Simbolicamente, março é considerado o “Mês da Mulher”. Pensando nisso, o blog Saúde e Você entrevistou a Dra. Maira Caleffi, chefe do Núcleo Mama, do Hospital Moinhos de Vento. Entretanto, dessa vez não vamos falar sobre a importância do diagnóstico precoce do câncer de mama.

Esta entrevista especial teve como propósito elencar dicas de vida elaboradas por uma médica mastologista extremamente respeitada na área da Saúde e com reconhecimento global. Dra. Maira Caleffi também é fundadora de duas instituições filantrópicas (IMAMA e Femama), do IGCC - Instituto de Governança e Controle do Câncer e do próprio Núcleo Mama do Moinhos. Mas, segundo ela, seus melhores projetos de vida são seus filhos: Thomas, de 36 anos, e Nina, de 32.

De forma muito franca, a especialista fez ponderações e deu orientações práticas, com base em sua própria trajetória pessoal e profissional. Acompanhe, abaixo:

Conselhos do patriarca

“Lembro muito dos conselhos do meu pai, que não teve as chances que ele próprio deu aos filhos, de se formar em uma faculdade e ter uma carreira para a vida que fosse compatível com o “jeitinho e habilidades” de cada um, como ele mesmo dizia! Mas, para isso, ele encorajava a estudar muito e se interessar pelo maior número de assuntos para poder escolher e se dedicar a uma profissão de verdade”, recorda.

A vida como ela é

“Para meus sobrinhos e filhos, pois ainda não tenho netos, eu diria que as crianças precisam de muita natureza. Devem aproveitar cada minuto ao ar livre quando não estão na escola ou fazendo suas tarefas diárias, para entrar em contato com a vida como ela é”, salienta.

Bolhas e telas

“Percebo que, em geral, as crianças estão vivendo em bolhas e convivendo muito com adultos. Mas elas necessitam, na medida do possível, estar com outras crianças - até de idades variadas - para aprenderem a se adaptar, se defender, ser mais confiantes e a desenvolverem a sensação de pertencimento. Essas situações são difíceis hoje em dia, pois é bem mais comum elas ficarem sozinhas, diante de telas, e sendo desafiadas o tempo todo a ‘passar de fase’!”, avalia Dra. Maira Caleffi.

Adolescentes eram adolescentes 

“No tempo da minha adolescência tanta vaidade e vontade de ‘parecer mais mulher’ não eram tão comuns, quanto atualmente. Passear, ‘ficar’ (de mãos dadas e dar beijinhos) ou sentir um ‘friozinho na barriga’ junto ao namoradinho já era bem bom. Melhor ainda era sair com as amigas e rir muito. Aliás, até hoje conservo muitas dessas amizades. Junto a isso, vinha toda a responsabilidade de cuidar mais do corpo, da menstruação, da pele, além da necessidade de comer e dormir bem!”, observa.

Disciplina esportiva

“Algo que sempre deve ser incentivado, seja na infância, adolescência ou até na fase adulta jovem, é a prática de esportes coletivos e, de preferência, competitivos! No meu caso, foi o ballet desde cedo que me ensinou a disciplina com o corpo, com os ensaios e com o fato de poder errar sem medo, mas sempre tentar fazer o melhor”, enfatiza a médica. 

Amigo para todas as horas

“Sempre gostei de participar de competições (como de ginástica, vôlei, etc) no grupo da escola. Nunca foi meu forte, mas também tentei praticar violão e cantar no coral. Até hoje me arrependo por não ter insistido em aprender a tocar algum instrumento, agora, na fase adulta, seria uma espécie de companhia e faz muita falta”, complementa.

Estudos e vocação

“Eu sempre me dediquei muito ao que eu gostava de fazer e estudar foi o que ficou, de fato, na minha vida para sempre.” Dra. Maira Caleffi se formou em Farmácia, pois amava passar tempo em laboratórios, e em Medicina, que descobriu como a sua verdadeira vocação, quase ao mesmo tempo.

Gostar de cuidar

“Como eu venho de uma família de muitos irmãos, primos e agregados, sempre fui vista como uma pessoa responsável e que poderia cuidar dos outros. Deste modo, para quem tem jeito com pessoas e gosta de cuidar, a Medicina é um caminho cheio de possibilidades, mas exige muita disciplina, estudo e dedicação para com os outros! Praticar a generosidade com os outros e consigo é fundamental nessa carreira. Algumas dessas características eu carrego desde sempre”, admite. Assim, foi natural optar pelo ramo da Ginecologia, cuidar de mulheres. Posteriormente, foi estudar Endocrinologia  Feminina. E, por fim, a Mastologia, sua grande paixão, que surgiu de uma excelente oportunidade de estudos de especialização e doutorado na Inglaterra.

Mente e corpo

“Hoje em dia, sabemos que uma vida saudável para evitar doenças compreende cuidar da mente e do corpo. Muitos dos bons hábitos adquiridos antes da fase adulta podem ajudar-nos a sermos melhores pessoas e profissionais, comprometidos com o que gostamos de fazer! No meu caso, às vezes tenho que cuidar para não trabalhar demais, pois me sinto muito grata por ter seguido a profissão de médica”, confessa.

Cada escolha, uma renúncia

“As mulheres passam por várias fases, onde têm que fazer opções duras. Comigo, não foi diferente. Com 25/30 anos eu sabia o tipo de médica dedicada que eu queria ser, mas ainda não sabia a mãe que eu seria. E não foi fácil abrir esse espaço em uma vida tão cheia de desafios, para construir a minha formação profissional”, garante a chefe do Núcleo Mama. “E foi sempre assim e ainda é assim: temos que fazer escolhas, às vezes difíceis, o tempo todo “. 

Preparação para as épocas ruins

“Hoje, posso dizer que faria tudo de novo; apesar das fases muito desafiadoras que vivi. Iniciei a vida profissional no Brasil, após muitos anos de estudo no exterior, com filhos pequenos, e conciliei com pós-graduações. Enfim, valeu todo o esforço, mas a gente tem que se preparar e fazer o melhor que consegue. Aliás, algumas vezes, a gente não consegue, aí vem a questão de sermos generosos conosco e admitir quando portas se fecham”, reconhece.

Não pule nenhuma fase

“De qualquer forma, não tenho 5 ou 7 dicas para as mulheres de como viver bem. O importante é viver cada etapa, plenamente. Sem querer ‘pular de fase’. Portanto, dê tempo ao tempo, pois tudo acontece na hora certa. Não dê tanta atenção ao que os outros pensam ou dizem. Respeite o seu momento e olhe no espelho, você é sua melhor amiga”, aconselha.

Fonte: Dra. Maira Caleffi (CRM RS 11827) é médica mastologista e chefe do Núcleo Mama do Hospital Moinhos de Vento. Fundou e preside, voluntariamente, a Femama - Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama. Também estabeleceu e hoje é presidente de honra do IMAMA - Instituto da Mama do RS. Além disso, atua como presidente do Conselho de Diretores do IGCC - Instituto de Governança e Controle do Câncer e faz parte do “Board Internacional” da União Internacional de Controle do Câncer (UICC), em Genebra, na Suíça.