Personagem da campanha Outubro Rosa conta como está sendo passar pelo câncer de mama

Graça Taffarel, ao completar 52 anos, percebeu que aquela alergia, coceira e secreção no seio não faziam parte do seu corpo e foi consultar um mastologista. “Convivi alguns meses com estes sintomas e o tratamento tópico para aquele primeiro diagnóstico de alergia não surtiu efeito. Foi então que decidi ir atrás do diagnóstico que fosse. ‘Me toquei’ de que precisava agir e buscar um especialista, ainda que no meu autoexame e na minha rotina anual com mamografia não acusasse nada”, explica. A consciência com relação à urgência do diagnóstico precoce do câncer de mama ganhou uma dimensão social significativa. Hoje, o autoexame e o acompanhamento anual, realizado com a mamografia, são amplamente divulgados, no entanto o estigma do diagnóstico de um câncer ainda é muito forte. Quem não soube ou sabe de algum caso próximo? Graça teve uma tia e uma cunhada que passaram por um câncer de mama e, dias antes de fazer aniversário estava com o resultado em mãos. “Foi bombástico, foi sim arrebatador. Mas optei olhar pra isso como um grande obstáculo a transpor. Então pensei: não posso jogar contra mim, vou encarar isso como encaro as dificuldades pelas quais já passei e pelas quais ainda vou passar”.
Então pensei: não posso jogar contra mim, vou encarar isso como encaro as dificuldades pelas quais já passei e pelas quais ainda vou passar”.
A formação em psicologia contribui muito para a maneira como Graça optou olhar para o seu diagnóstico. Ela reconhece as limitações e a complexidade humana, sabia que não seria fácil. “O sentido que dou para vida revela como interpreto os fatos e as relações, a escolha pela formação em psicologia vai ao encontro disso. Sinto-me, de certa forma, privilegiada por vivenciar os acontecimentos da minha história com uma boa dose de disposição. Mas tenho certeza de que não é fácil e que pode ser muito mais difícil ainda para as pessoas que amo”. Graça se referia ao seu marido, Roberto Krieger Junior, com quem é casada há 33 anos e aos três filhos: Rodrigo, Pedro e Bruna. Em 4 de junho deste ano, alguns dias após receber o diagnóstico, Graça convidou familiares e amigos para comemorar seu aniversário e revelar o que estava passando. “Reunir familiares e amigos para comemorar o meu aniversário e compartilhar a notícia me deu forças para dar o próximo passo. Ganhei de presente da vida uma oportunidade para me reinventar. Eu sabia que dividir com todos seria essencial para enfrentar a situação. E foi incrível ver como cada um reagiu, como cada um viveu isso comigo. Respeitar essa diversidade foi um aprendizado”.
“Compartilhar também foi uma maneira de dialogar com eles sobre os meus medos, as minhas expectativas, tristezas e frustrações.”
Graça relata que criar um território de transparência e de confiança a aproximou ainda mais de todos a sua volta e facilitou para que a rede de cuidados fosse criada sem sobrecarregar ninguém e dar oportunidade para que todos auxiliassem de acordo com suas possibilidades. “Compartilhar também foi uma maneira de dialogar com eles sobre os meus medos, as minhas expectativas, tristezas e frustrações. Dividir foi um jeito de projetar uma estrutura física para que eu pudesse seguir na minha jornada assim que eu me recuperasse (sim, sempre acreditei nisso!) e criar uma espaço de apoio, compreensão, respeito e solidariedade mútua entre mim e as pessoas que me cercam. Não privei ninguém de viver isso comigo. Foi uma escolha consciente”. Das alegrias e tristezas que o câncer permitiu que Graça vivenciasse até aqui, dois casos foram emblemáticos. A alegria veio da realização ao ver o efeito da sua história no ambiente acadêmico, lugar onde Graça leciona e contribui para a formação de futuros psicólogos. “Recebi uma mensagem de um aluno em que dizia que a maior lição que ele havia assimilado até aquele momento tinha sido ver a maneira como eu estava enfrentando a doença. Foi gratificante ver a vida dando forma ao que tanto analisamos na academia. Com meus alunos também fui transparente e abri o jogo sobre o que estava acontecendo. Nossa relação ficou mais viva, mais intensa”. Das tristezas, Graça relata que o que mais doeu durante o processo foi ver uma menina de apenas 24 anos, com toda a sua história a ser contada e a ser vivida, sem acesso ao diagnóstico imediato, sem acesso à estrutura profissional competente e à celeridade em todas as etapas. “Ainda há muito a ser feito em termos de políticas públicas e acesso. Sei que muitas mulheres estão cada vez mais se tocando, ampliando a consciência com relação aos sintomas e à doença, porém é triste ver que os recursos ainda são muito escassos. Nesse sentido a luta está apenas começando. Para além do momento em que eu estava vivendo, meu sentimento de compaixão aflorou diante dela”. Graça sabe que, tão significativo quanto ter um posicionamento ativo diante do diagnóstico, da cirurgia de retirada de um dos seios e posterior cirurgia reconstrutiva, foi fundamental ter segurança e confiança na equipe médica que a atendeu. Sob os cuidados da equipe multidisciplinar coordenada pela Dra. Maira Caleffi, Chefe do Serviço de Mastologia do Hospital Moinhos de Vento, ela pôde estar em um ambiente acolhedor, de cuidado mútuo e integral, onde o senso de comunidade é muito forte. “Todos ali estão conectados e em sintonia uns com os outros. Nada se faz sozinho”. Após a retirada do seio, Graça fez a reconstrução e está vivendo a valorização do próprio corpo. “Pude optar por não ter marcas, afinal já carrego dentro de mim as que suporto carregar. Não quero esquecer o que estou vivendo, pois é através disto que posso rever padrões e preconceitos, me tornar uma pessoa melhor e, sobretudo, refletir sobre a finitude e lidar com ela de forma tão próxima. Desejo viver bem com a minha feminilidade, com o que considero como sendo belo. Nesse sentido, mais uma vez, me deparo comigo mesma e entendo que não posso jogar contra mim, contra o que considero positivo para a minha existência e para os meus limites. Assim me mantenho alerta em todos os sentidos”.

Vídeo da campanha

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Prêmios e Certificações

Entrada 1 - Rua Ramiro Barcelos, 910 - Moinhos de Vento, Porto Alegre - RS, 90035-000
Entrada 2 - Rua Tiradentes, 333
Av. João Wallig, 1800 - 3º andar - Shopping Iguatemi Porto Alegre
Avenida Cristóvão Colombo, 545 - Espaço Comercial P5-1