Atualmente, existem alternativas no mercado farmacêutico para quem precisa emagrecer para cuidar da saúde, especialmente voltadas a pacientes com obesidade ou diabetes. Entretanto, a procura por essas medicações disparou, motivada por pessoas que, sem nenhum acompanhamento médico, buscam efeitos milagrosos, sem ter que cuidar da alimentação ou praticar exercícios físicos. E esse consumo descontrolado pode ter sido determinante para desencadear problemas sérios na população. 

Recentemente, a Agência Europeia de Medicamentos começou a investigar medicações para a perda de peso e para diabetes depois que o regulador de saúde da Islândia sinalizou três casos de pacientes pensando em suicídio ou automutilação. Um dos produtos contém “semaglutida”, enquanto o outro possui “liraglutida” em sua fórmula.

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Conforme a descrição que acompanha estes medicamentos, a semaglutida é indicada no tratamento de adultos com diabetes mellitus tipo 2 insuficientemente controlada, como adjuvante à dieta e exercício. Já a liraglutida é prescrita associada a uma dieta hipocalórica e aumento do exercício físico para controle crônico de peso em adultos com obesidade ou sobrepeso, com alguma comorbidade, como disglicemia (pré-diabetes e diabetes mellitus tipo 2), hipertensão arterial, dislipidemia ou apneia obstrutiva do sono.

De acordo com o endocrinologista Dr. Guilherme Rollin, chefe do Serviço de Endocrinologia e Nutrologia do Hospital Moinhos de Vento, é importante contextualizar que esse grupo de medicações que, atualmente está sendo usado apenas para diminuir o peso (sem recomendação ou acompanhamento médico), inicialmente foi desenvolvido para tratar o diabetes. “Depois de vários estudos com milhares de pacientes, que comprovaram o benefício e a segurança em relação ao tratamento da doença, as pesquisas e a indicação foram estendidos a indivíduos não diabéticos, com sobrepeso e obesidade. Neste cenário, até hoje não há nenhum levantamento ou análise desses múltiplos estudos que apontem para algum problema de suicídio ou ideias relacionadas à ação suicida”, revela.

Reações adversas

Segundo o Dr. Guilherme Rollin, vale lembrar que qualquer medicamento, depois que vai para o mercado, pode apresentar - no uso diário - alguns sinais ou eventos adversos inesperados. “Por este motivo, existe uma recomendação para que as pessoas reportem às agências regulatórias os efeitos colaterais percebidos. Cabe salientar que esse tipo de situação, que não é advinda de um estudo clínico controlado, pode ser simplesmente algo pontual, ao acaso. Entretanto, estes eventos são importantes para que sejam estudadas possíveis relações”, argumenta o endocrinologista. 

Contudo, o médico observa que, até o momento, o uso da semaglutida, como outros medicamentos da mesma classe, não têm nenhuma evidência científica que esteja associada a esses eventos adversos da ordem psiquiátrica. “De qualquer maneira, é importante que seja investigada, sempre que surge alguma questão de segurança de algum tratamento, como está sendo feito pelo órgão Europeu. Ele vai estudar melhor estes casos e avaliar se há realmente um motivo de preocupação”, analisa.

“Então, se aparecer alguma incidência de efeito colateral inesperado, é preciso ver o que está acontecendo e, eventualmente, até reavaliar estes estudos grandes, tentando encontrar algum achado semelhante. Todavia, do ponto de vista fisiológico, pelo mecanismo de ação da medicação, não é esperado que ela possa interferir na parte neuropsiquiátrica do paciente”, pondera.

“De qualquer maneira, já existe na história do tratamento da obesidade, medicações que aumentavam o risco de suicídios ou de problemas psiquiátricos. Mas com um mecanismo de ação totalmente diferente desses medicamentos atuais”, compara Dr. Guilherme Rollin.

Risco-benefício

“O mais importante, que eu diria aos pacientes, é que façam este tratamento com acompanhamento médico, seguindo uma indicação correta. O que vemos na prática clínica são muitas pessoas usando a medicação por conta própria, o que acaba realmente sendo um problema, especialmente na relação risco-benefício. Por exemplo, para o indivíduo que tem diabetes de alto risco cardiovascular essas medicações trazem um grande benefício para a sua saúde, o que um especialista vai poder avaliar e indicar com maior precisão. Mas fazer um tratamento para diminuir o peso sem acompanhamento profissional torna o risco muito maior que o benefício”, justifica. 

“E, à medida que aumentem muito o uso de determinadas medicações, podem aparecer alguns riscos (ou efeitos colaterais) que não foram identificados nos estudos clínicos porque a população analisada havia sido diferente da que está usando a medicação, no dia a dia. Assim, é fundamental o acompanhamento e a indicação médica de qualquer tratamento para a obesidade”, garante o chefe do Serviço de Endocrinologia e Nutrologia do Hospital Moinhos de Vento. 

A mesma recomendação é compartilhada pela médica do Serviço de Psiquiatria do Hospital Moinhos de Vento, Dra. Lorena Caleffi. Ela indica que as pessoas sempre façam uma avaliação médica antes de consumirem medicações como estas. “Tenho alguns pacientes que contam que estão usando ou usaram medicamentos com semaglutida. Geralmente, é de uso temporário, até atingirem o peso desejado. Mas alguns tentam usar e não toleram a náusea”, comenta.

 

A ilusão de emagrecer rápido e sem orientação 

“Sugiro que os pacientes não se joguem no ‘escuro’, sem orientação, pois a ‘mágica’ (de emagrecer rápido e sem acompanhamento) é sempre uma ilusão, um truque e, quando se trata de saúde, podem ter que pagar um preço alto depois”, considera. “Sobre a situação encontrada na Islândia, é preciso explicar que, na verdade, estes efeitos não estão descritos para estas substâncias específicas e ‘medicação para perda de peso’ é um termo muito amplo. Incluiria até anfetaminas. Entretanto, sobre este caso retratado na Europa, precisamos ter cautela antes de fazer uma relação causal”, reflete.

Relação entre peso e depressão

“Pacientes deprimidos tendem a ter alteração de peso. Se usarem a semaglutida para emagrecer, sem tratar a depressão, vão permanecer com os sintomas depressivos. Assim, o uso indiscriminado dessa substância (comprada sem receita e sem avaliação médica) pode gerar complicações em indivíduos que sejam mais comprometidos ou tenham alguma contraindicação”, avalia a psiquiatra.

“Hoje, o uso de medicações como estas está tão indiscriminado que falta para quem tem diabetes. Do ano passado para cá, dobrou a procura por semaglutida, provavelmente para perda de peso. Infelizmente, vivemos também numa cultura imediatista, na qual as pessoas estão com muita dificuldade de encarar mudanças de estilo de vida, optando por respostas igualmente rápidas, sem considerar efeitos ainda desconhecidos de drogas novas”, observa.

“Mas chegará um momento no qual essas medicações precisarão ser suspensas e, mais cedo ou mais tarde, a pessoa vai ter que se deparar com a necessidade de desenvolver novos hábitos, que sejam a favor de uma vida mais saudável”, prevê Dra. Lorena Caleffi.

Fontes: Dr. Guilherme Rollin (CRM 21.531) é chefe do Serviço de Endocrinologia e Nutrologia do Hospital Moinhos de Vento e a Dra. Lorena Caleffi (CRM 17211) é psiquiatra do Serviço de Psiquiatria do Hospital Moinhos de Vento.

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