Telemedicine in practice: main barriers and facilitators

Data March 26, 2021

Por: Felipe Cezar Cabral* 

 

 

Nas últimas semanas eu compartilhei aqui dois artigos falando sobre como a medicina está mais vez mais conectada, seja com as teleconsultas, seja com os wearables, e como esses recursos podem aproximar médicos e pacientes, principalmente em situações extremas, como a atual pandemia que enfrentamos.

 

Entre tantos desafios que o setor da saúde precisou e ainda precisa enfrentar, esses avanços certamente ficarão como um importante legado para o setor e para as futuras gerações de profissionais da saúde. Mas para que esse legado permaneça e se fortaleça com o passar do tempo e não apenas durante a pandemia, ainda precisamos avaliar e validar o que funciona e o que precisa ser aprimorado.

 

E tudo bem! Muitos hospitais e profissionais da saúde precisaram se adaptar rapidamente para oferecer esse recurso aos pacientes e é perfeitamente normal que algumas barreiras ainda fiquem pelo caminho.

 

Barreiras que influenciam a prática da telemedicina

 

Um estudo publicado no Journal of Medical Internet Research (1) avaliou uma série de artigos sobre telemedicina com o objetivo de elencar as principais barreiras e os facilitadores dessa prática. Pacientes masculinos e femininos, com idade variando de menos de um ano a mais de 80 anos e com diferentes condições de saúde foram analisados nesses artigos. Ou seja, os pesquisadores conseguiram analisar o desempenho da telemedicina em diferentes cenários.

 

Entre as barreiras encontradas, a velocidade da internet é um dos fatores que mais pode prejudicar a experiência do paciente com a telemedicina. Uma conexão lenta pode resultar em baixa qualidade de vídeo e áudio, perda de conexão e frustração dos pacientes. Alguns participantes dos artigos estudados também relataram dificuldade em usar o sistema de consulta online - a maioria relatou ter dificuldade em navegar ou instalar o sistema no computador ou no celular (1).

 

Quando pensamos na telemedicina no Brasil, sem dúvidas os problemas de conexão podem dificultar o avanço dessa forma de atendimento, principalmente se avaliarmos a intenção de expandir esse serviço de saúde para áreas remotas. Veja bem: se uma das principais vantagens da telemedicina é “diminuir distâncias”, evitando deslocamentos, como os profissionais da saúde poderão entregar um serviço de qualidade, se em muitos locais remotos a internet não é de qualidade e os pacientes vivem na realidade do pré-pago? Algo que ainda precisamos refletir e muito para tornar a telemedicina viável e acessível para o maior número de pessoas possível.

 

As distrações domésticas também fazem parte dessa lista de barreiras. Muitos pacientes alegaram que durante as consultas de teleatendimento ficaram distraídos por outras coisas que acontecem em casa ou até mesmo por outros membros da família, o que muitas vezes acaba desencadeando em preocupações com privacidade (1).

 

Outros pacientes também sentiram dificuldades em se comunicar e se expressar (1). Algo que pode ser contornado pelos profissionais da saúde, principalmente pelas próximas gerações que devem estar mais preparadas e acostumadas com essa forma de atendimento - recomendo a leitura de outro artigo que publiquei aqui no meu perfil sobre esse assunto.

 

Pontos favoráveis da telemedicina

 

Mesmo com algumas barreiras, a telemedicina é um formato de atendimento que possui uma série de facilitadores. O mesmo estudo (1) elencou vários benefícios que os pacientes perceberam durantes as consultas.

 

Da mesma maneira que a velocidade da internet pode ser uma barreira, ela também pode facilitar o atendimento. Pacientes que tiveram uma percepção positiva durante a consulta com relação a qualidade da comunicação, pontuaram a velocidade da internet como favorável. Ou seja, rápida velocidade, menores chances de acontecerem problemas de conexão (1).

 

A economia com os custos da consulta e a redução no tempo de viagens são outros fatores considerados como positivos. O que torna o teleatendimento um recurso bem conveniente, não só para os profissionais da saúde e hospitais, mas para os pacientes também (1).

 

Já ao analisar a usabilidade da telemedicina, o estudo destacou que pacientes que tiveram um treinamento presencial ou até mesmo através de orientações de vídeo ou documentação manual, tiveram mais facilidade para usar o sistema de atendimento e os equipamentos. Outros pacientes alegaram ainda que as interações com a equipe médica pessoalmente, antes da consulta online, ajudaram a deixar o teleatendimento mais confortável e contribuíram para a construção de um relacionamento de mais confiança.

 

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Mais uma vez podemos perceber a importância da atualização e do preparo dos profissionais da saúde para oferecer esse tipo de consulta. A telemedicina pode ser um formato prático e acessível que beneficie todos os envolvidos, mas é preciso se adaptar para contornar as barreiras e usar os facilitadores como aliados nesse processo.

 

Exemplos de sucesso

 

Hospital Moinhos de Vento

 

Com o início da pandemia no Brasil em março de 2020, o Hospital Moinhos de Vento ampliou o modelo de teleconsultas para um teleatendimento focado em doenças respiratórias e emocionais decorrentes da pandemia. Em pouco mais de 3 meses já foram realizadas quase 5.000 consultas, aliviando assim o atendimento nas emergências e deslocamentos desnecessários. Além disso, ampliamos o auxílio ao sistema único de saúde, através do PROADI-SUS, em teleconsultas com intensivistas pediátricos, intensivistas de adulto, cardiologistas e neurologistas - com possibilidade de expansão para outras especialidades em curto prazo.

 

Iniciamos uma pesquisa de satisfação da nossa telemedicina com aproximadamente 700 pacientes. Até o momento, a experiência da consulta à distância foi avaliada com nota 9,3/10. Já a duração da teleconsulta recebeu nota 9,33 e o NPS (Net Promoter Score), uma métrica de lealdade do cliente, é de 84, considerado um excelente número.

 

No exterior

 

Outro exemplo interessante aconteceu nos Estados Unidos (2). Na Carolina do Sul, 43 de seus 46 municípios são designados como áreas medicamente carentes, com escassez de médicos, alta mortalidade infantil e alta população idosa ou altas taxas de pobreza. Para lidar com essas disparidades no atendimento, um centro médico acadêmico na Carolina do Sul criou um modelo de atendimento especializado, usando a telemedicina em parceria com prestadores de cuidados primários em ambientes comunitários.

 

O financiamento inicial do modelo permitiu o desenvolvimento e a disseminação de tecnologia para fornecer teleconsultas remotas. Agora apoiado por financiamento estatal, fornece serviços muito necessários, incluindo psiquiatria, aconselhamento nutricional e várias subespecialidades cirúrgicas e médicas, para populações rurais e carentes do estado (2).

 

Esse desenvolvimento da telemedicina no estado da Carolina do Sul é destaque do artigo (2) publicado no Population Health Management. Os pesquisadores abordaram o potencial da telemedicina como uma tecnologia disruptiva, especialmente em locais que sofrem com escassez de especialistas. Além disso, o artigo (2) também apresenta dados que corroboram com alguns facilitadores da telemedicina citados anteriormente:

 

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Viagem e redução de custos para pacientes rurais tratados pelo teleatendimento desde o início do programa. Essa figura representa as economias de custos geradas para os pacientes e suas famílias. Cálculos com base em um total de 4087 consultas realizadas de setembro de 2012 a maio de 2018.

 

Mais do que nunca podemos aprender com a telemedicina na prática para ampliar o acesso à saúde de qualidade, principalmente com a presença digital em crescente expansão. Precisamos estar preparados para atender essa demanda de pacientes que estará pronta para nos ajudar a alavancar a telemedicina no Brasil.

 

O que você acha dos avanços da telemedicina? Acha que é possível enfrentar as barreiras e alavancar cada vez mais essa prática no setor da saúde? Conhece outros exemplos práticos? Convido você a refletir comigo nos comentários!

 

*Coordenador Médico de Saúde Digital do Hospital Moinhos de Vento

 

Referências Bibliográficas

 

1. Almathami HKY, Win KT, Vlahu-Gjorgievska E. Barriers and Facilitators That Influence Telemedicine-Based, Real-Time, Online Consultation at Patients' Homes: Systematic Literature Review. J Med Internet Res. 2020;22(2):e16407. Published 2020 Feb 20. doi:10.2196/16407

 

2. Lesher AP, Fakhry SM, DuBose-Morris R, et al. Development and Evolution of a Statewide Outpatient Consultation Service: Leveraging Telemedicine to Improve Access to Specialty Care. Popul Health Manag. 2020;23(1):20-28. doi:10.1089/pop.2018.0212

 

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