Recentemente, o nascimento prematuro da filha do Alok Achkar Peres Petrillo, DJ e produtor musical brasileiro, e da médica Romana Novais, chocou muitas pessoas. O casal havia sido diagnosticado com a covid-19 e este foi apontado como o principal motivo pelo qual a Raika nasceu de 32 semanas. 

Hoje, a família está bem, mas a preocupação com os impactos do vírus reforçam que ainda se sabe pouco sobre o novo coronavírus. “A covid-19 pode provocar partos prematuros, mas a relação de causa-consequência não está plenamente provada ou estabelecida. Muitos estudos têm sugerido aumento nas taxas de parto pré-termo e de cesariana, mas não são todos”, explica o Dr. Edson Vieira da Cunha Filho, chefe do Serviço de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento. 

O especialista destaca que um recente estudo europeu, em um dos maiores centros terciários da Irlanda, comparou a taxa de prematuridade entre janeiro e julho de 2020 com 2018 e 2019. “Não ocorreram aumentos, mas a febre e a hipóxia tecidual (redução no nível de oxigênio nos tecidos) poderiam justificar o aumento do risco de trabalho de parto prematuro, ruptura prematura de membranas e anormalidades no padrão de batimento cardíaco fetal e, consequentemente, a prematuridade. Entretanto esta hipótese ainda não foi provada”, constata. 

Outro estudo, desta vez do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), concluiu que mulheres diagnosticadas com a Covid-19 possuem maior chance de ter um parto prematuro. A prematuridade, em grávidas com covid, ocorreu em uma frequência aproximada de 12%, comparada com cerca de 10% entre a população em geral. Já uma revisão sistemática, contendo mais de 11 mil grávidas, apresentou taxa de partos com menos de 37 semanas de 17%, entretanto faz-se necessário destacar que apenas 6% foram espontâneos. “Ou seja, a maioria destes nascimentos pré-termos foram iatrogênicos, indicados em decisão conjunta entre médicos e família, devido à pandemia, devido ao desconhecido, devido à infecção. Assim, o aumento da prematuridade pode ter sido indireto e o efeito causal ainda não pôde ser plenamente estabelecido”, pondera Dr. Edson.

Publicado em novembro deste ano, outro estudo do CDC, com a participação de quase 24 mil gestantes com COVID-19, desta vez as comparou com mulheres não grávidas, também com a infecção, pareadas por idade. A pesquisa mostrou que a chance de internação em UTI no primeiro grupo foi três vezes maior, bem como a necessidade de usar ventilação mecânica e 1,7 vezes maior o número de casos de óbito

 

“As modificações corporais fisiológicas impostas aos diferentes sistemas orgânicos da gestante justificam este incremento de morbidade e mortalidade, sendo a sobrecarga cardiovascular e respiratória alguns destes grandes fatores, somados às alterações mecânicas e anatômicas promovidas pelo crescimento uterino e à predisposição natural à trombose que a gestação induz”, argumenta. 

Coagulação Intravascular Disseminada (CIVD)

O que parece ter ocorrido com a Romana foi um processo de descolamento de placenta o qual pode ter desencadeado uma coagulação intravascular disseminada (CIVD), algo que não acontece exclusivamente em pacientes com Covid-19, mas que não se pode descartar que possa ter sido causado pelo vírus, tendo em vista que o vírus pode estar associado a maior incidência de trombose e consequentemente tromboses placentárias podem ter levado ao descolamento.

“É extremamente importante destacar (para se evitar um nível de stress e preocupações exageradas) que descolamento prematuro de placenta é um evento incomum, que acomete 0,5 a 1 % de todos os partos, sendo mais evidenciado em pacientes com fatores de risco como hipertensão arterial, trauma, drogadição, tabagismo, podendo ser visto também em gestantes de baixo risco, mas com uma prevalência bastante inferior. Embora imprevisível, sua prevenção se dá com a redução destes fatores de risco expostos acima”, complementa.

Estudos publicados até o momento não têm associado o Descolamento Prematuro de Placenta (DPP) ao coronavírus, além de não alertarem para um risco maior de CIVD nas gestantes com essa infecção. “O que se tem evidenciado até o momento é que a doença gera um quadro maior de hipercoagulabilidade em pessoas contaminadas e a gestante, apenas pelo fato de estar grávida, já possui um incremento em seu sistema de coagulação. Somados os dois fatores (gestação e Covid-19) o risco de trombose torna-se evidentemente maior", conclui. 
Por fim, com base no que se sabe até o momento, o que se pode dizer é que as gestantes são um público de maior risco de complicações, entretanto a enorme maioria das grávidas têm apresentado quadros leves e de doença controlada. Nos primeiros sinais de doença, o obstetra responsável deve ser contactado a fim de fornecer orientações necessárias quanto ao manejo e observação. Sinais de maior gravidade, como tosse persistente, febre alta, falta de ar, dor respiratória, dor torácica ou sinais de envolvimento obstétrico (como contrações, corrimentos vaginais, dor abdominal, diminuição da movimentação fetal) devem ser avaliados em ambiente hospitalar.

Fonte: Dr. Edson Vieira da Cunha Filho, chefe do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital Moinhos de Vento.   
 


 

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