De acordo com as Diretrizes da Organização Mundial de Gastroenterologia (World Gastroenterology Organisation - WGO), o “Helicobacter pylori” (também conhecido como “H. pylori”) continua sendo um grande problema de saúde global, causando morbidade e mortalidade consideráveis devido à doença da úlcera péptica e câncer gástrico. Segundo a entidade internacional, ele é o patógeno bacteriano humano mais comum, tendo possivelmente infectado a metade da população mundial. “Como resultado, continua a ser uma das principais causas de morbimortalidade em todo o mundo”, garante a WGO.

 

Então, o H. pylori é uma bactéria comumente encontrada no estômago. Mas será que todas as pessoas vão desenvolver alguma doença? Quando ela se torna um problema? Quais são os sintomas? E quando é preciso investigar? Para esclarecer o tema, o Blog Saúde e Você entrevistou o Dr. Fernando Herz Wolff, chefe do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Moinhos de Vento. 

 

É verdade que todas as pessoas têm a bactéria H. pylori?

Dr. Fernando Herz Wolff - Sabemos que a metade da população mundial é portadora desta bactéria. Em algumas áreas do mundo, ou mesmo do país, esta taxa de infecção chega a 70% da população. Em outros locais, o índice é um pouco menor. Mas é, sem dúvida, a infecção mais prevalente no ser humano, em todo o mundo. 

 

Trata-se de uma infecção da modernidade?

Dr. Fernando Herz Wolff - Não. Esta infecção não é da modernidade. Ela convive com o ser humano há milhões de anos, pois encontraram esta bactéria em fósseis humanos congelados e em múmias humanas. Ou seja, acharam o DNA desta mesma bactéria no homem primitivo. 

 

Já se sabe como o H. pylori é contraído?

Dr. Fernando Herz Wolff - Sabemos que esta bactéria é contraída na infância. Estima-se que quase a totalidade das infecções novas aconteçam antes dos 10 anos de idade. Acredita-se que esta contaminação é por via oral, geralmente com alimentos, água ou sujeiras que estão nas nossas mãos. Então, às vezes, uma pessoa contaminada acaba infectando algum alimento. 

Também pode acontecer a contaminação fecal-oral, ou seja, resíduos de fezes que contaminam alimentos e, assim, outras pessoas. Na verdade, este processo ainda não é completamente compreendido, mas tem várias evidências que sugerem que funcione dessa maneira.

 

O H. pylori causa muitos sintomas?

Dr. Fernando Herz Wolff - A infecção, em si, por esta bactéria costuma ser completamente assintomática. A forma mais comum de descobri-la é em uma endoscopia; um exame de rotina que a pessoa faz por um sintoma que geralmente não tem nada a ver com o H. pylori, como azia ou alguma dor na região superior do abdômen. Mais de 90% das pessoas que têm a bactéria não vão sentir a sua presença no organismo. 

 

Qual é a relação do H. pylori com as úlceras?

Dr. Fernando Herz Wolff - Os descobridores desta bactéria ganharam o Prêmio Nobel de Medicina em 2005 por terem feito a associação entre o H. pylori com a úlcera no estômago e a úlcera no duodeno (que é a primeira parte do intestino). Então, os pacientes que têm estes diagnósticos devem passar por uma pesquisa, para analisarmos se eles têm o H. pylori, uma vez que conseguimos curar estas úlceras, curando esta bactéria. 

 

Quais são os sintomas da úlcera?

Dr. Fernando Herz Wolff - Geralmente, a úlcera dá dor na parte superior do abdômen, podendo gerar sangramento digestivo e desencadear uma anemia. Uma pequena parte dos pacientes pode ter sintomas mais leves, como dor de estômago (ou na “boca” do estômago), desconforto na região ou mal-estar logo depois de comer. Sendo que alguns melhoram com o tratamento da bactéria.

 

E como é feito o tratamento contra o H. pylori?

Dr. Fernando Herz Wolff - O tratamento, como em muitas outras infecções por bactérias, é feito com o uso de antibióticos. Mas convém lembrar que esta é uma bactéria muito resistente. O estômago é um lugar extremamente ácido, pelo seu próprio funcionamento (ou seja, pela produção do suco gástrico, necessário para a digestão). 

Então, para curar esta bactéria, geralmente realizamos a combinação de três drogas: dois antibióticos e mais uma medicação para diminuir a acidez no estômago, durante, ao menos, 14 dias. É um tratamento bastante forte, que, muitas vezes, é bem tolerado. Mas uma parte significativa das pessoas tem desconfortos associados.

 

Todas as pessoas precisam tratar o H. pylori?

Dr. Fernando Herz Wolff - Não. É importanteanalisarmos para decidir quem precisa de todo esse tratamento, para, posteriormente, explicarmos a importância dele a quem realmente necessita. Há estudos mostrando que doenças inflamatórias intestinais podem ser menos frequentes em pessoas que têm esta bactéria. Alguns tipos de alergia, como ao glúten, também poderiam ser menos frequentes em pessoas que têm o H. pylori.

São estudos que apresentam resultados ainda divergentes, mas a tendência é de que podemos acreditar que o H. pylori possa ser benéfico em algumas pessoas. Até porque é uma bactéria muito frequente, muito antiga no ser humano, e, na grande maioria da população, ela não causa sintomas.

 

Atualmente, como está a indicação de tratamento?

Dr. Fernando Herz Wolff - Agora, talvez a gente tenha um pouco mais de cautela ao sair indicando um “tratamento universal” para a bactéria. Em 1982, quando o Helicobacter pylori foi descoberto, ele era culpado por tudo. Na época, se criou um ditado que dizia “H. pylori bom, é H. pylori morto”. 

Depois, fomos percebendo que talvez ele possa ter algum papel para o ser humano. Ainda não conhecemos tudo, mas talvez a gente deva tratar quem tem indicações precisas e determinadas doenças. Pacientes que possuem alterações no estômago, predisponentes ao câncer de estômago e de alguns tipos de linfoma,ou que tenham uma história familiar muito forte de câncer de estômago ou que tenham tido úlcera.

 

Que conselhos o senhor daria aos nossos leitores?

Dr. Fernando Herz Wolff - É muito importante que as pessoas saibam que nem todo mundo que tem esta bactéria deve tratar. E, muito menos, todo mundo deve sair pesquisando se tem ou não H. pylori.

 

Acompanhe, abaixo, o resumo da Biblioteca Virtual em Saúde:

  • Helicobacter pylori, também chamada H. pylori, é uma bactéria comumente encontrada no estômago e está presente em aproximadamente metade da população mundial;
  • A grande maioria das pessoas infectadas por H. pylori não têm qualquer sintoma e nunca irá desenvolver qualquer problema de saúde. No entanto, sua presença pode estar associada com o surgimento de alguns problemas gastrointestinais, como úlceras e, menos comumente, câncer;
  • Não há clareza do porquê algumas pessoas com H. pylori desenvolvem doenças e outras não;
  • A transmissão de H. pylori ocorre provavelmente através do consumo de água e alimentos contaminados, sendo sua prevalência (proporção de indivíduos com a bactéria) maior em pessoas de baixo nível socioeconômico;
  • Os sintomas que podem ser causados pela infecção por H. pylori só ocorrem quando há a presença de úlceras, sejam elas gástricas (estômago) ou duodenais (parte inicial do intestino delgado) ou quando há o desenvolvimento de câncer de estômago;
  • Não há necessidade de testar todas as pessoas para averiguar a presença de H. pylori. Comumente só necessitam de teste aquelas com presença de úlcera (gástrica ou duodenal) em atividade;
  • O tratamento pode ser feito com antibióticos, dura de 7 a 14 dias e também só costuma ser realizado nas pessoas com úlcera e com presença da bactéria;
  • Tanto o diagnóstico como o tratamento deve ser sempre discutido com seu médico.

 

Serviço especializado

E então? Conseguiu compreender um pouco mais sobre o Helicobacter pylori ou H. pylori? Em caso de sintomas ou dúvidas, agende uma consulta com um de nossos especialistas do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo, pelo telefone: (51) 3314-3434.

 

Fonte: Dr. Fernando Herz Wolff (CRM-RS 24476) é chefe do Serviço de Gastroenterologia e Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital Moinhos de Vento.

Agradeçemos pela sua inscrição!

Prêmios e Certificações

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