Segundo o portal do Governo Federal, a UTI é uma estrutura hospitalar que se caracteriza como uma "unidade complexa dotada de sistema de monitorização contínua que admite pacientes potencialmente graves ou com descompensação de um ou mais sistemas orgânicos e que com o suporte e tratamento intensivos tenham possibilidade de se recuperar”.
Mas você já parou para pensar sobre a importância dos cuidados odontológicos durante a internação do paciente na Unidade de Terapia Intensiva (UTI)? Para esclarecer sobre o tema, o Blog Saúde e Você conversou com a Dra. Carolina Schulmann Medaglia, cirurgiã Bucomaxilofacial, estomatologista e radiologista do Corpo Clínico do Hospital Moinhos de Vento.
Qual é a importância dos tratamentos odontológicos no período de internação do paciente em uma UTI?
Dra. Carolina Schulmann Medaglia - Durante a internação em uma Unidade de Terapia Intensiva os problemas bucais intensificam-se. A dependência de cuidados, a presença do tubo endotraqueal, a exposição do paciente à microbiota patogênica do ambiente (que podem causar doenças), o acúmulo de secreções e a temperatura da cavidade bucal são alguns fatores que tornam a orofaringe um nicho muito específico de colonização e multiplicação de micro-organismos.
Por que as infecções orais são tão graves?
Dra. Carolina Schulmann Medaglia - Acredita-se que as infecções orais podem se espalhar para outras partes do corpo e agravar o estado de saúde dos pacientes na UTI. A adequação bucal visa remover focos de infecção, proporcionando a melhora da resposta ao tratamento médico e a redução da microbiota oral.
Quais são os riscos de uma saúde bucal precária?
Dra. Carolina Schulmann Medaglia - Hoje em dia, é consenso que uma saúde bucal precária decorrente de uma higiene bucal deficiente ou da presença de focos de infecção eleva o risco de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM). A prevenção de PAVM é um assunto que vem sendo amplamente abordado, dado seu impacto na qualidade de vida do paciente, uma vez que aumenta o tempo de ventilação mecânica, além da permanência em UTI e o risco de mortalidade e morbidades. Também amplia, de forma expressiva, o custo do tratamento do paciente.
Por que os pacientes em UTI estão mais predispostos a complicações relacionadas à saúde bucal?
Dra. Carolina Schulmann Medaglia - A natureza crítica das condições sistêmicas, a ventilação mecânica, a exposição a múltiplos antibióticos e a medicamentos que interferem na coagulação sanguínea, predispõem à ocorrência de complicações bucais nestes pacientes em UTI. A cavidade bucal é também frequentemente afetada por diversas terapias, sendo sítio de manifestação de toxicidade.
Quais são as complicações bucais mais comuns nos pacientes internados em UTI?
Dra. Carolina Schulmann Medaglia - As complicações bucais mais comuns são:
- Secura Bucal: a ventilação mecânica pode causar ressecamento oral, o que torna lábios e mucosas mais suscetíveis a lesões e infecções;
- Lesões traumáticas: os tubos orotraqueais podem causar lesões traumáticas na cavidade bucal; além disso, algumas condições clínicas podem causar alteração do reflexo mastigatório do paciente, levando-o a fazer lesões graves por mordedura, que podem causar sangramentos graves com alterações de coagulação sanguínea;
- Infecções oportunistas: infecções fúngicas, como a candidíase, podem proliferar na boca de pacientes na UTI devido ao comprometimento do sistema imune e ao uso prolongado de antibióticos.
De que forma o cirurgião dentista pode ajudar os pacientes internados em UTI?
Dra. Carolina Schulmann Medaglia - Qualquer intervenção necessária é sempre previamente discutida com o médico que assiste o paciente, a fim de alinhar o momento oportuno para realizá-la. Então, o cirurgião dentista pode auxiliar nos seguintes tópicos:
- Controle de infecções, identificando e tratando infecções orais precocemente e contribuindo para o controle de infecções sistêmicas, através da realização de extrações dentárias, restaurações provisórias de cáries, limpeza de tártaros, etc;
- Monitoramento da saúde bucal, que está interligada à saúde geral. Assim, o dentista na UTI pode monitorar a condição bucal dos pacientes e identificar o aparecimento de problemas precocemente, auxiliando no seu diagnóstico e tratamento;
- Intervenções odontológicas urgentes: o dentista pode realizar intervenções imediatas para aliviar a dor do paciente e evitar agravos em situações críticas, como abscessos odontogênicos;
- Realização, orientação e supervisão de cuidados bucais, que promovem não apenas a redução do risco de infecções respiratórias, como também conforto oral aos pacientes;
- Posicionamento adequado dos tubos orotraqueais, a fim de minimizar o risco de lesões compressivas nos lábios e mucosas;
- Confecção de dispositivos protetores bucais quando indicado, para prevenção de lesões traumáticas por mordedura.
Fonte: A Dra. Carolina Schulmann Medaglia é cirurgiã Bucomaxilofacial, estomatologista e radiologista do Corpo Clínico do Hospital Moinhos de Vento, habilitada em Odontologia Hospitalar.