A pandemia do novo coronavírus mudou estruturalmente a sociedade de uma forma tão abrupta que ninguém teve tempo hábil para se preparar ou se adaptar a todas as mudanças que nos foram exigidas, de maneira que começamos a voltar nossa atenção não só para a saúde pública, mas também para a saúde mental. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a mera ausência de doença ou enfermidade. Em outras palavras, ela é um estado de bem-estar no qual um indivíduo pode expressar e desenvolver suas próprias habilidades, sabendo lidar com as tensões normais da vida, sendo capaz de trabalhar de forma produtiva e fazer contribuições à sua comunidade. Tendo em vista o atual contexto social, a Dra Lorena Caleffi, psiquiatra do Serviço de Psiquiatria do Hospital Moinhos de Vento, conversou conosco, salientando alguns aspectos sobre o que está acontecendo em termos de saúde mental, e o que nos espera em uma realidade pós-pandemia. Confira abaixo.

Contextos pandêmicos afetam pessoas em diferentes níveis

De acordo com pesquisas sobre os efeitos de pandemias anteriores (SARS, MERS, H1N1), verifica-se que pessoas com quadros depressivos ou ansiedade, tiveram mais chances de apresentar sintomas e necessitar tratamento no decorrer dos eventos pandêmicos. Já para o futuro, o assunto possibilita apenas levantar hipóteses de como seria um período pós-pandêmico: Um delas diz respeito ao bem-estar sentido à medida em que a “ordem” se reinstala e baseia-se na característica humana de se sentir aliviado com o retorno da rotina como conhecida. Por mais enfadonha que ela seja, a rotina cumpre um papel de organizador interno, diminuindo, assim, a ansiedade com sua previsibilidade. Desta forma, não se espera grandes mudanças sociais: teremos a mesma hierarquia, a mesma distribuição desigual de renda, a mesma (des) organização social e etc. No entanto, a previsão é de que haja um efeito temporário de “contra isolamento”, onde as pessoas se permitirão fazer tudo que desejavam e não podiam durante o distanciamento social. A outra hipótese é a possibilidade de passarmos a compreender a interrelação que existe entre as diferentes formas de vida. Essa compreensão pode ajudar a decidir como queremos existir no mundo, não só como sociedade, mas como indivíduos, donos do seu “eu” e com autonomia em sua própria, única e incomparável vida, até onde inicia a vida do outro.

Lidando com as frustrações do período e a saúde emocional

Um conceito importante para pensarmos sobre a maneira de encarar períodos de maior estresse na vida, é o conceito de “eu”. Na psicanálise, o Eu é a relação do indivíduo com a realidade (o que define a sua personalidade), e exerce um equilíbrio conciliador entre impulsos e desejos versus expectativas realistas baseadas na ética e valores pessoais. A frustração, então, surge quando um desejo ou impulso não é atendido – nesse caso representado pela “falta de liberdade” que a pandemia nos impõe. A mudança do estado de frustração para o estado de compreensão da realidade posta só vai acontecer com a nossa vontade de superar esse sentimento. Na psiquiatria, esse movimento chama-se volição – que é o ato de decidir praticar uma ação em particular. Estão incluídos neste grupo de “superações”: nossos sentimentos, nossas emoções e afetos, bem como nosso modo de entender a vida, que dependem apenas de nós mesmos, e têm origem em nosso “eu”. Conseguir postergar a satisfação de um desejo faz parte do crescimento e amadurecimento do ser humano. E só conseguirá ter seus desejos satisfeitos, quem sair dessa pandemia vivo, uma vez que há risco de vida.

A ansiedade na pandemia

É muito importante diferenciar o sentir-se ansioso do ter uma crise de ansiedade. Sentir-se ansioso frente às possibilidades de contágio, principalmente quando se exerce função de risco, é um sentimento normal, cuja ansiedade será adaptativa quando for utilizada para colocar em prática cuidados de proteção, seja física ou mental. É como um sinal de alerta de proteção à própria vida que passa a partir do momento que nos sentimos seguros. Já uma crise de ansiedade se caracteriza pelo sentimento exacerbado de ansiedade, associado a sintomas orgânicos, como falta de ar, tremor, alterações intestinais, sensação de formigamento, dor no peito, entre outros. Tal situação precisa de tratamento psiquiátrico. Os demais sentimentos, e todos eles, são normais e ocorrem em alternância ou em paralelo, sendo vinculados a estímulos internos ou externos. O problema é quando apenas um sentimento toma conta, em proporções exageradas ou inadequadas à situação. Ou seja, sentir-se ansioso o tempo todo, sentir-se triste o tempo todo, independente do contexto. Nesse caso, vale uma busca por ajuda com especialistas para lidar com essa situação da maneira mais saudável possível. Isso vale para este período de pandemia, mas também para outros momentos da vida.

Pandemia, saúde mental e atendimento virtual

Para muitos profissionais, o atendimento virtual é considerado como uma ferramenta a mais no contato com os pacientes. Na realidade, a telemedicina como conhecemos agora é uma evolução dos serviços de saúde, que já estavam em discussão, e foi acelerada pela pandemia. Como consequência disso, a expectativa é de que diminua a resistência da população em buscar ajuda psiquiátrica quando necessário. No entanto, a modalidade, apesar de adequada, não substituirá o contato presencial, uma vez que nem todas as pessoas possuem internet de qualidade, ou se sentem à vontade nesse sistema ou, ainda, têm privacidade para uma consulta em sua casa ou trabalho. Além disso, o atendimento online exige do profissional um tipo de atenção diferente daquela necessária em consultório, pois neste contexto várias nuances da comunicação não-verbal são perdidas. Como tudo na vida, a pandemia e o consequente isolamento social têm aspectos positivos e negativos em várias vertentes da nossa vida, incluindo a emocional. Para melhor experienciar o período caótico que estamos passando, podemos optar por focar em aspectos positivos – que são os aprendizados cognitivos, os afetivos e os de relacionamento interpessoal – e assim fortalecer nossa saúde mental. Fonte: Dra. Lorena Caleffi, Psiquiatra do Hospital Moinhos de Vento

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Prêmios e Certificações

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