1 – Quem faz parte dos grupos de risco deve ir às clínicas, neste momento, ou esperar pela campanha do Ministério da Saúde?

A vacina demora de duas a quatro semanas para proteger os indivíduos vacinados. Então, quanto mais cedo os indivíduos do grupo de risco puderem fazer a vacina, melhor. Nas clínicas privadas as vacinas, geralmente, chegam com uma antecedência maior do que na rede pública.  

2 – Qual a sua opinião sobre a colocação do Secretário Estadual da Saúde, João Gabbardo, que diz que não há necessidade de realizar a vacina antecipadamente?

Gripe é uma doença que acontece durante todo o ano, sendo que a frequência e a quantidade de casos é sempre maior no Inverno. O risco de contraí-la vai desde os recém-nascidos até os idosos, adultos, adolescentes, crianças e gestantes. Em alguns grupos e pessoas o desfecho será mais grave, podendo levar à mortalidade. Mas isso em termos de risco. Existem grupos que são mais vulneráveis e outros menos, mas todas as pessoas correm o risco de ficarem gripadas. A gripe pode ser leve, moderada ou grave. Isso reforça a necessidade das pessoas se vacinarem. Se as pessoas estão vacinadas, elas interrompem a cadeia de transmissão de contágio de indivíduo para indivíduo até que o vírus da gripe encontre uma pessoa do grupo de risco que possa ter um desfecho grave. Então é importante que todas as pessoas que tiverem condições, tanto na rede pública, quanto na rede privada, façam a vacina.  

3 – Então, quem puder deve procurar as clinicas particulares para fazer a vacina?

Sim. Este ano nós estamos sendo surpreendidos pelos casos acontecerem  mais precocemente em relação aos anos anteriores. Há alguns anos  o vírus se torna mais virulento, ou seja, é capaz de causar uma doença mais grave, e em outros anos ele pode vir de uma forma mais branda. Muitas vezes, as pessoas esquecem de fazer a prevenção e deixam a vacinação de lado. Então, depois de alguns anos, o vírus retorna com mais força e aí acaba causando toda essa correria atrás da prevenção e da vacinação.  

4 – As vacinas perdem a força ao longo do tempo?

Sim.  A vacina disponível, atualmente, não confere uma proteção duradoura por mais de um ou dois anos. A proteção conferida a ela acaba diminuindo. E outro aspecto importante é que ela acaba se tornando desatualizada em relação ao próximo inverno porque os vírus vão adquirindo, pequenas mutações, e também vão modificando a sua capacidade de causar a doença. A Organização Mundial da Saúde, todos os anos, antes de começar a produção da vacina, já orienta quais são as cepas e os tipos virais que vão ser prevalentes na próxima temporada. Isso é importante porque os laboratórios precisam de um tempo grande para fabricar a nova vacina.  

5 – As vacinas disponíveis hoje nas clinicas são antigas ou são as novas?

A vacina quadrivalente disponível na maior parte das clinicas de Porto Alegre é uma vacina atualizada e contem os quatro tipos de vírus indicados pela Organização Mundial da Saúde. Então tem dois tipos A e dois tipos B, e ao lado do nome desses tipos, consta a cidade onde eles foram identificados no mundo (Califórnia, Hong-Kong, Brisbane e Puket), além do ano em que foram identificados estes vírus – o que pode causar um pouco de confusão nas pessoas. Mas estes vírus são os mesmos que estão circulando agora neste inverno. Então, a vacina está atualizada, sendo efetiva contra estes vírus.  

6 – Como saber se a vacina deste ano está dentro do prazo de validade?

É importante que na hora da aplicação da vacina seja feito o gesto vacinal. Ou seja, o profissional apresenta a caixa e a embalagem da vacina, contendo a descrição, o ano,  as cepas virais e também o prazo de validade.  

7 – O usual é fazer a vacina no braço contrário ao dominante, pois pode ocorrer dor em função de lesão nas fibras musculares.

Todas as vacinas podem apresentar efeitos adversos leves como uma dor discreta no local da picada, um pouquinho de inchaço e de hiperemia. Estes são sintomas leves que tendem a desaparecer em algumas horas e acontecem em poucas pessoas.  

8 – Quais são os sintomas que podem aparecer?

Algumas pessoas apresentam uma temperatura um pouco mais alta, febrículas (eventualmente pode ser febre), mas também é uma febre rápida que passa entre 12h e 24h.  

9 – Há outros sintomas como um início de resfriado ou de gripe?

É importante lembrar que a vacina demora de duas a quatro semanas para deixar o sistema imunológico pronto para se proteger contra um possível contato com o vírus da gripe. Então, nesse período, se as pessoas não ficarem atentas para as medidas de prevenção, elas podem ficar gripadas, inclusive pelos mesmos vírus da vacina. Outros aspectos importantes a serem adotados são: a higienização das mãos, a etiqueta da tosse e buscar avaliação médica com rapidez.  

10 – A vacina em si não provoca a gripe?

De maneira nenhuma. Essa é uma pergunta muito frequente. A vacina é feita de vírus fragmentados mortos, ou seja, a vacina não tem a capacidade de causar a gripe. Agora, as pessoas confundem muito gripe com resfriado. Elas chamam os resfriados comuns de gripe. A vacina oferece proteção para quatro tipos de vírus da gripe, mas existem outros tipos de vírus que causam resfriados comuns, e isso ela não protege ainda.  

11 – Como se diferencia um resfriado comum de uma gripe?

Geralmente a gripe causa um quadro de febre abrupta que começa rápido. Ou seja, num dia a pessoa está bem e no outro já começa a apresentar febre, mal-estar, dor de cabeça, tosse, dor de garganta, espirro e nariz escorrendo. Deixa a pessoa debilitada sem disposição para ir trabalhar ou ir à escola. E os resfriados são quadros virais mais leves, com os mesmos sintomas, mas com intensidade mais leve, e que geralmente não apresentam febre, e não incapacitam a pessoa de trabalhar  ou ir para a escola.  

12 – A recomendação de usar um agasalho para não pegar resfriado, é mito ou verdade?

Os resfriados e as gripes ocorrem durante todo o ano.  Então, não é só o frio que acaba sendo o vilão dessa história. Mas no inverno as pessoas costumam ficar em ambientes mais aglomerados e a chance de uma pessoa com o vírus do resfriado ou de gripe entrar em contato com as outras e transmitir o vírus, é muito maior. É claro que as temperaturas baixas atrapalham um pouco a barreira de defesa do pulmão, das vias aéreas para, digamos, oferecer uma primeira resistência a entrada do vírus. Mas eu friso que o mais importante é evitar os ambientes aglomerados. Então, evitar frequentar ambientes aglomerados nos períodos de frio e de temperaturas mais baixas, é fundamental.  

13 – Quais são os grupo de risco?

Os grupos de risco definidos pelo Ministério da Saúde são gestantes, mulheres que tiveram filhos até 45 dias depois do parto; idosos, maiores de 60 anos; crianças de seis meses a menores de cinco anos, pessoas privadas de liberdade e pessoas portadoras de doenças crônicas como cardiopatias, pneumopatias e nefropatias. Essas pessoas são mais vulneráveis a desenvolver a gripe de forma mais grave – inclusive a população indígena faz parte deste grupo.  

14 – Qual são as contraindicações da vacina?

No caso da vacina da gripe (disponível no Brasil) as contraindicações englobam pessoas que são alérgicas à proteína do ovo e também as que  tiveram alergia à vacina da gripe.  

15 – Quais são as outras medidas de prevenção que devem ser adotadas?

Grande parte da população aprendeu e teve o contato a primeira vez com o vírus em 2009. Hoje devemos retomar os cuidados com a higienização e lavagem de mãos de forma intensiva. É uma medida eficaz e efetiva para prevenir a transmissão do vírus da gripe. A pessoa que está gripada passa o vírus por meio das secreções dos olhos, do nariz e da boca e ao tossir e espirrar, ela acaba colocando as mãos na frente da boca para evitar aquela nuvem de secreções, de gotículas no ar, só que as mãos ficam contaminadas e começam a ter contato com objetos como o celular, computador, canetas em cima das mesas, e outras pessoas em seguida podem tocar nesses objetos e então se contaminam ao levar as mãos ao rosto. Então é importante que as pessoas ao tossir utilizem lenços descartáveis, higienizem as mãos com álcool gel ou água e sabão, logo após. E eventualmente, quando forem tossir, que tussam no na dobra interna do cotovelo. E é importante também as pessoas cuidarem das superfícies onde é que elas tocam, porque elas podem estar contaminadas também. Isso é um risco e uma realidade.  

16 – Qual a diferença entre a vacina trivalente, tetravalente ou quadrivalente?

A rede pública vai trabalhar somente com a vacina trivalente. Ela protege contra dois tipos de A do vírus da gripe e um tipo B. A vacina quadrivalente acrescenta a proteção para um segundo tipo B, então ela tem os dois tipos A e um B da vacina trivalente, e um quarto tipo B. Na rede privada ela pode optar por comercializar a trivalente ou a quadrivalente. Em algumas clínicas existem as duas e em outras existe somente uma. A vacina trivalente esta licenciada para uso a partir dos seis meses de idade, sem limite de idade. Já a vacina quadrivalente têm duas apresentações: a partir dos seis meses até os três anos (ainda não temos disponível em Porto Alegre); e a segunda apresentação da quadrivalente é a partir dos três anos, inclusive, sem limite de idade.  

17 – As crianças precisam tomar as duas doses?

Isso é importante por que no primeiro ano de vida até os nove anos, a criança precisa fazer as duas doses da vacina da gripe, com intervalo de 30 dias. Nos anos subsequentes em que for se vacinar, ela fará uma dose por ano somente.  

18 – Porque este ano, a gripe chegou tão cedo? Há um consenso entre os especialistas?

Por enquanto há somente especulações. Nós estamos aguardando estudos e análise dos dados para poder dar uma resposta mais definitiva. Mas existem vários fatores que influenciam como as viagens para regiões onde aconteceu a temporada de gripe no hemisfério norte em função do inverno. Outros aspectos são: uma mutação que pode ter acontecido no vírus tornando ele mais patogênico, questões de temperatura, mudanças climáticas também podem estar implicadas, e isso aí é multifatorial, a gente vai ter que analisar cada um destes fatores.  
Fonte: Entrevista Dr. Paulo Ernesto Gewehr Filho (CRM 29512), infectologista do Hospital Moinhos de Vento, ao Programa Gaúcha Repórter, no dia 04/04/2016.

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