Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), deve ocorrer um aumento expressivo de novos casos com câncer no mundo, chegando a 22 milhões em 2030. Esse crescimento pode ter diversas causas, sendo que, entre as mais relevantes, estão os hábitos de vida. Apenas 5 a 10% dos cânceres são proporcionados por fatores geneticamente herdados, os demais casos devem-se a interações do nosso organismo com o ambiente. Estudos sugerem que em torno de 30% dos casos de câncer poderiam ser evitados em decorrência de mudanças no estilo de vida. “O tabagismo, o consumo de álcool em excesso, a obesidade e a inatividade física são os principais fatores”, salienta Daniela Dornelles Rosa, médica oncologista do Hospital Moinhos de Vento.

Um dos grandes motivos para o aumento da mortalidade para todas as causas é o sedentarismo. Um estudo chamado “Women’s Health Initiative” apontou que uma pessoa que passa uma grande quantidade de horas sentado em frente à tela de um equipamento eletrônico possui quase duas vezes mais riscos de mortalidade comparada a um indivíduo com um estilo de vida mais saudável.

A inatividade física pode levar a um maior risco de câncer de mama, colorretal, próstata, pâncreas e melanoma. Em relação ao câncer de mama, o índice aumenta em mulheres sedentárias, pois está associado a maiores concentrações séricas de estradiol (hormônio feminino), maiores quantidades de gordura e maiores níveis sanguíneos de insulina. A falta de práticas de exercícios também pode ampliar o risco de câncer de cólon; do contrário, a redução de pelo menos 50% na incidência deste câncer é observada em pessoas que fazem exercícios físicos.

De acordo com a Sociedade Americana de Câncer, a obesidade está associada ao aumento de mortalidade por câncer colorretal, de mama (em mulheres na pós-menopausa), endométrio, rim, esôfago, estômago, pâncreas, vesícula biliar e fígado. Ainda, de todos os casos de mortes por câncer nos Estados Unidos, 14% dos óbitos em homens e 20% em mulheres podem ser atribuídos a sobrepeso ou obesidade. Um aumento de 5kg/m2 no índice de massa corporal, o IMC (calculado pela divisão do peso em quilos sobre o quadrado da altura em metros), tende a levar a um maior risco de vários tipos de câncer, tanto em mulheres quanto em homens. Mulheres pós-menopáusicas com sobrepeso e obesidade possuem aumento de 12% e 25%, respectivamente, no risco de câncer de mama. 

A obesidade também é vinculada ao maior risco de recorrência (retorno) do câncer de mama já tratado ou morte por esta doença. Mulheres que ganham peso após o tratamento do câncer de mama também podem ter maior risco de recorrência deste tumor.

Os problemas da nutrição inapropriada 

Existe evidência científica de que uma nutrição inapropriada causa alterações no ambiente das células do organismo, podendo levar a danos no DNA e, desta forma, contribuir para o desenvolvimento do câncer. Uma alimentação inadequada costuma desencadear a obesidade, que está associada a alterações inflamatórias e metabólicas que promovem o crescimento de células, além de causar danos ao DNA e o aumento no risco de câncer. Além disso, pode haver redução da capacidade funcional do indivíduo, reduzindo a sua capacidade de resistir a estresse de fatores ambientais, levando, então, a maior risco de danos ao DNA e, desta forma, desenvolvimento de câncer. 

Quanto à associação de ingestão de açúcar com risco de câncer, muito difundida atualmente, é bastante incerta. A ideia de que reduzir o consumo de açúcar por meio de dietas cetogênicas (eliminação de quase todos os alimentos ricos em carboidratos, como pão e arroz, e aumento do consumo de alimentos ricos em gorduras boas), por exemplo, poderia levar as células malignas a “passarem fome”. Até os dias de hoje, as discussões a respeito dessa teoria continuam a ocorrer e não está claro se os açúcares provenientes da dieta estão envolvidos no risco de desenvolver diferentes tipos de câncer. “É um assunto difícil de estudar, porque depende de seguir a dieta de pessoas por muitos anos, durante um período o qual podem ocorrer outros fatores que aumentam a chance de ter câncer”, pondera a médica. 

Segundo a oncologista, a alta ingestão de açúcar pode desregular a secreção de insulina e os níveis de glicose no sangue, ocasionando em uma inflamação das células e o acúmulo de gordura no corpo, levando a sobrepeso e obesidade. “Provavelmente não seja apenas o grande consumo de açúcar que leve ao maior risco, mas sim a alimentação inadequada e falta de atividade física na maior parte das vezes”, frisa.

A importância da atividade física constante

O exercício físico pode auxiliar a reduzir o risco de câncer por meio de vários mecanismos: redução da quantidade de gordura corporal (que tem papel inflamatório no organismo), diminuição das quantidades de estrogênio e aumento da insulina circulantes (o que aumenta o risco de desenvolver determinados tipos de câncer, como o de mama, por exemplo) e redução da inflamação do organismo. “As práticas de exercícios também possuem efeitos chamados de imunomoduladores, ou seja, causa aumento da imunidade do organismo. Os exercícios aeróbicos causam redução do que chamamos de estresse oxidativo, reduzindo o risco de câncer”, explica a médica. 

Uma publicação recente na Revista Brasileira de Oncologia revisou vários estudos relacionados à atividade física e prevenção de câncer. Nessas pesquisas, foi encontrada uma associação entre atividade física moderada a vigorosa com redução de óbitos por todas as causas e de mortalidade específica por câncer de mama, cólon, reto e próstata; quando a atividade física foi realizada após o diagnóstico da doença. “Esses dados mostram que para prevenir o câncer é preciso adotar um estilo de vida saudável. Controle o seu peso corporal, assim você evita o sobrepeso e a obesidade, isso aliado às atividades físicas. Além disso, periodicamente, faça uma consulta com um médico especialista”, recomenda Daniela.

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Fonte: Daniela Dornelles Rosa, médica oncologista do Hospital Moinhos de Vento

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