A última edição do I Curso Sobre Tratamento Integrado do Câncer de Mama do Hospital Moinhos de Vento, reuniu especialistas de várias áreas para trazer as novidades e relatos da reabilitação pós-tratamento de câncer de mama. O evento é uma iniciativa do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, chefiado pela Dra. Maira Caleffi, que também preside o Femama e o Imama. O evento teve como objetivo central trazer para o público leigo informação contextualizada e mostrar a importância do atendimento integrado do câncer de mama, que acelera a recuperação e amplia a qualidade de vida das pacientes. O mastologista do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Hélio Scapin, acredita que a grande missão do segmento pós-tratamento é ouvir as pacientes, considerar todas as possíveis queixas, esclarecer as dúvidas e por fim dar informações necessárias para que a paciente retome a sua vida normal ou mais próxima possível do habitual. Ele explica que o protocolo de seguimento usado por todos os profissionais do Núcleo Mama Moinhos está de acordo com os padrões mundiais de consultas periódicas a cada três meses até o terceiro ano do tratamento, semestralmente, ate o quinto ano de tratamento e anualmente após o sexto ano. Além disso, se preconiza que o acompanhamento ginecológico pélvico deve ser anual. É importante que o médico fique de olho na sintomatologia pélvica, em alguma queixa de sangramento e disfunção pélvica. As queixas devem ser associadas à medicação que está sendo utilizada e aos efeitos colaterais. O Dr. Hélio salienta a importância da realização de outros exames como a cintilografia óssea (a cada dois anos) em pacientes que apresentam alto risco para metástases ósseas. “O objetivo de todos os exames é fazer um rastreio da doença metastática, rescindivas ou um novo tumor na outra mama”, destaca. Ele lembra que os genes não podem ser modificados, dada a importância de continuar a investigação e o acompanhamento. A médica do Serviço de Oncologia do Hospital Moinhos de Vento, Dra. Geraldine Eltz de Lima, abordou os principais efeitos adversos do tratamento a longo prazo que podem se estender por mais tempo. Os efeitos a curto prazo são diversos e podem variar de intensidade em relação ao trato gastrointestinal (vômitos e enjoos), neurológico (neuropatia e fraqueza, insônia e alteração do humor), pele/mucosas (pele seca, queda de cabelo, manchas na pele e alteração das unhas), trato genital (mudança ciclo menstrual) e sintomas adrenais (alteração do peso e no sangue). A oncologista diz que esses efeitos colaterais dependem de muito do protocolo de quimioterapia que vai ser utilizado, dos tipos de drogas ministradas, da frequência de aplicação dessa quimioterapia, do tempo de tratamento e das doenças prévias de cada paciente, como o diabetes e problemas cardíacos.  

Emocional pós-reabilitação

A psicóloga do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento, Lucy Bonazzi, aborda o quanto o tratamento oncológico impacta no estado emocional, e por sua vez o estado emocional influencia na questão física, – o que evidencia a importância de um acompanhamento psicológico. “É um processo de elaboração de luto, inclusive da família, que vivencia toda essa fase junto com a paciente até a fase de reabilitação”, diz. Ela acrescenta também algumas sensações mais frequentes como o alivio pelo término do tratamento, as preocupações por estar desprotegida em por não ter mais o aparato da equipe multiprofissional de forma sistemática e a dificuldade de confiar no próprio corpo, visto que o câncer de mama normalmente não apresenta sintomas claros.  

Orientação nutricional

A nutricionista Maria Beatriz Moser realiza um trabalho de orientação nutricional no Imama para grupos de pacientes que estão em tratamento ou já passaram por todas as etapas. Segundo ela, não existe uma causa única para o câncer, mas um conjunto de ações sendo feitas para melhorar o estado geral da paciente. Com isso o corpo responde de uma forma melhor. Ela chama atenção para a questão da má alimentação que só piorou nos últimos 60 anos e na toxidade dos alimentos. Saúde é um conjunto de ações que se faz através da alimentação, com o meu corpo físico e emocional. “Está comprovado cientificamente que a longevidade também é determinada pelo estilo de vida. A parte genética responde somente por 17% e a tecnologia de exames e medicamentos ajuda em 10%”, ressalta.  

Cirurgia plástica

O cirurgião plástico do Núcleo da Mama do Hospital Moinhos de Vento, Dr. Leo Doncatto, falou da chegada da paciente no seu consultório com indicação para a reconstrução da mama. “No primeiro contato já é possível ver o grau de ansiedade, de segurança (estrutura pessoal), de suporte familiar e como ela construiu a vida dela até aquele momento”, destaca. Muitas vezes as pacientes procuram o médico em função da plástica, mas a preocupação do profissional é mostrar que há uma luz no fim do túnel, e que se ela tiver paciência em se reestruturar como pessoa ela irá poder conviver com as dificuldades que terá que enfrentar pela frente. Isso envolve não querer ter o corpo de outra pessoa e sim dentro da sua própria realidade. Porque se a expectativa da paciente estiver fora do convencional e do que é possível, o médico pode fazer o melhor que puder, mas a paciente vai sempre se frustrar. Ele lembra às pacientes que irão passar por uma reconstrução de mama, que precisam adquirir ao logo do tratamento paciência, esperança e confiar na equipe que está acompanhando. O resto, diz ele, a natureza se encarrega.  

O sexo depois do câncer

A ginecologista e sexóloga Sandra Scalco, coordenadora do Ambulatório de Sexologia do Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, que atua há mais de 20 anos na área da sexualidade, falou sobre as razões pelas quais as mulheres sofrem tanta repressão quando se fala de sexo e o impacto disso quando ela descobre que tem câncer. Nesse período, a atividade sexual sofrerá um grande impacto. O paciente se preocupa mais com a sua própria saúde, exames, medicamentos, cirurgia, radioterapia e quimioterapia do que com a sua vida sexual. A médica explica que o desejo sexual tende a diminuir ou desaparecer. A atividade sexual para muitas pessoas fica esquecida quando existem outras preocupações na cabeça. No caso específico de pacientes com câncer, a sexualidade passa quase que naturalmente a um segundo plano. Muitos indivíduos começam a se ver sem autoestima, tristes e com medo de não corresponder mais as expectativas do parceiro. ”Passar por todo o impacto do tratamento, as transformações orgânicas e ainda ter que lidar com a sexualidade não é uma tarefa fácil”, destaca. A médica explica que se essa paciente tem uma memória positiva em relação ao sexo, ou seja, se a paciente tinha uma frequência sexual satisfatória e boa comunicação com o parceiro, e isso se modificou, ela conseguirá ultrapassar esse período mais facilmente com o apoio emocional.  

Principais lutas

A Dra. Maira Caleffi, chefe do Serviço de Mastologista do Hospital Moinhos de Vento, presidente do Instituto da Mama do RS (Imama) e da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Imama) trouxe em sua abordagem as conquistas e a luta que sempre travou em prol da prevenção e do tratamento das pacientes com câncer de mama. A mastologista conta que o projeto começou em 1993, com uma organização – que é uma associação de pessoas com interesse em comum. Paralelamente ao trabalho como médica mastologista, Dra. Maira desenvolveu uma cultura de voluntariado na qual os profissionais e pacientes discutem as questões do câncer de mama. “Com isso, conseguimos aumentar muito a visibilidade da doença e conscientizar bastante as gaúchas sobre a gravidade do câncer de mama. Nunca é o suficiente, mas há 20 anos não se falava quase sobre isso. O câncer de mama era tido como “a doença do silêncio”, explica. A médica foi uma das responsáveis pela Lei 12.732/12, conhecida como Lei dos 60 dias. Em vigência desde 2013, esta lei garante aos pacientes de câncer o direito de iniciarem o tratamento da doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em, no máximo, 60 dias após o diagnóstico. Para a presidente do Imama, a lei não está sendo plenamente cumprida. Ela diz que os entraves são muitos e vão desde a falta de conscientização das próprias mulheres em relação à doença até os problemas do SUS e dos planos de saúde. Dificuldade de acesso, falta de equipe multiprofissional e demora na introdução de novas drogas pelo SUS e judicialização de casos para se obter tratamento. “A importância da lei dos 60 dias também diz respeito justamente à rapidez do diagnóstico. Asseguramos que o tratamento seja instituído em 60 dias a partir do diagnostico. Mas quanto tempo uma paciente leva para que um nódulo mamário seja diagnosticado como maligno, e a partir daí contar os 60 dias? Quanto mais tardio ele for diagnosticado, menor será a chance de cura da paciente”, explica. Uma das grandes lutas travadas pela Dra. Maira por meio das diversas campanhas que promove é a conscientização das mulheres. Hoje as mulheres perderam mais o medo e procuram o diagnóstico mais rápido. Com isso houve uma mudança de comportamento. Há 20 anos, Dra Maira relata que isso não ocorria e o câncer de mama estava ligado à morte e à mutilação. Ela reforça dizendo que o diagnóstico precoce é fundamental. Isso porque o câncer de mama metastático pode surgir em decorrência da evolução de um câncer de mama detectado e tratado em estágio anterior ou em função do diagnóstico tardio da doença. A realização anual da mamografia para mulheres a partir de 40 anos é importante para que o câncer seja diagnosticado precocemente, e é acima de tudo, um direito assegurado por lei no Brasil.
Fonte: Dra. Maira Caleffi – Chefe do Serviço do Núcleo Mama Moinhos

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