No mês de abril, em que se comemora o Dia Mundial da Saúde, nada melhor do que fazer uma pausa e olhar para dentro de si. Analisar como está a sua vida, como um todo, especialmente seu organismo físico e psicológico. Isso porque, a saúde mental é essencial para o bem-estar geral, pois afeta diretamente como cada indivíduo pensa, sente e se comporta no dia a dia. Para compreender este panorama, o Blog Saúde e Você entrevistou a Dra. Lorena Caleffi, médica do Serviço de Psiquiatria e do Ambulatório de Medicina de Estilo de Vida e Longevidade Saudável do Hospital Moinhos de Vento.
1) Como a saúde mental pode influenciar no organismo humano, especialmente, no funcionamento do sistema imunológico?
Dra. Lorena Caleffi - Existem várias maneiras, diretas e indiretas, pelas quais a saúde mental pode influenciar em nosso organismo. Lembrando que saúde mental é mais que ausência de doença, nossas escolhas de estilo de vida influenciam, diariamente, em nossa fisiologia corporal. Enquanto mantivermos uma vida sedentária, tabagismo, abuso de álcool ou outras drogas, alimentação não saudável e tivermos dificuldades em lidar com o estresse, estaremos influenciando negativamente, também, na saúde do organismo.
Sabe-se que o estresse crônico, por uma série de alterações bioquímicas (como o aumento de cortisol e noradrenalina, com aumento de reações inflamatórias e oxidativas) provoca uma diminuição na nossa resposta imunológica. Então, imagine-se acordando todos os dias preparado para lutar contra um agressor muito poderoso: não sobram forças para lutar contra outras ameaças que possam surgir de forma inesperada, imprevista. Esta é uma das consequências da manutenção do estresse crônico. Este estresse, muitas vezes, está apenas na mente das pessoas, não sendo propriamente uma ameaça externa.
2) Quais são os sinais de que a saúde mental está afetando negativamente a saúde física do indivíduo e quando buscar ajuda profissional? A quem recorrer?
Dra. Lorena Caleffi - Neste aspecto, primeiro precisamos ter cautela para não “psicologizar” sintomas físicos, pois corremos o risco de deixar de diagnosticar doenças clínicas. Muitos indivíduos têm a percepção de seus sintomas emocionais e conseguem diferenciá-los dos sintomas físicos, para buscar ajuda adequada.
Pessoas que têm dificuldade de perceber seus sentimentos têm o que chamamos de “alexitimia”, ou seja, dificuldade de “ler” as diferentes emoções. Esta característica leva a uma maior tendência à somatização, que é transformar em sintomas físicos o que, na origem, é uma emoção que a pessoa não consegue perceber. Este mecanismo é inconsciente, nunca proposital. Por exemplo, alguém que, ao invés de perceber que está ansioso (seja por uma prova, entrevista, encontro), acha que está com infecção intestinal por ter diarreia ou gastrite, por ter dor de estômago.
Outra forma de influência é a manutenção de hábitos nocivos, apesar das consequências para a saúde física, mantendo, por exemplo:
- O tabagismo depois de um infarto;
- O abuso de álcool após um câncer;
- O sedentarismo mesmo com o diagnóstico de doenças musculares.
Vale lembrar que a ajuda profissional é sempre bem-vinda nos momentos em que a pessoa não consegue mais lidar com a situação usando seus próprios recursos internos. Mas é preciso cuidado para não passar do ponto e adoecer tentando sozinho! Quando o indivíduo tem dúvida se determinada reação está adequada ou não, também pode esclarecer com seu médico de confiança. O Hospital Moinhos de Vento está inaugurando o Ambulatório de Medicina de Estilo de Vida e Longevidade Saudável do Hospital Moinhos de Vento, que oferece uma avaliação completa nestes casos.
3) De que maneira o estresse e os transtornos mentais, como depressão e ansiedade, podem afetar a saúde física da pessoa?
Dra. Lorena Caleffi - Se o estresse crônico é viver em estado de alerta todos os dias, na ansiedade patológica vive-se em estado de “susto” diariamente, associado ao pensamento catastrófico que o acompanha. Ou seja, ainda não aconteceu nada, mas já deu tudo errado. A ansiedade, como o estresse e a tristeza, faz parte do nosso dia a dia, o problema é quando este estado de humor é permanente, ocorre de forma independente dos estímulos externos e a pessoa não consegue alterar seu humor, mesmo que a situação ao redor tenha se modificado.
A depressão tem, como principais critérios diagnósticos, a perda do prazer e do interesse nas atividades diárias, com humor triste ou deprimido, quase todo o dia, por várias semanas. Estes critérios são acompanhados de alterações do sono, do apetite, da concentração e atenção - e memória, por consequência -, bem como sentimentos e pensamentos de culpa e desvalia. Nesta condição, a pessoa perde o interesse em se cuidar, muitas vezes acreditando ser a fonte do sofrimento de quem a cerca. O organismo reage da mesma forma, diminuindo a resposta imunológica, o que, associado à diminuição do autocuidado, dá chance para o desenvolvimento de outras doenças.
4) Na prática, como os exercícios físicos, o suporte social e a alimentação saudável podem reverter quadros negativos e contribuir para o bem-estar mental do indivíduo e com o seu organismo?
Dra. Lorena Caleffi - Praticar atividade física é remédio, tanto para tratamento como para prevenção. E o indivíduo não precisa virar atleta! Vários estudos mostram que o exercício físico moderado, por apenas 45 minutos, três vezes por semana, tem o mesmo efeito de um antidepressivo, em crises depressivas leves a moderadas. Além disso, o exercício físico melhora o sono, o que leva a uma melhor capacidade de concentração e atenção e diminuição de queixas dolorosas. Pessoas com fibromialgia, por exemplo, têm a atividade física como pilar fundamental do tratamento.
Uma alimentação saudável, equilibrada, com toda a riqueza de nutrientes, é a melhor fonte de formação e manutenção corporal. Como diz a conhecida frase: “Somos o que comemos”, desde bebê (alimentado com leite materno) até a fase adulta (quando espera-se que nosso paladar acompanhe nosso conhecimento sobre a alimentação). Vale destacar que as nossas células todas se renovam a cada ano, então, imagine ter o poder de ser uma pessoa nova a partir também das escolhas alimentares.
Já o suporte social, com a manutenção de vínculos afetivos, é fator protetor para a saúde mental. O sentimento de pertencimento é básico para o ser humano. Estar na companhia de alguém próximo - seja familiares, amigos ou grupos de convivência -, com quem possamos compartilhar bons momentos, traz bem-estar e alívio para o estresse. A presença do “outro” em nossas vidas mantém a nossa perspectiva de realidade, além de garantir a possibilidade de termos um propósito de vida e que possamos planejar o futuro.
5) Na sua opinião, quais são os principais hábitos que podem ser adotados para promover a saúde mental e, consequentemente, a saúde física? Técnicas de relaxamento, como meditação e mindfulness, podem ajudar?
Dra. Lorena Caleffi - Meditação e mindfulness funcionam muito bem para trazer o indivíduo para o momento presente, para o “aqui e agora”, pois são baseadas nas técnicas de atenção plena. Ajudam a lidar com pensamentos intrusivos, preocupações inadequadas sobre o amanhã, com reações de estresse e ansiedade, através da respiração e do controle sobre o pensamento, entre outras formas.
Entre os principais hábitos para promover a saúde mental, estão:
- A prática de atividade física;
- A manutenção de relacionamentos emocionalmente enriquecedores;
- Ter uma alimentação equilibrada;
- Cultivar um sono reparador;
- Cuidar com a exposição excessiva às mídias, definindo um tempo máximo de acesso;
- Planejar estar em contato com a natureza, seja em um parque, uma rua arborizada ou mesmo parar alguns instantes para escutar os passarinhos na janela.
Fonte: Dra. Lorena Caleffi (CRM 17211 e RQE 8160) é médica do Serviço de Psiquiatria e do Ambulatório de Medicina de Estilo de Vida e Longevidade Saudável do Hospital Moinhos de Vento.