Dor de cabeça forte e até dificuldade em permanecer em ambientes muito claros podem ser sinais de enxaqueca. Mas, para saber mais sobre o tema, o Blog Saúde e Você entrevistou o Dr. Fernando Kowacs, neurologista do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento.

O que é a enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - A enxaqueca é uma doença neurológica, de causa genética, que afeta mulheres, homens e crianças de todas as idades, etnias e diferentes condições socioeconômicas. Ela causa um importante sofrimento pessoal e prejudica a vida familiar, social e profissional dos indivíduos afetados, atingindo preferencialmente - mas não exclusivamente - adultos jovens, especialmente as mulheres.

 

Quais são os principais sintomas, além da dor forte de cabeça?

Dr. Fernando Kowacs - A dor de cabeça não é o único sintoma das crises de enxaqueca. Durante estes períodos, pode haver intolerância à luz, aos ruídos e aos odores, além da sensação de enjoo, com ou sem vômito. Para alguns indivíduos, esses sintomas  podem ser tão desagradáveis e incapacitantes quanto à dor.

Muitos pacientes também relatam lentidão do pensamento e dificuldade de raciocínio durante as crises, e 40% deles apresentam sintomas como alterações do apetite, rigidez cervical, bocejos e alterações do humor, iniciando até dois dias antes do início da dor de cabeça.

Outro sintoma, apresentado por até um terço dos pacientes, é a chamada aura enxaquecosa, caracterizada pela ocorrência, imediatamente antes da dor de cabeça, de alterações visuais (brilhos, linhas em zigue-zague e embaralhamento da visão), formigamentos e dificuldade da fala de duração breve.

Sabemos que suas causas podem ser multifatoriais, mas teríamos como elencar alguns dos principais motivos? O excesso de leitura, de trabalho ou estresse podem, mesmo, ser fatores desencadeantes da enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - Devemos ressaltar que a enxaqueca não é uma doença psiquiátrica ou uma simples reação a fatores externos. Como citamos, ela tem causa genética e é acompanhada por alterações no funcionamento cerebral, tanto durante as crises como fora delas. Essas alterações já foram inclusive demonstradas por exames como ressonância magnética funcional e PET-scan cerebral. 

Fatores como o estresse, as alterações climáticas, a flutuação hormonal do ciclo menstrual e a privação ou o excesso de sono, por exemplo, devem ser vistos - quando muito - como gatilhos das crises, mas, nunca, como a causa da doença.

 

  A que médico recorrer e que exames fazer para diagnosticar a enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - A enxaqueca é tradicionalmente tratada pelos neurologistas, porém, ao menos em seus casos menos graves, pode ser manejada pelo médico de família ou pelo clínico geral.

Exames complementares, como tomografia e ressonância magnética, não são necessários para o diagnóstico da enxaqueca. No entanto, eles podem tornar-se necessários para afastar outras causas da dor de cabeça. A sua indicação sempre dependerá da obtenção de informações detalhadas sobre o quadro clínico de cada paciente, feito basicamente através de uma história clínica (anamnese) detalhada.

E como tratar a enxaqueca?

Dr. Fernando Kowacs - O tratamento da enxaqueca é voltado para o manejo agudo das crises e, quando essas ocorrem três a quatro vezes ou mais por mês, para a sua prevenção, através de um tratamento contínuo.

O tratamento agudo consiste no uso de anti-inflamatórios ou analgésicos comuns, combinados ou não à cafeína, para as crises leves a moderadas e de medicamentos específicos (chamados de ergóticos ou triptanas) para as crises moderadas a fortes. Alguns pacientes obtêm alívio com compressas frias ou mornas ou com o sono, mas os medicamentos são geralmente necessários.

O tratamento preventivo pode ser feito com vários tipos de medicamentos com eficácia comprovada, alguns deles utilizados também para outras doenças, como anticonvulsivantes e medicamentos utilizados em doenças cardiovasculares, e outros específicos, como os medicamentos que neutralizam uma substância comprovadamente envolvida na enxaqueca, chamada de CGRP. Os medicamentos tradicionais são utilizados diariamente, por via oral, enquanto os anti-CGRP e a toxina botulínica são administrados por via subcutânea, a cada 4 ou 12 semanas, respectivamente.

Alguns pacientes conseguem reduzir a frequência e a intensidade das crises através da atividade física frequente e da regularização dos horários de alimentação e sono, o que pode complementar e, eventualmente, reduzir o uso dos medicamentos preventivos.

Afinal, a enxaqueca pode ser mesmo considerada uma doença?

Dr. Fernando Kowacs - Inúmeros estudos demonstraram o dano causado pela enxaqueca na vida pessoal, familiar, social e profissional dos indivíduos afetados, na maioria das vezes, durante a fase da vida em que estão em plena formação de família e construção da carreira profissional.

A enxaqueca é considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma das principais causas de incapacidade em adultos abaixo dos 50 anos de idade. No entanto, como não traz risco de sequelas ou de morte e, na maioria das vezes, não pode ser “vista” pelas outras pessoas, os pacientes passam a escondê-la e até a evitar assumir compromissos sociais e profissionais, com medo dos rótulos associados à ela.

E quantas pessoas atinge no mundo e no Brasil? Há indicadores?

Dr. Fernando Kowacs - Estudos epidemiológicos mostram uma prevalência global de cerca de 18% entre as mulheres e de 6% entre os homens adultos. No Brasil, os números são de aproximadamente 20% das mulheres e 10% dos homens, sendo considerada uma doença de alta prevalência.

Que conselhos o senhor daria para melhorar a condição de vida e o bem-estar do paciente acometido pela enxaqueca? Quais são as suas dicas?

Dr. Fernando Kowacs - Recomendaria o seguinte:

  • Não atribua as crises de enxaqueca somente a fatores externos;
  • Não considere que crises de dor de cabeça em crianças acontecem por “manha" ou por essas estarem imitando os pais, já que é uma condição transmitida geneticamente e que muitas vezes inicia cedo;
  • Não considere normal ter crises de dor de cabeça, especialmente se elas estiverem atrapalhando a sua vida em família, o seu trabalho ou o seu lazer.

Procure atendimento médico, caso:

  • As suas crises de dor de cabeça ocorrerem três ou mais vezes por mês ou forem incapacitantes;
  • O seu consumo de analgésicos venha aumentando, progressivamente, e eles estejam perdendo o efeito;
  • Se apresentar uma dor de cabeça diferente daquelas de costume, principalmente se iniciou repentinamente.

Fonte: Dr. Fernando Kowacs (CREMERS 16816 RQE 7871) é neurologista do Hospital Moinhos de Vento.

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