Os impactos da telemedicina no acesso à saúde de qualidade na rede pública

Data 26 de março de 2021

Por: Dr. Felipe Cabral

 

A tecnologia é parte importante do nosso dia a dia e se tornou indispensável em diversos setores. A versatilidade dos recursos tecnológicos também é uma realidade quando pensamos em ofertar os melhores serviços em saúde, e para isso, a telemedicina é uma peça-chave para a ampliação do acesso e para a sustentabilidade do setor como um todo.

 

A telemedicina possibilita desde a ampliação da assistência em regiões remotas, passando pela qualificação de profissionais à distância, facilita a discussão de casos e até o monitoramento de pacientes crônicos – são muitas as possibilidades no uso desse recurso, que já é utilizando com frequência em países como a Inglaterra, que possui um serviço de saúde pública considerado um modelo para o mundo. Estudos têm demostrado impactos substanciais na utilização de telemedicina em pacientes com doença infecciosa (1), em pacientes com necessidade de terapia intensiva (2), em pacientes com doenças neurológicas (3), entre outros. 

 

Porém, a difusão em larga escala em um país com dimensões continentais como o Brasil é um desafio para os gestores públicos. Daí a importância de iniciativas que promovam soluções de telemedicina no SUS, onde está o maior contingente de pacientes que podem se beneficiar desse recurso.

 

Por meio do PROADI-SUS (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), uma grande parceria público-privada entre cinco hospitais filantrópicos privados e o Ministério da Saúde, estamos levando acesso ao diagnóstico oftalmológico para regiões que possuem vazios assistenciais.

 

O projeto Teleoftalmologia como estratégia de atenção integral à saúde ocular, executado pelo Hospital Moinhos de Vento, em parceria com o TelessaúdeRS, por meio do PROADI-SUS, tem o propósito de aproximar o médico oftalmologista da atenção básica, reduzindo a fila de espera para consultas com essa especialidade em todas as macrorregiões de saúde do Rio Grande do Sul, além de avaliar o impacto do projeto em termos de custos e efetividade de implantação. Só no RS, já foram atendidos mais de 24 mil pacientes desde 2017. Outro projeto da parceria Hospital Moinhos de Vento e Ministério da Saúde, o TeleUTIP, por meio de consultoria multidisciplinar, apresentou redução de mais de 50% da mortalidade em um centro remoto.  

 

Além da teleconsulta, a utilização da telerregulação também está se mostrando uma ferramenta importante de apoio ao fortalecimento da atenção primária. Nesse sentido, o PROADI-SUS executa o projeto Regula Mais Brasil, onde casos em lista de espera para consultas com especialistas são regulados, ou seja, avaliados a partir de critérios de encaminhamento, com o objetivo de garantir o atendimento prioritário para casos graves, e direcionar casos que possuem uma resolução mais simples às Unidades Básicas de Saúde.

 

Executado atualmente pelo Hospital Sírio-Libanês, o Regula Mais Brasil já atingiu a marca de 320 mil casos regulados nas cidades de Porto Alegre, Belo Horizonte, no Distrito Federal e estado do Amazonas. Essa iniciativa deverá ser ampliada ao longo de 2020, com apoio dos demais hospitais que integram o PROADI-SUS.

 

Projetos como esses deixam um legado para a sociedade e exemplificam como a telemedicina é uma forma viável de ampliar o acesso à saúde de qualidade no país. Fomentar pesquisas nessas áreas também é crucial para embasar políticas públicas que promovam o acesso e incorporem tendências mundiais na utilização desses recursos.

 

A sinergia da telemedicina com tecnologias como o machine learning e uso de inteligência artificial, por exemplo, abre um enorme canal de possibilidades para fortalecer a saúde pública brasileira, apoiando a resolução de problemas e o contato entre médico e paciente, que mesmo à distância pode e deve ser de qualidade.

 

*Dr. Felipe Cabral é Coordenador Médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento. 

 

Referências bibliográficas:

 

1.   Aaron J Tande, Elie F Berbari, Priya Ramar, Shiva P Ponamgi, Umesh Sharma, Lindsey Philpot, John C O’Horo, Association of a Remotely Offered Infectious Diseases eConsult Service with Improved Clinical Outcomes, Open Forum Infectious Diseases, ofaa003, https://doi.org/10.1093/ofid/ofaa003

 

2.   DAYAL, Parul et al. Impact of Telemedicine on Severity of Illness and Outcomes Among Children Transferred From Referring Emergency Departments to a Children’s Hospital PICU*. Pediatric Critical Care Medicine, [s.l.], v. 17, n. 6, p.516-521, jun. 2016. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). http://dx.doi.org/10.1097/pcc.0000000000000761

 

3.   HATCHER-MARTIN, Jaime M. et al. Telemedicine in neurology. Neurology, [s.l.], v. 94, n. 1, p.30-38, 4 dez. 2019. Ovid Technologies (Wolters Kluwer Health). http://dx.doi.org/10.1212/wnl.0000000000008708

 

Receba todas novidades no seu e-mail