Há poucos dias, a atriz e apresentadora Giovanna Ewbank revelou ao público que o filho Bless, de apenas 8 anos, sofre de uma síndrome sensorial. O menino, que ela adotou com o também ator Bruno Gagliasso, chamou a atenção do casal por se mostrar incomodado com o cheiro de cebola, na cozinha, não gostar de pisar na grama e ouvir o zumbido de moscas, de forma altíssima, no meio do mato, por exemplo. E o diagnóstico médico comprovou: Bless sofre de Transtorno de Processamento Sensorial (TPS). Mas do que se trata?

 De acordo com a Dra. Alessandra Pereira, Neurologista Pediátrica do Núcleo de Neuropediatria Clínica e Cirúrgica do Hospital Moinhos de Vento, apesar da elevada prevalência do TPS (que tem índices ainda maiores quando associado a outros transtornos), há um preocupante desconhecimento sobre esse tema entre muitos profissionais da Saúde e da Educação, bem como entre as famílias, que precisam aprender a lidar com ele. “O desconhecimento da sociedade sobre o que é Transtorno de Processamento Sensorial leva a diagnósticos, tratamentos e intervenções imprecisos e inadequados para crianças que já têm sintomas”, alerta.

 Mas o que é o Transtorno de Processamento Sensorial?

Dra. Alessandra: A alteração da integração sensorial resulta em Transtorno de Processamento Sensorial (TPS), também conhecido como Disfunção de Regulação Sensorial, Disfunção de Integração Sensorial ou Transtorno de Disfunção Sensorial.

Quais são os principais sintomas?

Dra. Alessandra: Nessa condição, o cérebro não processa as entradas sensoriais (ou estímulos) corretamente. Assim, as respostas comportamentais e motoras são inadequadas e afetam o aprendizado, a coordenação, o comportamento geral e a linguagem do paciente.

É importante destacar que esta condição acomete os sentidos básicos, como audição, olfato, paladar, visão e tato. O TPS ainda pode levar ao estresse, ansiedade ou mesmo à depressão.

 O Transtorno de Disfunção Sensorial é raro?

Dra. Alessandra: Levantamentos epidemiológicos mostram uma alta prevalência (de 5 a 15%) entre crianças de 3 a 10 anos, com predomínio no sexo masculino; no entanto, como disse na abertura, grande parte dos profissionais de Saúde ainda desconhece essa condição, levando a demora no diagnóstico, atraso na abordagem terapêutica e frustração das famílias.

  O que pode desencadear este transtorno?

Dra. Alessandra: A causa exata deste distúrbio ainda não é conhecida. Entretanto, alguns estudos preliminares sugerem que o TPS pode ter causas genéticas e hereditárias, mas também existem fatores extrínsecos (externos) que podem colocar as crianças em risco, tais como:

- privação materna;

- parto prematuro;

- desnutrição pré-natal;

- consumo de álcool e drogas durante a gravidez;

- alta exposição a agentes químicos durante a infância;

- pouca estimulação sensorial;

- infecções de ouvido frequentes e repetidas (antes dos 2 anos de idade) também podem aumentar o fator de risco.

O TPS pode ter relação com outros transtornos?

Dra. Alessandra: O Transtorno de Disfunção Sensorial pode vir isolado ou associado a outro transtorno do Neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Quais são os maiores riscos do paciente que tem este transtorno?

Dra. Alessandra: Estima-se que uma pessoa com TPS tem um risco 4 vezes maior de desenvolver problemas emocionais (como ansiedade) e 3 vezes maior de desenvolver problemas comportamentais externos (como condutas agressivas).

Além disso, as crianças com TPS apresentam mais problemas de aprendizado e no desempenho acadêmico, alterações de coordenação motora (tanto ampla quanto fina), mudança de comportamento (com distração, impulsividade, hiperatividade ou hipoatividade e até mesmo irritabilidade), dificuldades na realização de atividades da vida  diária e problemas gastrointestinais. Como consequência, podem apresentar sintomas de  estresse crônico e baixa auto-estima.

De que forma os pais podem perceber o Transtorno de Disfunção Sensorial?

Dra. Alessandra: A criança pode perceber os estímulos com mais ou menos intensidade e alguns comportamentos podem sinalizar a condição, como:

- A necessidade de estar sempre em movimento;

- A recusa em ser tocado;

- A rejeição a certos alimentos (pela textura ou sensação);

- O aumento da resposta ao sentir certos odores;

- A aversão a sujar as suas próprias mãos;

- Ser excessivamente sensível ao som;

- Se sentir desconfortável com alguns movimentos, como balançar, deslizar ou descer rampas;

- Se mostrar muito impulsiva e facilmente distraída;

- Não ter um planejamento ao lidar com tarefas do seu cotidiano;

- Demonstrar alterações no planejamento motor ou práxis (que é a capacidade de planejar e executar diferentes tarefas motoras);

- Apresentar problemas de coordenação, que podem ser percebidos em atividades motoras grossas ou finas.

Quando este transtorno fica mais evidenciado?

Dra. Alessandra: Estes sintomas podem ser evidentes na pré-escola, como sinais de um déficit de integração sensorial. Na idade escolar, pode haver problemas em algumas áreas acadêmicas, apesar da inteligência normal. Então, é importante que os pais observem o comportamento de seus filhos e busquem um profissional especializado para o diagnóstico e tratamento.

 Como é feito o tratamento?

Dra. Alessandra: O tratamento da criança com Transtorno do Processamento Sensorial é realizado por meio da terapia ocupacional, com um profissional especializado em Integração Sensorial. O papel do Terapeuta Ocupacional é o de gerar um relacionamento com as crianças para desenvolver um ambiente de confiança e diversão, tendo como objetivo melhorar a regulação da excitação, aumentar a participação e estabelecer uma base sólida de aprendizagem - adaptada ao seu sistema nervoso.

Tudo isso para diminuir as dificuldades sensoriais no dia a dia, aumentar a autoestima das crianças, melhorar a dinâmica familiar e a qualidade de vida do paciente.

Fonte: Dra. Alessandra Pereira (CRM 26102/RQE 21789), Neurologista Pediátrica do Núcleo de Neuropediatria Clínica e Cirúrgica do Hospital Moinhos de Vento.

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