O ator e produtor norte-americano Brad Pitt, considerado uma das maiores estrelas do cinema mundial, acaba de dar uma longa entrevista para a GQ, direto de seu refúgio, em Hollywood Hills (nos Estados Unidos). Além de falar na carreira e em projetos futuros, a matéria retomou um assunto polêmico: Pitt, de 58 anos, sofreria de prosopagnosia (diagnóstico não confirmado até a publicação desta matéria). O fato tem gerado muitas dúvidas e a mídia internacional especula que o astro, cujo cachê pode chegar a US$ 20 milhões por filme, teria que antecipar a sua aposentadoria em função de ter dificuldades em reconhecer rostos. Convidamos, Dr. Leonardo Augusto Carbonera, médico neurologista do Hospital Moinhos de Vento, fala sobre a prosopagnosia e adianta: muitos podem conviver normalmente com a doença, que nem sempre é incapacitante.

O que é a prosopagnosia?

De acordo com artigos disponíveis na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, a prosopagnosia é definida como a incapacidade de reconhecer rostos conhecidos e novos. Também é chamada de agnosia facial/visual ou "cegueira facial”. A palavra vem do grego “prosopon” (que significa face) e “agnosia” (que quer dizer falta de conhecimento). Segundo estudos, um indivíduo saudável pode reconhecer e lembrar mais de 5.000 rostos ao longo de sua vida. 

Quais são os sintomas de Brad Pitt?

No texto recém-publicado, a autora Ottessa Moshfegh relembra que, no passado, Pitt falou sobre um problema curioso que acontece em ambientes sociais, principalmente em festas. “Ele luta para se lembrar de novas pessoas, para reconhecer seus rostos, e teme que isso tenha levado a uma certa impressão dele: que ele é remoto e distante, inacessível, absorto em si mesmo”, descreve. Segundo ela, Pitt nunca foi diagnosticado oficialmente, mas acredita que ele pode sofrer de uma condição específica: prosopagnosia, uma incapacidade de reconhecer os rostos das pessoas que também é conhecida como cegueira facial”, explica.

Quais são as causas?

O Dr. Leonardo Augusto Carbonera elucida que a prosopagnosia pode ter várias causas. “Ela acontece quando o indivíduo tem uma lesão em regiões responsáveis pelo processamento da visão, que associa o que está sendo visto com o significado de uma determinada imagem”, elucida. Conforme o neurologista do Hospital Moinhos de Vento, qualquer distúrbio que cause prejuízo nestas estruturas de associação visual pode causar a prosopagnosia. “Tumores, traumas de crânio, lesões degenerativas, doenças como esclerose múltipla e o acidente vascular cerebral (AVC, popularmente conhecido como ‘derrame’) podem acometer essa região”, esclarece.

A prosopagnosia é rápida ou gradual?

A velocidade também é variável e depende da sua causa. “Pode acontecer de repente, a partir de um AVC, ou de maneira gradual, caso decorra de um tumor ou de doenças degenerativas, cujos sintomas aparecem de forma mais lenta”, compara. 

Tem como reverter?

“Infelizmente, não há possibilidade de reversão se for uma lesão já definitiva, uma sequela. Se aquela região que faz a associação visual já está incapacitada, fica muito difícil salvá-la e recuperar os sintomas”, exemplifica o Dr. Leonardo Carbonera.

“Se for algum dano que possa ser revertido, como uma lesão inflamatória que acontece na encefalite ou no surto de esclerose múltipla, a prosopagnosia também poderia ser revertida”, alega. “Então, novamente,  depende muito da causa para podermos pensar em sua reversão”, argumenta.

Como conviver com a prosopagnosia?

Referências publicadas na Biblioteca Nacional de Medicina indicam que, em torno de 2,5% da população mundial, possui a doença. A boa notícia é que a pessoa pode viver bem e normalmente, mesmo tendo o diagnóstico. “Existem vários graus de prosopagnosia, então, nem todos os seus portadores vão ter formas severas (a ponto de não reconhecer a si próprio). Alguns vão ter alguma dificuldade com os rostos, mas, por usarem pistas, como, por exemplo, ao invés da face, reconhecerem a voz, o óculos, a cor e o corte de cabelo, as roupas que a pessoa costuma vestir, acabarão driblando a prosopagnosia, que não se mostrará tão significativa”, relata.

“Então, a enfermidade pode ser não incapacitante para quem consegue contorná-la, pois permite que o indivíduo viva com ela, fazendo o reconhecimento de outros por pistas indiretas”, acrescenta. “Nas pessoas em que ela não atrapalha o cotidiano, talvez nem poderíamos  considerar como uma doença”, pondera.

Como detectar?

O diagnóstico não é tão simples. A testagem neuropsicológica é a mais indicada, realizada exclusivamente por  neuropsicólogo(a), por meio de baterias de avaliação de reconhecimento de faces. A investigação também pode ser acompanhada por neurologistas e psicólogos(as). “Diante da queixa e da confirmação diagnóstica, será preciso descobrir a causa da prosopagnosia, sendo recomendado que o paciente realize um exame de imagem, como uma ressonância magnética ou uma tomografia”, aconselha o Dr. Carbonera. 

De forma geral, o especialista lembra que é comum que esqueçamos, vez ou outra, o rosto de alguém. “Se a pessoa tem uma vida normal, não devemos considerar uma doença. Mas, se for grave e recorrente, e o indivíduo tiver muita dificuldade ou nunca conseguir reconhecer ninguém, de nenhuma forma, vale procurar o auxílio de neurologista, psicólogo(a) ou neuropsicólogo(a) para fazer a testagem e verificar se tem o diagnóstico de prosopagnosia. Para mais informações, procure pelos especialistas do Serviço de Neurologia do Moinhos de Vento.

Fonte:

 Dr. Leonardo Augusto Carbonera (CRM 40.288 RS) é neurologista do Hospital Moinhos de Vento e Líder Operacional de Projeto - PROADI-SUS " 

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