O Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento promoveu, na última quarta-feira (14/10), no Anfiteatro Schwester Hilda Sturm, o segundo encontro do ‘I Curso sobre Tratamento Integrado do Câncer de Mama’. O evento, direcionado ao público leigo, reuniu especialistas das áreas de mastologia, fisioterapia, psicologia, nutrição, anestesia, patologia e cirurgia plástica para abordar a temática em torno da cirurgia e da reconstrução mamária no tratamento do câncer. De acordo com o mastologista do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Ademar Bedin, a cirurgia é a principal arma no tratamento do câncer e nesse processo a presença de uma equipe multiprofissional é fundamental. O médico explica que a extensão da cirurgia vai depender de vários fatores como o tamanho do tumor, a proporção do nódulo em relação a mama da paciente e sua localização. De acordo com o especialista, o tratamento do câncer de mama evoluiu muito nos últimos anos. “Não faz muito tempo, quando surgia um tumor, se retirava a mama inteira, o músculo que ficava abaixo dela e os gânglios da região axilar” e a pele ficava ondulada sobre o gradeado costal, possibilitando distinguir com clareza a anatomia das costelas. Já hoje o cenário modificou bastante dentro do âmbito cirúrgico. Atualmente as cirurgias são menos agressivas porque os diagnósticos são cada vez mais precoces. A cirurgia conservadora da mama (quadrantectomia) é indicada para câncer de mama invasivo em estágio inicial. Se o tumor for pequeno se utiliza técnicas oncoplásticas para que o resultado estético não seja inadequado. O mastologista afirma que um dos fatores mais importantes para o tratamento do câncer de mama é a presença ou ausência de metástase nos linfonodos axilares. Na grade maioria dos casos, o câncer de mama se dissemina inicialmente para os linfonodos mais próximos. O estudo do linfonodo sentinela é uma técnica que permite o estadiamento linfonodal mais acurado, sem a morbidade de uma linfadenectomia radical. A biopsia do linfonodo sentinela é um procedimento que conserva a anatomia axilar e que depende da colaboração da equipe de medicina nuclear, da equipe cirúrgica e da equipe de patologistas.  

Aliada na reabilitação

A fisioterapia atua em todo o tratamento do câncer de mama buscando a qualidade de vida. “O trabalho começa no pré-operatório para detectar eventuais problemas anteriores e possibilitar que a paciente retome suas atividades diárias com mais segurança e disposição depois da cirurgia”, diz a fisioterapeuta do Núcleo Mama, Alessandra Tessaro. Segundo ela, o acompanhamento, que é vital nessa trajetória, tem como objetivo preservar, manter e restaurar a integridade cinético-funcional de órgãos e sistemas. No pós-operatório imediato é dado enfoque nas complicações respiratórias, circulatórias e motoras. Já no tardio, busca-se evitar limitações de movimentos, linfedema e aderência cicatricial. “A dor é uma queixa frequente da paciente, devendo ser controlada e tratada em todas as etapas da doença”, conclui a Dra. Alessandra.  

Entendimento da doença

Para a psicóloga Lucy Bonazzi, o caminho do diagnóstico, do tratamento e da reconstrução é uma trajetória cheia de expectativas que vem acompanhada de sentimentos como angustia, ansiedade e tristeza. “Para cada mulher a mama tem uma significação na qual predominam questões como sexualidade, maternidade e feminilidade”, diz. No pré-cirúrgico há uma expectativa muito grande que vem acompanhada de uma sensação de estranhamento, um anestesiamento emocional e uma oscilação que vai da ansiedade à tristeza, pois predomina o agir. A especialista observa que são muitas as decisões e providências a serem tomadas com os filhos, com a rotina e o trabalho. A terapeuta explica que a paciente desenvolve mecanismos de enfrentamento e não se permite externar muito os sentimentos. “São momentos de escoamento, que podem vir em forma de choro no pós-cirúrgico com mais intensidade”, ressalta. No pós-cirúrgico a realidade da perda da mama vem acompanhada de uma sensação de alivio, advinda da retirada do tumor (que não está mais no seu corpo). “Nessa fase predomina o sentir na recuperação, mas tem a ansiedade do que está por vir”, diz. Ela acrescenta que é um momento diferente porque a paciente tem um contato com as limitações do corpo e com o desconforto. “Com isso pode ficar mais quieta e o agir fica em segundo plano”.  

Avaliação clínica e sistêmica

Para que a paciente esteja apta a se operar, ela precisa passar por uma avaliação clínica feita por diferentes profissionais. A anestesia é um processo no qual se usa drogas e sedativos para que seja possível uma abordagem cirúrgica com menos morbidade à paciente, avalia o anestesista do grupo Alfa, Dr. Renato Antoniazzi. Por isso, o médico relata que todas as pacientes atendidas pelo Núcleo da Mama passam por uma avaliação com ele antes da cirurgia. O cirurgião plástico do Núcleo Mama, Dr. Rafael Neto, também compartilha a opinião de que o olhar da equipe multiprofissional determina a melhor conduta médica a ser adotada. Existe uma série de passos a serem seguidos desde o rastreamento, diagnóstico, estadiamento, tratamento cirúrgico e as terapias (coadjuvantes) necessárias. O cirurgião vai entrar principalmente em dois pontos: na reabilitação e na reintegração social. O Dr. Neto destaca que para fechar esse círculo completo de tratamento essas duas coisas não podem ser esquecidas. E justamente esse o papel da cirurgia plástica. “Atualmente, não se admite mais cirurgias de tratamento de câncer que gerem mutilações sem que a gente possa atenuar essa situação através da reconstrução. É por isso que os profissionais precisam trabalhar de forma integrada. Certamente a paciente vai estar bem tratada nesse contexto”, afirma. O cirurgião plástico ressalta que o tratamento oncológico e a reconstrução podem ocorrer logo após a retirada do tumor. Lembra, no entanto, que por outro lado, não é errado fazer uma reconstrução posterior. “Às vezes a cirurgia inicial é muito agressiva, as condições da paciente não são boas e podem ser postergadas quando tem indicação. É preciso se adaptar ao paciente e a terapêutica”, conclui.  

Entendendo as mutações

Dra. Carolina Hartmann, médica do Instituto de Patologia, falou sobre o papel do patologista e os métodos diagnósticos utilizados na detecção e análise dos tumores. Ela detalhou que uma célula normal sofre mutações que podem ser suficientes para se transformar numa célula maligna. A classificação desses tumores se constitui em tumores in situ (aqueles que não invadiram) e os tumores invasores (na maioria ductais e lobulares). Essas células podem ser vistas por microscopia. Os exames transoperatórios também são realizados pelos médicos, que avaliam o linfonodo sentinela e as margens cirúrgicas. O linfonodo sentinela é o primeiro linfonodo pra o qual se estende a drenagem linfática de um tumor. O patologista avalia esse linfonodo e estabelece se há ou não comprometimento. A presença de células malignas nesse linfonodo vai definir a extensão da cirurgia e o viés do tratamento.  

Nutrição e prevenção do câncer de mama

Existem vários estudos que associam as doenças a alguns hábitos de vida. O câncer de mama entra nessa classificação de doença crônica não transmissível e é influenciado por hábitos de vida, que são principalmente o uso do fumo, o consumo de bebida alcóolica e o excesso alimentar. A nutricionista Paloma Tusset do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento alerta que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Associação Americana de Dietética em Câncer recomendam pelo menos duas horas e meia de exercícios físicos por semana para prevenção e tratamento de câncer de mama. Segundo Paloma, o estado nutricional incrementa em 30% os fatores de risco para o desenvolvimento de câncer em países industrializados. “Isso significa que cerca de 28% dos casos seriam preveníveis se as pessoas tivessem uma alimentação mais adequada”, afirma. Já no câncer de mama pós-menopausa, fatores como excesso de peso corporal e inatividade física representam de um quinto a um terço dos fatores de risco – o que aumenta a possibilidade de desenvolver tumores, principalmente, para o câncer de mama receptor hormonal positivo. O excesso de gordura na região abdominal estimula a produção de hormônios estrogênios por meio de uma enzima chamada aromatose e faz com que aumente as taxas circulantes desse hormônio no corpo. Desse modo o excesso de gordura abdominal é um fator de risco, principalmente para o câncer de mama receptor hormonal positivo – bastante incidente em nossa sociedade. Estudos mais recentes mostram que para as pacientes que tiveram câncer de mama triplo negativo tem aumento do risco de recidivas com o aumento do IMC. Manter o peso saudável pode diminuir em até 50% o risco de reincidência de um câncer de mama.

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Prêmios e Certificações

Entrada 1 - Rua Ramiro Barcelos, 910 - Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, 90035-000
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Av. João Wallig, 1800 - 3º andar - Shopping Iguatemi Porto Alegre
Avenida Cristóvão Colombo, 545 - Espaço Comercial P5-1