Dia 29 de agosto foi eleito o Dia Nacional de Combate ao Fumo, no Brasil. Neste ano, com o tema "Comprometa-se a parar de fumar", talvez a data traga um pouco de esperança. Isso porque, a Covid-19 trouxe a necessidade da implantação de diversos cuidados e protocolos e pode ter contribuído, também, para a diminuição no número total de fumantes no mundo, seja de cigarro convencional, eletrônico ou narguilé. A informação ainda levanta dúvidas e gera reflexões, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou em julho passado que “a proporção de pessoas que usam tabaco diminuiu na maioria dos países”. Entretanto, complementa que, considerando o crescimento populacional, o número total de pessoas que fumam permanece alto. Mas, afinal, será que a pandemia pode ter trazido algo de positivo à humanidade?

Atualmente, a OMS estima que 1 bilhão de pessoas sejam fumantes no globo terrestre. Destas, cerca de 80% vivem em países de baixa e média renda. Além disso, hoje o tabaco é responsável pela morte de 8 milhões de pessoas por ano, incluindo 1 milhão vítimas de fumo passivo. No Brasil, são mais de 160 mil mortes anuais atribuídas ao tabaco, o que representa 443 mortes por dia, conforme o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. Até 2030, o tabaco poderá ter relação direta com 10% do total de mortes globais.

Contudo, segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 5,3 bilhões de pessoas agora estão cobertas por, pelo menos, uma das medidas de controle do tabaco, recomendadas pela própria OMS, que incluem ações preventivas, apoio para largar o vício e alertas sobre os seus perigos. Tais medidas também implicam em proibições de publicidade, promoção e patrocínio. Ou seja, tudo indica que a luta em prol da saúde coletiva está ganhando força, a cada ano.

Dados incipientes

Todavia, não há consenso em relação aos indicadores positivos. De acordo com o chefe do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Marcelo Basso Gazzana, a possibilidade da pandemia ter reduzido o tabagismo, infelizmente, ainda é bem discutível. “Por um lado, sabemos que as pessoas ficaram com medo e talvez tenham fumado menos. Mas também sabemos que elas ficaram mais confinadas e ansiosas, o que pode ter contribuído para o aumento do consumo de tabaco”, avalia. “Portanto, não temos estudos com metodologia robusta para dizer se, realmente, diminuiu ou não o consumo de cigarro.” E, de fato, no Brasil não há pesquisas consolidadas com esses cálculos, que confirmem a queda ou aumento no número de fumantes, desde 2020.

Motivos comportamentais

O que estudos preliminares indicam é que algumas variáveis e motivos comportamentais podem ter cooperado para o aumento do consumo da nicotina no mundo, como a piora na qualidade do sono das pessoas. O desânimo também pode ter colaborado com essa escolha do indivíduo, uma vez que, em decorrência do distanciamento social, ele pode ter se sentido isolado dos familiares, triste ou deprimido, ansioso ou nervoso. Outros fatores, como mudanças no trabalho ou emprego e alteração nos rendimentos, podem ter colaborado para a necessidade de fumar tabaco.

A fumaça da ilusão

É importante recordar que, logo no início, quando houve o surgimento e a disseminação do Coronavírus no mundo, algumas pessoas acreditavam que a fumaça do cigarro poderia até bloquear o contágio. Popularmente, diziam até que a nicotina parecia ter o efeito farmacológico de inibir o crescimento do vírus. Hoje em dia, análises legítimas já desmentiram essas hipóteses. Em resumo, estudiosos mais perspicazes dizem que fumar para prevenir a Covid-19 é equivalente a “beber veneno para matar a sede”.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) confirma que ainda não há evidências fortes para sugerir um risco aumentado de infecção entre fumantes. No entanto, ressalta que a análise das mortes por coronavírus na China mostra que os homens têm maior probabilidade de morrer do que as mulheres, algo que pode estar relacionado ao fato de que os homens chineses fumam mais do que as mulheres. Segundo o INCA, entre os pacientes chineses diagnosticados com pneumonia associada ao Coronavírus, as chances de progressão da doença (inclusive até a morte) foram 14 vezes maiores entre as pessoas com histórico de tabagismo em comparação com as que não fumavam.

E esta já é uma triste realidade. “Pacientes fumantes ativos ou ex-fumantes ou pacientes com doença respiratória associada ao cigarro têm uma pior evolução”, destaca Dr. Gazzana. O Chefe do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica observa ainda que, nesses casos, a Covid tende a progredir mais e ter maior mortalidade. “O cigarro faz com que os pacientes não evoluam bem”, garante. Aliás, vale lembrar que doenças básicas comuns que são suscetíveis à Covid-19, como hipertensão, doença cardiovascular, doença pulmonar obstrutiva crônica, diabetes, tumores e doença renal crônica também estão diretamente relacionadas ao tabaco.

Transmissão assustadora

Além disso, foi visto que o próprio ato de fumar pode oferecer mais riscos de contágio. Estudos comprovaram que a transmissão viral através do tabagismo pode ocorrer primeiro pelo contato, uma vez que fumar envolve, justamente, o contato regular entre saliva, mãos e o tabaco. Fumar cigarros, e-cigarros ou narguilé também produz fumaça e aerossóis, podendo ocasionar tosse ou espirro, o que contamina arredores com a propagação do coronavírus, que pode sobreviver em superfícies (como plástico, papel e aço) por várias horas e até dias.

Ou seja, fumar pode prejudicar ativamente os fumantes e até os que não fumam, mesmo quando ambos respeitam o distanciamento social. E quando não acatam o distanciamento e ainda compartilham objetos, como o próprio cigarro e outros produtos derivados do tabaco, a possibilidade de contágio é muito mais assustadora. Conforme dados do Programa Nacional de Controle do Tabagismo do INCA, o uso de produtos que envolvem compartilhamento de bocais para inalar a fumaça - como narguilé (cachimbo d´água) e dispositivos eletrônicos para fumar (cigarros eletrônicos e cigarros de tabaco aquecido), - pode facilitar a transmissão do coronavírus.

Vale lembrar que, como dito no início da matéria, no Brasil morrem 443 pessoas por dia por causa do tabagismo. Por ano, segundo o INCA, são mais 161 mil mortes: 37.686 correspondem à Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), 33.179 a doenças cardíacas, 25.683 a outros cânceres, 24.443 ao câncer de pulmão, 18.620 ao tabagismo passivo e outras causas, 12.201 à pneumonia e 10.041 ao Acidente Vascular Cerebral (AVC).

E como evitar tantas perdas?

É preciso compreender que fumar é uma doença grave. Não depende apenas de uma escolha. O próprio INCA reconhece o tabagismo como uma doença crônica, causada pela dependência química da nicotina, presente nos produtos à base de tabaco, sendo o maior fator de risco evitável de adoecimentos e mortes no mundo. Atualmente, o tabagismo integra o grupo de transtornos mentais e comportamentais em razão do uso de substância psicoativa. Portanto, oferecer tratamento aos que desejam parar de fumar é uma importante estratégia de controle do tabagismo.

O Dr. Marcelo Gazzana estimula os brasileiros para que aproveitem este momento e deixem o tabaco, em definitivo. “Sem dúvida, a Covid é uma justificativa a mais para as pessoas pararem de fumar, evitando uma doença respiratória mais grave”, alerta. Sem o cigarro, a capacidade pulmonar e a imunidade do paciente melhoram muito e ele ganha qualidade de vida, entre outras tantas coisas.

Aliás, os motivos são tantos que o INCA criou uma listagem com mais de 100 razões para parar de fumar, com informações da OMS. Adiantamos algumas para contribuir, desde já, com esta decisão, uma vez que os benefícios à saúde são quase imediatos:

- Após 20 minutos, a pressão sanguínea e a pulsação voltam ao normal;

- Após 2 horas, não há mais nicotina circulando no sangue;

- Após 8 horas, o nível de oxigênio no sangue se normaliza;

- Após 12 a 24 horas, os pulmões já funcionam melhor;

- Após 2 dias, o olfato já percebe melhor os cheiros e o paladar já degustam melhor a comida;

- Após 3 semanas, a respiração se torna mais fácil e a circulação melhora;

- Após 1 ano, o risco de morte por infarto do miocárdio é reduzido à metade;

- Após 10 anos, o risco de sofrer infarto será igual ao das pessoas que nunca fumaram.

Achou interessante? Então, "Comprometa-se a parar de fumar" e indique este conteúdo aos seus amigos, fumantes ou não. Colabore, efetivamente, para a diminuição destas estimativas.

Fonte: Dr. Marcelo Basso Gazzana (CRM 21082), chefe do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento

 

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Prêmios e Certificações

Entrada 1 - Rua Ramiro Barcelos, 910 - Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, 90035-000
Entrada 2 - Rua Tiradentes, 333
Av. João Wallig, 1800 - 3º andar - Shopping Iguatemi Porto Alegre
Avenida Cristóvão Colombo, 545 - Espaço Comercial P5-1