O crescimento exponencial nos casos de sífilis, doença sexualmente transmissível (DST), revelou um problema endêmico do Brasil: a falta de prevenção. Segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado no final do ano passado, o número de casos notificados foi de quase 230 mil entre 2010 e 2016, sendo 65.878 apenas em 2015. Esses dados são ainda mais preocupantes quando se fala de sífilis congênita, quando o bebê já nasce com a doença. Somente em 2015, foram notificadas mais de 19 mil ocorrências, uma taxa de incidência de 6,5 por 1.000 nascidos vivos. De acordo com a coordenadora do Serviço de Controle de Infecção do Hospital Moinhos de Vento, Denusa Wiltgen, a sífilis é causada pela bactéria TREPONEMA pallidum com potencial de causar problemas sérios à saúde. “Acredito que a população em geral passou muito tempo sem lembrar da sífilis. Se não tratada de forma efetiva, pode levar à infertilidade, a alterações neurológicas graves ou mesmo à morte. Além disso, a transmissão de sífilis durante a gestação é causa de sérias malformações no sistema nervoso dos bebês”, explica. A comunidade médica tem se preocupado com esses dados, principalmente pelo o que essas ocorrências representam. “O aumento de casos de sífilis é um indicador de que as pessoas não estão se protegendo adequadamente nas relações sexuais, em especial através do uso de preservativo, aumentando também o risco de transmissão de outras doenças como HIV, hepatite B e C, clamídia, gonorreia e HPV”, afirma o Dr. Paulo Ernesto Gewehr Filho, infectologista do Hospital Moinhos de Vento. “A população sexualmente ativa relaxou nos hábitos de prevenção e os números comprovam: está claro um comportamento de risco. E esse fenômeno não está restrito ao Brasil”, enfatiza a Dra. Denusa.
“Muitos adolescentes ainda não têm conhecimento suficiente e não estão prontos para a prática do sexo seguro e o entendimento das consequências relacionadas às situações de risco”.
São vários os fatores que contribuem para o aumento dos casos no país. Para o infectologista as novas gerações não têm a real dimensão de risco em relação às DSTs, devido ao avanço no tratamento, principalmente do HIV, como as gerações anteriores que viram muitas pessoas morrerem pela falta de tratamento. “Acontece que o HIV continua sendo uma doença sem cura, apesar de o tratamento controlar o vírus e possibilitar qualidade de vida ao paciente”, destaca. Mudança no comportamento sexual também é apontada como um dos fatores, como a diminuição da idade para o início da atividade sexual. “Muitos adolescentes ainda não têm conhecimento suficiente e não estão prontos para a prática do sexo seguro e o entendimento das consequências relacionadas às situações de risco”.

Diagnóstico e tratamento

Mudanças no sistema de saúde como a notificação obrigatória dos casos de sífilis e outras doenças também possibilitam enxergar os números na população. A campanha de testagem rápida para doenças sexualmente transmissíveis (sífilis, HIV, hepatite B e C) nos postos de saúde e a orientação para os profissionais discutirem a importância da realização desses exames nos pacientes também têm ajudado a diagnosticar e tratar precocemente pessoas que não sabiam que estavam infectadas. Assim, muitos casos estão sendo diagnosticados em virtude destas campanhas de realização de exames para o diagnóstico precoce. Uma informação relevante e que pode ter contribuído para o surto de sífilis foi o desabastecimento no Brasil e em outros países da penicilina, principal medicamento para o tratamento, contribuindo para a demora na cura dos pacientes com diagnóstico. “A penicilina é o primeiro antibiótico a ser produzido em escala comercial na história da humanidade. Contudo, por falta da matéria-prima para a produção em larga escala e também pelo surgimento cada vez mais frequente de cepas de bactérias resistentes, tratamentos alternativos têm sido utilizados, como a doxiciclina, ceftriaxone e azitromicina. Contudo, as opções à penicilina devem ser avaliadas caso a caso”, esclarece a Dra. Wiltgen.

Maior resistência

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um relatório informando que a sífilis, a clamídia e a gonorreia, estão ficando resistentes aos antibióticos responsáveis pela cura dessas patologias. Segundo o Dr. Paulo o uso inadequado de antibióticos, como a automedicação, o uso sem necessidade para doenças virais por exemplo e a interrupção do tratamento são alguns dos fatores que contribuem para o surgimento de bactérias multirresistentes. Diante deste contexto, a prevenção contra essas doenças é a melhor alternativa, apesar da dificuldade em passar essa informação. “Muitas pessoas ainda têm dúvidas de como podem se proteger contra as DSTs, apesar dos esforços de conscientização na mídia e da orientação dos profissionais de saúde. Após uma relação sexual sem proteção, é fundamental que se procure um Centro de Testagem e Aconselhamento em até 72 horas. Esses centros estão distribuídos por todo o país”, informa o infectologista. Em épocas festivas, como o carnaval, ambos especialistas fazem um alerta sobre o aumento do risco de infecção. “O consumo de álcool e outras drogas neste período costuma ser maior e as pessoas, sob efeito dessas substâncias, tendem a ignorar que toda a relação sem o uso de preservativo é um risco e que uma pessoa com um vírus sexualmente transmissível não dá sinais e nem sintomas”, finalizam.
Fontes: Dra. Denusa Wiltgen, infectologista (CRM: 25111) e Dr. Paulo Ernesto Gewehr Filho, infectologista e coordenador do Núcleo de Vacinas do Hospital Moinhos de Vento (CRM: 29512)

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