Nosso corpo precisa das vitaminas. Mas impõe um limite. Se usadas indiscriminadamente, elas podem virar grandes vilãs e prejudicar a saúde. É o que afirmam o cardiologista Luis Beck da Silva, da endocrinologista Beatriz Schaan e do neurologista Francisco Rotta, que debateram o tema Mitos e Verdades sobre o uso das vitaminas. O evento ocorreu no último dia 31/03 e lotou o Anfiteatro Schwester Hilda Sturm, na primeira edição do ano do Grand Round, evento mensal promovido pelo Hospital Moinhos de Vento em parceria com o Johns Hopkins Medicine International. Todos eles concordam que as vitaminas são componentes essenciais para o corpo. Para o cardiologista Luis Beck, que falou sobre os suplementos vitamínicos e a prevenção de doenças, a principal pergunta é Tomar vitaminas faz bem à saúde? “É uma questão controversa”, diz o médico. Ele contextualiza, dizendo que nos anos 90 houve uma grande pressão industrial pelo consumo desses produtos. Dezenas de milhões de dólares foram gastos na crença de que os suplementos vitamínicos promoveriam a saúde. Nos Estados Unidos a legislação americana através da Food and Drug Administration considerou as vitaminas como alimentos. “Logo é muito mais fácil vender o produto como alimento do que como uma medicação. E a legislação é mais branda por conta disso do que para outros medicamentos”, explica Beck. É fato que pessoas que consomem mais frutas e verduras apresentam menor risco de desenvolver câncer e doenças cardiovasculares, disse o especialista com base em matéria da Revista Nature, de 1981. Frutas são ricas em vitaminas e têm propriedades antioxidantes. Contudo, evidências científicas mostram que o consumo de vitaminas em forma de cápsulas pode representar riscos à saúde. Estudo randomizado da publicação New England com 18 mil fumantes e trabalhadores expostos ao amianto avaliou os efeitos do betacaroteno e a vitamina A. Foram ministradas doses das substancias e também de placebo, e houve um aumento de 28% nos casos de câncer de pulmão com 17% de aumento da mortalidade. Os autores acreditavam que o tratamento ativo era benéfico. A evidência, no entanto, demonstra que vitamina A aumenta o risco para câncer de pulmão se tomada regularmente em suplementos vitamínicos por pessoas sem déficit vitamínico e que sejam fumantes ou expostas ao amianto, destaca o artigo. Outro estudo com mulheres pós-menopáusicas observou que as que faziam dieta rica em vitaminas (A, C e D) versus dieta normal apresentavam menor risco de doenças cardiovasculares. Dietas ricas em frutas e verduras podem proteger contra doenças cardiovasculares, conforme esse estudo observacional que durou sete anos. A aparente discrepância entre as pesquisas se explica quando identificamos que uma dieta rica em frutas e verduras é capaz de proteger de doenças cardiovasculares, enquanto os suplementos vitamínicos, em capsulas, foram incapazes de demonstrar qualquer benefício à saúde e, portanto, não devem ser recomendados. Vitaminas do Complexo B O especialista do Serviço Médico de Neurologista e Neurocirurgia, Francisco Rotta abordou os riscos para o sistema nervoso decorrentes da deficiência de vitaminas do complexo B, bem como o seu potencial terapêutico e profilático. Ele explica que a vitamina B12 é importante para a formação das células vermelhas do sangue. Além disso, ela é vital para o desenvolvimento e manutenção das funções do sistema nervoso. Sem essa vitamina, a mielina que recobre os nervos, como uma capa de proteção, sofre um desgaste que recebe o nome de desmielinização, processo que ocorre tanto em neurônios de nervos periféricos, quanto naqueles da substância branca do cérebro. A ausência da substância pode levar a lesões irreversíveis no sistema nervoso, devido à morte dos neurônios. Isso irá provocar neuropatias que tem como sintomas mais comuns o formigamento nas pernas, queimação na sola dos pés, dificuldade para andar e incontinência urinária. O médico explica que nos casos de quadros demenciais, é necessário fazer a dosagem de vitamina B12, pois é uma das causas tratáveis de demência. Outros benefícios podem ser alcançados com a administração do ácido fólico que tem grande utilidade na prevenção dos defeitos do tubo neural. Segundo o médico, 400 microgramas por dia, nos dois primeiros meses de gravidez faz com que se diminua o risco significativo de anencefalia e de espinha bífida (malformação congênita). Muito importante que mulheres pensem antes de engravidar na suplementação com ácido fólico. A vitamina B6 (pirodoxina) está relacionada a um tipo especifico de epilepsia neonatal por deficiência dessa substância, que pode acontecer em caso de desnutrição materna ou de uma necessidade maior do recém-nascido. Em adultos a deficiência de pirodoxina pode causar polimiopatia (degeneração de axônios). Outra questão levantada pelo especialista, é que a suplementação com vitamina B6 para os casos relacionados à síndrome do túnel do carpo não mostraram melhoria dos sintomas de acordo com ensaios clínicos. Ele explica que a pirodoxina é tóxica e em doses altas pode causar uma neuropatia com predomínio de comprometimento sensitivo. Suplementação da vitamina D Pessoas saudáveis não devem tomar suplementos de vitamina D, de acordo com endocrinologista Beatriz Schaan. “Não há nenhuma evidência científica de que a suplementação vitamínica traga algum benefício em casos em que não haja uma deficiência nutritiva”, diz. Segundo Beatriz, nos últimos anos foram descritos vários benefícios da substância em estudos experimentais e observacionais, mas os ensaios clínicos são claros quanto à ausência de vantagens em desfechos clínicos, especialmente quando avaliados indivíduos sem sintomas. As indicações para dosagem e reposição são indicadas nos casos de manifestações clinicas claras, como fraqueza e dor muscular proximal, que ocorrem em indivíduos que não ativam a vitamina D ingerida ou sintetizada na pele sob efeito da luz solar. Estas situações ocorrem quando há muito baixa exposição solar, síndromes de má absorção, insuficiência hepática ou renal graves, predispondo essas pessoas a consequências ósteo-musculares dessa deficiência. Outras indicações claras são para idosos com predisposição à quedas e pessoas com osteoporose, já que nestas situações o uso de vitamina D se mostrou benéfico na redução das quedas e de fraturas, respectivamente. A médica explica que, embora as diretrizes sugiram que valores do exame de sangue menores do que 30 ng/ml (nanogramas por mililitro de sangue) indiquem deficiência, este exame tem grande variabilidade e muito baixa relação com a saúde óssea. Por outro lado, valores abaixo de 10 ng/ml são classificados como insuficiência grave e indicam reposição. O mais importante em relação ao exame de sangue é que ele só deve ser solicitado e valorizado em casos de possibilidade de deficiência, que são aqueles acima citados (muito baixa exposição solar, síndromes de má absorção, insuficiência hepática ou renal graves). E conclui, dizendo, pessoas sem sintomas não devem dosar e nem repor a vitamina D por não haver benefício comprovado desta prática. As indicações são muito precisas e envolvem pessoas com predisposição à deficiência, idosos com risco de quedas e pessoas com osteoporose. Fonte: Dr. Luis Beck da Silva Neto, Dra. Beatriz D Agord Schaan e Dr. Francisco Tellechea Rotta.

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