Provavelmente, se você já ouviu falar em cuidados paliativos, pode associar esse termo ao fim da vida ou como os últimos recursos de um enfermo, muitas vezes, suspendendo ou não iniciando determinados tratamentos. Entretanto, essa percepção não está correta. O acompanhamento de uma equipe de cuidados paliativos deve ser indicado desde o momento do diagnóstico de uma doença incurável e ameaçadora à vida, que pode se estender por diversos meses ou, até mesmo, anos. São considerados cuidados paliativos todas as terapias que não tenham como objetivo modificar o desfecho de uma doença. Mas, sim, identificar precocemente sinais de sofrimento do paciente e familiares, tanto nas esferas física, psíquica, social, quanto na espiritual, no decorrer de todo curso da doença, habitualmente associada a muitas perdas, angústias e incertezas. Em 2020, o Dia Mundial dos Cuidados Paliativos será no dia 10 de outubro, segundo sábado do mês. A data oportuniza a discussão e traz visibilidade a essas terapias que buscam mais qualidade de vida para as pessoas durante o percurso de uma doença progressiva e incurável. As medidas auxiliam na elaboração dos diversos tipos de perdas, sejam afetivas, financeiras, de autonomia ou de funcionalidade, que tornam a rotina do paciente muito diferente da anterior ao diagnóstico da doença. Para informar sobre a importância desses tratamentos, conversamos com o Dr. Rodrigo Moura Valle, coordenador médico do Grupo de Cuidados Paliativos do Hospital Moinhos de Vento.

Para quem são indicados os cuidados paliativos?

Os cuidados paliativos são indicados para qualquer pessoa com diagnóstico de doença incurável, independente da idade e tempo de expectativa de vida. O objetivo é abordar todas as adversidades que esses indivíduos enfrentam até o desfecho (óbito). Como exemplo podemos citar sintomas físicos, tanto relacionados à doença quanto ao próprio tratamento (quimioterapia, radioterapia, cirurgia), tais como náusea, vômito, dor, falta de ar, alteração de nível de consciência, agitação e fraqueza. Abordam-se também os sintomas psicossociais, como medo, depressão, perda de trabalho, redução na receita, perda de status social, isolamento social, mudanças físicas e estéticas. Questões espirituais, independente da crença do paciente, com enfoque nos conflitos internos relacionados ao final da vida. Enfim, qualquer situação relacionada à “experiência” (processo que cursa durante a doença) do paciente e familiares nesse processo.

Como são realizados os cuidados paliativos?

O princípio da abordagem dos cuidados paliativos é ver o paciente como um todo, considerando as partes física, psicológica, espiritual e social. Por isso, os cuidados paliativos devem ser feitos por uma equipe multidisciplinar. Além dos médicos, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo, farmacêutico, terapeuta ocupacional, assistente social e conselheiro religioso prestam suporte à pessoa, nas diferentes fases da enfermidade. Essa prática possibilita uma elaboração mais precisa das demandas e permite condutas mais assertivas. Inicialmente, é realizada uma avaliação ampla do paciente e da doença, com objetivo de conhecer a história de vida do indivíduo, assim possibilitando traçar o melhor plano de ação baseado na biografia, valores e desejos do paciente e familiares, inseridos no contexto da fase atual da doença e seu prognóstico, sempre respeitando os limites éticos e bioéticos das ações, com grande enfoque na comunicação e buscando a máxima orientação ao paciente e familiares. Todas essas condutas são amplamente respaldadas pela literatura médica, resoluções de entidades governamentais e pelo próprio código de ética da medicina.

Quando iniciar com os cuidados paliativos?

Primeiramente, é essencial informar que os cuidados paliativos não substituem as terapias modificadoras da doença, nem tão pouco a equipe médica assistente. Afinal, quanto mais próximo do diagnóstico, maior é o arsenal terapêutico despendido para buscar a cura, objetivo primordial na medicina. Entretanto, com a evolução da doença, essas terapias se equilibram até que, nas fases mais avançadas, esse gráfico se inverte. O momento no qual a possibilidade de cura é descartada e as terapias instituídas trazem mais sofrimento do que controle da doença, é hora de priorizar as medidas que visam o conforto do paciente. O início precoce do acompanhamento proporciona a criação de vínculos mais fortes entre paciente, família e equipe, além de possibilitar melhor entendimento das demandas individuais trazidas por eles e possibilitar mais tempo de diálogo e deliberações. Outro fator relevante para a decisão precoce é ter o paciente em condições neurológicas e cognitivas preservadas (já que, ao longo do tempo, isso pode ser afetado, dependendo da doença). Isso significa que, no início dessa jornada, o paciente está em condições de compartilhar a sua opinião sobre os fatos em andamento. Isso possibilita a elaboração de diretivas antecipadas de vontade, com o paciente ainda lúcido e orientado. Caso evolua com piora neurológica e torne-se incapaz de decidir por si, tudo fica documentado e deliberado com os envolvidos. Nos casos em que o paciente não tenha condições clínicas e/ou neurológicas de exercer atos da vida civil, os responsáveis são os familiares ou o indivíduo que detenha a curatela.

Qual o papel da família nos cuidados paliativos?

A família é uma parte fundamental do processo, pois os cuidados paliativos são voltados para o paciente em toda sua magnitude e a família está diretamente relacionada a isso. No Hospital Moinhos de Vento, existe todo um suporte para a família, tanto para a elaboração das perdas, do processo de adoecimento e do declínio funcional, como para orientação relacionada a questões financeiras e legais, com acompanhamento de assistente social e apoio psicológico para buscar a redução do sofrimento de forma global.

O que os cuidados paliativos representam na qualidade de vida de um idoso?

Qualidade de vida e cuidados paliativos são praticamente sinônimos, já que a ideia dessas terapias é, justamente, elevar a qualidade de vida no contexto de uma doença. Os cuidados podem tanto ser o controle de um ou mais sintomas como a manutenção de uma capacidade funcional que possa proporcionar algum prazer, tais como caminhar, comer, beber, entre outras. Além disso, outras ações podem agregar na qualidade de vida de um paciente idoso em fase terminal, que esteja hospitalizado, a exemplo da visita de um pet ao hospital ou a liberação do paciente para uma breve saída, passando alguns momentos em família, um almoço ou um passeio. Tudo isso, ajuda no bem-estar do paciente e na elaboração da perda pela família, reduzindo o sofrimento agregado nesses processos. Se considerarmos que, aos 80 anos, 50% das pessoas apresenta algum grau de demência e que essa proporção aumenta exponencialmente a cada 5 anos, podemos prever que esse indivíduo necessitará de auxílio progressivamente maior. Nas fases finais, há um grau de dependência muito elevado ou, até mesmo, pleno para a realização das atividades básicas da vida diária. Acresce-se o fato da previsão de que a população idosa irá dobrar no país nas próximas décadas, aumentando muito a demanda de cuidados específicos para esse grupo.

O que é mais importante destacar no Dia Mundial dos Cuidados Paliativos?

Ter clareza de que os cuidados paliativos não estão relacionados, exclusivamente, à terminalidade e, quanto antes eles fizerem parte da vida de uma pessoa com uma doença incurável e de sua família, menos árduo será esse processo e menor o sofrimento. Importante reforçar que o Grupo de Cuidados Paliativos do Hospital Moinhos de Vento trabalha na modalidade de consultoria e não substitui a equipe médica assistente, mas, sim, trabalha em conjunto para buscar a melhor evolução do caso e manejo de situações específicas. Por fim, sabemos que a morte traz tristeza, uma vez que nos separa de pessoas amadas, porém é o último capítulo de nossa história e não pode ser pulado. É nosso dever torná-lo menos difícil com uma abordagem altamente técnica, porém humana e empática, auxiliando na elaboração desses processos envolvidos.
Fonte: Dr. Rodrigo Moura Valle, coordenador médico do Grupo de Cuidados Paliativos do Hospital Moinhos de Vento.

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Prêmios e Certificações

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