A época mais fria do ano chegou e muita gente diz que sente mais sono, preguiça e apetite nesta estação. Mas, será que isso pode ser comprovado pela Ciência e pela Medicina? O Dr. Alexander Welaussen Daudt, oncologista clínico do Hospital Moinhos de Vento, conversou com o blog Saúde e Você e nos dá indícios do que pode acontecer com alguns indivíduos durante o inverno. Ele garante que, inicialmente, é importante lembrar dos ritmos circadianos.

E o que são ritmos ou ciclos circadianos?

Os ritmos circadianos são mudanças físicas, mentais e comportamentais que seguem um ciclo de 24 horas. Esses processos naturais respondem, principalmente, à luz e à escuridão e afetam a maioria dos seres vivos, incluindo animais, plantas e micróbios. “Um exemplo de ritmo circadiano relacionado à luz é estar acordado durante o dia e dormir à noite”, ilustra o médico.

Segundo ele, ao longo de milhões de anos de evolução, é provável que os processos biológicos humanos tenham evoluído para se ajustar de uma maneira “rítmica” mais eficiente em relação ao ambiente externo e às mudanças sazonais. “O estudo dos ritmos biológicos é chamado de ‘Cronobiologia’, que examina os efeitos do tempo sobre eventos e relógios biológicos internos”, explica. Nas últimas décadas, a cronobiologia tornou-se um campo multidisciplinar de interesse da Medicina Geral e Psiquiatria. Atualmente, a pesquisa em cronobiologia está em constante crescimento e tem contribuído para o desenvolvimento de um campo interdisciplinar de pesquisa.

Ciclos diários

A rotação da Terra e o ciclo diário de claro e escuro ou dia e noite tiveram impactos biológicos longos e constantes nos organismos vivos do planeta, que desenvolveram no decorrer de um extenso processo evolutivo, dentro de suas células, estruturas semelhantes a marcadores de tempo, representadas por genes específicos. Esses “relógios biológicos” ajudam os organismos a manter sua homeostase, isto é, a estabilidade do seu meio interno, regulando parâmetros fisiológicos críticos (por exemplo, nível de glicose e salinidade do sangue, pressão arterial, temperatura corporal central) dentro de faixas específicas de valores. Além disso, contribuem para realizar as suas atividades com maior eficiência energética, durante um ciclo de 24 horas. Essa capacidade adaptativa prevê mudanças cíclicas e permite a harmonização comportamental e fisiológica.

“A vantagem adaptativa é permitir que nosso organismo antecipe certos eventos previsíveis e se prepare para eles, como o ciclo de sono-vigília e as refeições, por exemplo. Quando anoitece, nosso corpo se prepara para descansar, e começa a produzir melatonina, o hormônio do sono. Ao amanhecer, no entanto, libera cortisol para que a gente desperte”, esclarece Dr. Alexander Welaussen Daudt.

Sincronizadores

De acordo com o especialista, esse “sistema” presente nas células, embora possa trabalhar de forma independente, é regido por um marcador de tempo biológico circadiano mestre, o núcleo supraquiasmático (NSQ), localizado em uma região do cérebro dentro do hipotálamo. O NSQ funciona como o maestro de uma orquestra ao produzir uma batida temporal regular a partir da qual todas as células, em todos os órgãos do corpo, coordenam esta atividade rítmica e a alinham à rotação da Terra (de 24 horas), mantendo a sincronia entre nosso ambiente interno e o mundo exterior.

O NSQ, por sua vez, é sincronizado diariamente a partir de mudanças no ambiente externo, principalmente pela luz do dia. Também, por horário de refeições, exercícios físicos, interações sociais e outras rotinas diárias que funcionam como sincronizadores.

“Nos seres humanos, além do ciclo sono-vigília, vários processos, como temperatura corporal, pressão arterial, produção de hormônios e sistema imunológico, são regulados de forma circadiana”, ressalta.

Mudanças acontecem ao longo do ano

Os padrões anuais de exposição solar dos indivíduos são afetados por seus ambientes locais. Em relação à localização geográfica, as mudanças na duração do dia entre o inverno e o verão são muito maiores perto dos Polos do que no Equador. Os padrões sazonais de humor e comportamento abrangem fatores neuropsicológicos (humor, energia, atividade social, sono) e metabólicos (apetite, peso).

“Como as funções fisiológicas e comportamentais das pessoas estão sob controle circadiano, grandes mudanças dos ciclos luz-escuridão (dia/noite) influenciam a saúde mental e física, podendo levar ao desenvolvimento de transtornos, particularmente de humor”, adverte.

“Com relação às estações, as alterações mais importantes de humor e comportamento são relatadas em pessoas que vivem em países localizados em altas latitudes. Ou seja, a prevalência de transtornos psiquiátricos aumenta com a latitude, incluindo transtornos afetivos sazonais (TAS), depressão maior, esquizofrenia e tentativas de suicídio no transtorno bipolar. Dessa forma, é percebido um elo maior entre os períodos do ano com os sintomas depressivos em regiões de altas latitudes do que em países mais próximos da linha do Equador”, compara o Dr. Alexander Daudt.

Conforme o oncologista, a exposição à luz ao longo do ano depende de fatores externos, como o ambiente local (latitude, urbano x rural), que determina quanta luminosidade está disponível, e fatores sociais e culturais (por exemplo, estilo de vida, trabalho de escritório ou ao ar livre). Além disso, fatores biológicos poderiam contribuir para diferentes respostas cerebrais à luz entre os indivíduos.

“Ritmos circadianos alterados podem, por sua vez, afetar nosso comportamento e o ciclo sono-vigília, influenciando ainda mais o tempo e a quantidade de exposições à luz”, elucida.

Como manter a qualidade de vida?

O Dr. Daudt observa que, embora as mudanças cerebrais ao longo das estações possam levar a resultados emocionais e cognitivos alterados, as interações sociais relacionadas ao momento (por exemplo, férias de verão, época de Natal) podem modular a probabilidade de estar propenso a fatores disruptivos (estresse, álcool e outras drogas) e protetores (como o suporte social). As mudanças nos padrões de exposição à luz também influenciam.

“Outros fatores ambientais que mudam ao longo dos meses, como temperatura e qualidade do ar, também podem contribuir para o efeito sazonal em nosso cérebro. Assim, fica comprovado que a interação entre fatores internos e externos contribui, de fato, para padrões estacionais de humor e comportamento”, afirma.

Dicas para regular seu ritmo circadiano:

O Dr. Daudt recomenda que o indivíduo procure realizar as mesmas atividades, diariamente:

• exponha-se à luz solar pela manhã, ao acordar ;

• evite a luz azul dos aparelhos eletrônicos à noite; 

• tenha uma rotina para dormir e acordar, mantendo horários semelhantes;

• alimente-se em horários mais ativos do dia, preferindo refeições mais leves à noite (afastadas do horário de dormir);

• exercite-se e estimule-se com interações sociais, no mesmo horário.

 

Fonte: O Dr. Alexander Welaussen Daudt (CRM 10624) é oncologista clínico, preceptor da Residência Médica em Oncologia do Hospital Moinhos de Vento e possui Certificação em MEV pelo ACLM (“American College of Lifestyle Medicine”).

 

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