melhorar a saúde global.
Fonte: Dr. Humberto Luiz Moser Filho, médico neurologista, neurofisiologista e especialista em Medicina do Sono do Hospital Moinhos de Vento.