“Na prática, utilizar o próprio sistema imunológico no combate ao câncer começou a funcionar nos últimos anos, graças a descobertas recentes sobre a biologia dos tumores”A partir dos anos 80, pesquisadores identificaram a presença de certos receptores nos linfócitos T, a artilharia do sistema imunológico. Esses receptores — os mais conhecidos são o PD-1 e o CTLA-4 — funcionam como uma espécie de botão de liga e desliga das células de defesa. Por meio de proteínas presentes na sua membrana, as células cancerígenas conseguem acionar esse interruptor, desligando o sistema imunológico. O resultado é que o tumor cresce, sem ser reconhecido como uma ameaça. Isto explica a pouca eficácia das drogas imunoterápicas mais antigas, como o interferon, lançada com a expectativa de cura do câncer nos anos 80 (noticia que foi matéria de capa da Revista Time). “A partir do momento em que identificamos as proteínas que bloqueiam a resposta imunológica, desenvolvemos anticorpos que neutralizam a proteína e liberam este freio, fazendo com que os linfócitos tenham nova capacidade citotóxica contra os tumores”, explica Dr. Roithmann. Os primeiros resultados dessa estratégia apareceram em pacientes com melanoma metastático, uma forma agressiva de câncer de pele para a qual a medicina não oferecia nenhuma alternativa eficaz. Com a imunoterapia, ocorreram regressões surpreendentes e prolongadas nos tumores de uma parcela considerável dos pacientes. O Nivolumab é a primeira desta nova classe de drogas liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em abril deste ano, para tratamento de melanoma e de câncer de pulmão, quando outros tratamentos não tiveram sucesso. A expectativa é de que essa droga esteja disponível para a sua utilização no Brasil nos próximos três meses. Nos Estados Unidos, o Nivolumab e o Pembrolizumab já tem aprovação para o combate a melanomas, câncer de pulmão e de rim. De acordo com Dr. Roithmann, em geral, os anticorpos são administrados a cada duas ou três semanas, diluídos em um soro na veia do paciente. “A administração tem se mostrado bastante segura. É um método revolucionário e os resultados iniciais são muito promissores”, ressalta o oncologista. O médico explica que os efeitos da droga são muito diferentes em relação à quimioterapia. Em vez de deprimir o sistema imunológico, são ativadas as defesas do organismo. Dessa forma, poupa os pacientes das complicações habituais, mas traz novos desafios a partir de uma maior atividade imunológica. “Para atender as demandas desse novo tipo de terapia do câncer é imprescindível o treinamento dos oncologistas e da equipe assistencial”, conclui Dr. Sérgio Roithmann.